“Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus” (Mateus 5.3)
Comentário Bíblico / Produzido por Projeto Teologia do TrabalhoOs “pobres em espírito” são aqueles que se lançam na graça de Deus.[1] Reconhecemos pessoalmente nossa falência espiritual diante de Deus. É o publicano no templo, batendo no peito e dizendo “Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador” (Lucas 18.13). É uma confissão honesta de que somos pecadores e totalmente destituídos das virtudes morais necessárias para agradar a Deus. É o oposto da arrogância. Em sua forma mais profunda, reconhece nossa necessidade desesperada de Deus. Jesus está declarando que é uma bênção admitir que carecemos de ser cheios da graça de Deus.
Assim, logo no início do Sermão do Monte aprendemos que não temos em nós mesmos os recursos espirituais necessários para colocar os ensinamentos de Jesus em prática. Não podemos cumprir o chamado de Deus por nossos próprios meios. Bem-aventurados são aqueles que percebem que são espiritualmente falidos, pois essa percepção os leva até Deus, sem o qual não podemos cumprir aquilo que fomos criados para ser e fazer. A maior parte do restante do sermão arranca de nós a ilusão de que somos capazes de conquistar um estado de bênção por nossas próprias forças. O objetivo é produzir em nós uma genuína pobreza de espírito.
Qual é o resultado prático dessa bênção? Se somos pobres em espírito, então temos a capacidade de produzir uma avaliação honesta de nós mesmos em relação ao nosso trabalho. Não inflamos nosso currículo nem nos vangloriamos de nossa posição. Sabemos quão difícil é trabalhar com pessoas que não conseguem aprender, crescer ou aceitar a correção porque estão tentando manter uma imagem envaidecida de si próprias. Assim, nos comprometemos com a honestidade em relação a nós mesmos. Lembramo-nos de que até mesmo Jesus, quando começou a trabalhar com madeira, deve ter precisado de orientação e instrução. Ao mesmo tempo, reconhecemos que apenas tendo Deus trabalhando dentro de nós é que podemos colocar os ensinamentos de Jesus em prática no nosso emprego. Procuramos a presença e a força de Deus em nossa vida a cada dia ao vivermos como cristãos no lugar onde trabalhamos.
No mundo caído, a pobreza de espírito pode aparentar ser um impedimento para o sucesso e o avanço. É comum que isso seja uma ilusão. Quem tem mais probabilidade de ser bem-sucedido no longo prazo: um líder que diz “não tenha medo, eu consigo lidar com qualquer coisa, simplesmente faça o que eu digo” ou um líder que diz “juntos conseguiremos fazer isso, mas todo mundo terá de se esforçar muito mais do que antes”? Se já houve um tempo em que um líder arrogante e em busca de autopromoção foi considerado maior do que um líder humilde e capacitador, este tempo está passando, pelo menos dentro das melhores organizações. Um líder humilde, por exemplo, é a primeira marca característica de empresas que alcançam grandeza sustentável, de acordo com a renomada pesquisa de Jim Collins.[2] Naturalmente, muitos ambientes de trabalho permanecem presos ao velho reino da autopromoção e da autovalorização exagerada. Em algumas situações, o melhor conselho prático pode ser encontrar outro lugar para trabalhar, se isso for possível. Em outros casos, deixar o emprego pode não ser possível, ou pelo menos não desejável, porque, ao permanecer, um cristão pode ser uma força importante para o bem. Nessas situações, os pobres de espírito são uma bênção ainda maior para os que estão ao redor deles.