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Daniel e o trabalho

Comentário Bíblico / Produzido por Projeto Teologia do Trabalho
Daniel bible commentary

Introdução a Daniel

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É possível prosperar no trabalho enquanto segue a Deus? Pessoas em todos os tipos de ambientes de trabalho enfrentam essa pergunta diariamente, e muitas acham a resposta tão difícil que são tentadas a desistir. Daniel, o personagem central do livro de Daniel, enfrenta a questão em circunstâncias extremas, fornecendo um exemplo que pode ser útil nos ambientes de trabalho do século XXI. Exilado de Jerusalém quando o povo de Deus é conquistado pelo império babilônico, ele deve viver sua vida em um ambiente muito hostil ao Deus Altíssimo. No entanto, as circunstâncias o levam a uma posição com grandes oportunidades de servir ao rei da Babilônia. Será que ele deveria se retirar do governo corrupto e profano da Babilônia e buscar uma vida que agradasse a Deus em um reduto entre outros judeus? Ou será que ele deve relegar sua fé a uma esfera privada e pessoal, talvez orando a Deus em seu quarto, enquanto vive a vida de poder e de influência dos babilônios de forma indistinguível daqueles ao seu redor? Daniel não escolhe nenhum dos dois. Em vez disso, ele embarca em uma carreira promissora, enquanto permanece publicamente devotado a Deus. A história de como ele navega por essas águas traiçoeiras é um guia e um estudo de caso para os cristãos no ambiente de trabalho de hoje.

O quadro geral do livro de Daniel

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O livro de Daniel pode ser desconcertante. Começa de forma bastante direta, com Daniel e seus companheiros enfrentando pressão para assimilar os prazeres e vícios da corte real da Babilônia. Ele deve falar com chefes difíceis, fazer escolhas morais e lidar com colegas competitivos. Mas a narrativa se torna cada vez mais estranha à medida que sonhos, visões e profecias entram em cena. Na metade do caminho (capítulo 7), o livro se torna inconfundivelmente apocalíptico, pressagiando a ascensão e queda de futuros reis e reinos, usando imagens de eventos e criaturas bizarras. [1] O gênero apocalíptico é notoriamente difícil de interpretar, mas esse material contribui com alguns pontos para nossa compreensão do trabalho. De qualquer forma, Daniel, assim como o Apocalipse — o outro livro de literatura apocalíptica da Bíblia — fornece muito material valioso e relevante para o trabalho.

Por acaso, o livro de Daniel oferece uma estrutura pronta para desvendar seu significado no ambiente de trabalho. Essa estrutura é uma estrutura de paralelismo aninhada (em termos técnicos, um “quiasmo”). Essa estrutura consiste em múltiplos temas, introduzidos na ordem ABC..., depois revisitados na ordem inversa, formando uma estrutura como esta:

  • Tema A, Parte 1
    • Tema B, Parte 1
      • Tema C, Parte 1

      • Tema C, Parte 2

    • Tema B, Parte 2

  • Tema A, Parte 2

Para ajudar o leitor a acompanhar qual é o tema, o escritor destaca elementos paralelos nas duas partes de cada tema. Por exemplo, o Tema A em Daniel consiste em uma visão na Parte 1 e uma visão paralela na Parte 2, enquanto o Tema B traz sofrimentos na parte 1 e mais sofrimentos na parte 2.

Essa estrutura é comum em muitos livros da Bíblia. Em Daniel, a Parte 1 de cada tema é relativamente direta. A Parte 2 de cada tema é mais difícil, mas consultar a Parte 1 correspondente torna mais fácil entender as passagens mais difíceis. Em Daniel, o capítulo 1 é uma introdução e, em seguida, os paralelos aninhados começam:

A. Visão da futura queda dos reinos pagãos e sua substituição pelo governo de Deus (capítulo 2)
B. Sofrimentos, mas recompensas, pelo testemunho fiel a Deus nesse meio tempo (capítulo 3)
C. Humilhação/queda do rei pagão (capítulo 4)
C. Humilhação/queda do rei pagão (capítulo 5)
B. Sofrimentos, mas recompensas, pelo testemunho fiel a Deus nesse meio tempo (capítulo 6)
A. Visão da futura queda dos reinos pagãos e sua substituição pelo governo de Deus (capítulos 7—12)

Essa estrutura deixa claro o quadro geral de Daniel. Deus está vindo para derrubar os reinos pagãos corruptos e arrogantes, onde o povo de Deus está vivendo no exílio. Embora seu povo esteja sofrendo agora, seu sofrimento fiel é um dos principais meios pelos quais o poder de Deus se move. Isso lhes dá uma capacidade surpreendente de prosperar agora, uma esperança brilhante para o futuro e um papel significativo a desempenhar, tanto na sobrevivência presente quanto na promessa futura. Exploraremos as implicações e aplicações que esse quadro geral tem para os cristãos nos ambientes de trabalho de hoje. Para fazer isso, examinaremos como cada um dos seis movimentos descritos acima é orquestrado no tema geral.

Introdução: No exílio na Babilônia U. (Daniel 1)

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O livro de Daniel começa com o desastre que finalmente acabou com o reino judaico. Nabucodonosor (605-562 a.C.), o rei da Babilônia, conquistou Jerusalém, depôs seu rei e levou cativos alguns de seus membros da realeza e jovens nobres. Como era típico no antigo Oriente Próximo, Nabucodonosor fez questão de se vingar dos deuses (ou, neste caso, de Deus) da nação vencida, saqueando o templo e empregando seus antigos tesouros para decorar a casa de seu próprio deus (Dn 1.1-3). Por isso, sabemos que Nabucodonosor era um inimigo não apenas de Israel, mas também do Deus de Israel.

Entre os jovens levados cativos estavam Daniel e seus companheiros Hananias, Misael e Azarias. Os quatro foram escolhidos para participar de um programa seleto, baseado em juventude, aptidão e aparência, onde receberiam treinamento para uma posição de liderança no reino (Dn 1.4-5). Isso apresentou uma oportunidade e um desafio. Esta era uma oportunidade para fazer uma vida boa para si mesmos em uma terra hostil e, talvez, trazer o poder e a justiça de Deus para seu novo país. O profeta Jeremias estava exortando os judeus exilados a fazer exatamente isso:

“Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os exilados, que deportei de Jerusalém para a Babilônia: ‘Construam casas e habitem nelas; plantem jardins e comam de seus frutos. Casem-se e tenham filhos e filhas; escolham mulheres para casar-se com seus filhos e deem as suas filhas em casamento, para que também tenham filhos e filhas. Multipliquem-se e não diminuam. Busquem a prosperidade da cidade para a qual eu os deportei e orem ao Senhor em favor dela, porque a prosperidade de vocês depende da prosperidade dela’” (Jr 29.4-7).

O desafio que Daniel e seus colegas enfrentaram foi a assimilação em detrimento da lealdade a Deus e a seu povo. Os assuntos que eles teriam de estudar provavelmente incluíam astrologia, o estudo de entranhas de animais, ritos de purificação, sacrifício, encantamento, exorcismo e outras formas de adivinhação e magia. [1] Isso teria sido odioso à fé dos judeus devotos, como algumas coisas nas universidades seculares atuais podem ser para os cristãos de hoje. Além disso, Daniel e seus amigos tiveram de aceitar mudanças em seus próprios nomes, que anteriormente proclamavam sua lealdade a Deus (os elementos “el” e “ias”, ao final dos nomes). No entanto, Daniel e seus colegas abraçaram o desafio, seguros na crença de que Deus protegeria sua fé e lealdade. Eles se matricularam na educação babilônica, mas estabeleceram limites para se proteger contra a assimilação real de seus captores pela cultura pagã. Daniel resistiu à dieta farta que era exigida de todos os que estavam em treinamento, recusando-se a “se tornar impuro” (Dn 1.8). O texto não deixa claro exatamente o que havia de censurável na dieta. [2] As tradições culturais em torno da dieta são fortes, especialmente para os judeus, cujas leis alimentares os distinguiam fortemente das nações vizinhas (Lv 11; Dt 14). Talvez manter uma dieta separada tenha dado a Daniel um lembrete diário de sua lealdade ao Senhor. Ou talvez tenha demonstrado que sua destreza física dependia do favor de Deus, e não do regime alimentar do rei.

A maneira de Daniel colaborar com seu superintendente é uma parte crítica da história. Alguns cristãos, quando solicitados a fazer algo contra sua consciência, ou seguem sem críticas ou assumem uma posição de confronto que parece torná-los “mais santos que o Santo”. Daniel encontrou um terceiro caminho, reconhecendo que seu chefe era solidário, mas estava em uma posição difícil. Se Daniel e seus amigos perdessem o vigor devido à baixa qualidade da comida — e aos olhos do supervisor, legumes e água pareciam inferiores à fartura de comida e vinho — o supervisor perderia não apenas o emprego, mas a vida (Dn 1.10). Então, Daniel pediu uma avaliação — dê-nos dez dias e, se não formos mais saudáveis do que os outros, cederemos e seguiremos sua dieta. Depois de dez dias, quando Daniel e seus companheiros saíram do teste mais saudáveis do que os outros, todos receberam a dieta de Daniel, o que, sem dúvida, levou a outro desafio no ambiente de trabalho entre Daniel e os alunos da Babilônia!

De qualquer forma, a discussão sobre a dieta de Daniel destaca um ponto muito mais profundo: Deus tem uma mão nos eventos da vida de Daniel, bem como na de Nabucodonosor, na Babilônia e em todas as nações. O capítulo 1 reflete isso desde o início, afirmando: “E o Senhor entregou Jeoaquim, rei de Judá, nas suas mãos” (Dn 1.2) e “Deus fez com que o homem fosse bondoso para com Daniel e tivesse simpatia por ele” (Dn 1.9). Daniel e seus amigos excederam o desenvolvimento físico dos outros jovens não por causa de sua genialidade ou dieta, mas porque “Deus deu sabedoria e inteligência para conhecerem todos os aspectos da cultura e da ciência” (Dn 1.17). O treinamento de Daniel pelos professores do rei foi claramente aumentado com a sabedoria de Deus, de modo que “o rei lhes fez perguntas sobre todos os assuntos que exigiam sabedoria e conhecimento e descobriu que eram dez vezes mais sábios do que todos os magos e encantadores de todo o seu reino” (Dn 1.20). Isso estabelece o padrão para o restante do livro, à medida que, repetidamente, os eventos mostram a superioridade da sabedoria de Daniel — e, mais importante, o poder de seu Deus — sobre a sabedoria e o poder das nações incrédulas e seus reis (Dn 5.14; 11.33-35; 12.3,10). Da mesma forma, os alunos de hoje precisam pensar além do currículo, buscando uma visão de Deus sobre o que estão aprendendo.

Os cristãos em todos os tipos de ambientes de trabalho hoje enfrentam semelhanças com o que Daniel e seus amigos experimentaram na academia babilônica. Não há como escapar dos ambientes de trabalho seculares, a não ser se retirando para comunidades isoladas ou optando por trabalhar em instituições exclusivamente cristãs, como igrejas e escolas cristãs. Muitos ambientes de trabalho seculares (mas certamente não todos) oferecem uma variedade de oportunidades de ganho pessoal, como boa remuneração, segurança no emprego, realização e prestígio profissional, condições de trabalho confortáveis e trabalho criativo e interessante. Em si, essas são coisas boas. Mas eles nos tentam com dois males graves: 1) o perigo de nos apaixonarmos tanto pelas boas coisas materiais a ponto de não querermos arriscar essas coisas, defendendo o que Deus exige de nós; e 2) o perigo espiritual de vir a acreditar que as coisas boas vêm como resultado de nosso próprio trabalho ou genialidade, ou como resultado de nosso serviço a algum poder que não seja Deus. Além disso, o ambiente de trabalho muitas vezes faz passar por situações que em si não são boas, como enganação, preconceito, maus-tratos aos pobres e mais fracos, conivência a desejos prejudiciais, obtenção de vantagem sobre outros em seus momentos de necessidade e muito mais. Em nossos tempos, tanto quanto nos tempos de Daniel, é difícil saber quais situações são boas e quais são ruins. Foi bom (ou pelo menos aceitável) aos olhos de Deus que Daniel e seus amigos estudassem astrologia? Eles poderiam aprender a usar o conhecimento dos céus sem se deixar levar pelas superstições em que aquele sistema estava baseado? É bom para o cristão estudar marketing? Podemos aprender a usar o conhecimento do comportamento do consumidor sem nos tornarmos enredados na prática de publicidade enganosa ou promoções exploratórias? O livro de Daniel não fornece diretrizes específicas, mas sugere algumas perspectivas vitais:

  • Os cristãos podem abraçar a educação, mesmo que seja conduzida fora dos limites da responsabilidade cristã.

  • Os cristãos podem abraçar o trabalho em ambientes de trabalho não cristãos e até mesmo hostis, com as devidas medidas de segurança.

  • Os cristãos que trabalham ou estudam em ambientes não cristãos ou anticristãos devem tomar cuidado para evitar a assimilação acrítica pela cultura ao redor. As medidas de segurança incluem

    • Oração constante e comunhão com Deus. Daniel orava três vezes ao dia ao longo de sua carreira (Dn 6.10) e com um compromisso especial durante os tempos difíceis em seu trabalho (Dn 9.3-4; Dn 9.16-21). Quantos cristãos realmente oram pelas especificidades de sua vida profissional? O livro de Daniel mostra constantemente que Deus se importa com os detalhes específicos do trabalho diário.

    • Firme adesão aos marcadores materiais da fé, mesmo que sejam um tanto arbitrários. Daniel evitou comer a farta comida e o vinho do rei, porque isso comprometeria sua lealdade a Deus. Poderíamos argumentar se essa prática específica é universalmente exigida por Deus, mas não podemos duvidar de que uma fé viva requer marcadores vivos dos limites do comportamento fiel. A rede americana de lanchonetes Chick-fil-a decidiu não abrir aos domingos. Muitos médicos católicos não prescrevem métodos contraceptivos artificiais. Outros cristãos encontram maneiras respeitosas de pedir permissão a seus colegas para orar por eles. Nenhum deles pode ser tomado como requisitos universais e, de fato, todos eles podem ser questionados por outros cristãos. Mas cada um deles ajuda seus praticantes a evitar uma assimilação lenta, fornecendo marcadores públicos e constantes de sua fé.

    • Associação ativa e prestação de contas com outros cristãos no mesmo tipo de trabalho. “A pedido de Daniel, o rei nomeou Sadraque, Mesaque e Abede-Nego administradores da província da Babilônia, enquanto o próprio Daniel permanecia na corte do rei” (Dn 2.49). Mas poucos cristãos têm um fórum onde possam compartilhar preocupações, perguntas, sucessos e fracassos com outras pessoas em seu campo. Como os advogados devem aprender a aplicar a fé à lei, exceto por meio de discussões regulares e intencionais com outros advogados cristãos? O mesmo vale para engenheiros, artesãos, agricultores, professores, pais, gerentes de marketing e todas as outras vocações. Criar e nutrir esses tipos de grupos é uma das grandes necessidades não atendidas dos cristãos no ambiente de trabalho.

    • Formação de bons relacionamentos com não crentes em seu ambiente de trabalho. Deus fez com que o funcionário que supervisionava a dieta de Daniel lhe mostrasse bondade e simpatia (Dn 1.9). Daniel cooperou com Deus, respeitando o oficial e cuidando de seu bem-estar (Dn 1.10-14). Os cristãos às vezes parecem se esforçar para antagonizar e julgar os colegas de trabalho, mas o mandamento de Deus é: “Façam todo o possível para viver em paz com todos” (Rm 12.18). Uma prática excelente é orar de forma muito específica pedindo as bênçãos de Deus para aqueles com quem trabalhamos.

    • Adoção de um estilo de vida modesto, de modo que o apego ao dinheiro, ao prestígio ou ao poder não o impeça de arriscar seu emprego ou sua carreira, se você for pressionado a fazer algo contrário aos mandamentos, valores ou virtudes de Deus. Apesar de atingir o auge da educação, posição e riqueza da Babilônia, Daniel e seus amigos estavam constantemente dispostos a perder tudo a fim de falar e agir de acordo com a palavra de Deus (Dn 2.24; 3.12; 4.20; 5.17; 6.10; 6.21).

Daniel conseguiu andar na corda bamba da assimilação cultural parcial sem comprometer aspectos religiosos e morais. As apostas eram altas. A carreira de Daniel e até sua vida estavam em risco, assim como a vida do principal oficial da Babilônia, Aspenaz (Dn 1.10). No entanto, pela graça de Deus, Daniel permaneceu firme e manteve sua integridade. Mesmo os inimigos de Daniel mais tarde admitiriam que “não puderam achar nele falta alguma, pois ele era fiel; não era desonesto nem negligente” (Dn 6.4).

Tema A: Deus derrubará reinos pagãos e os substituirá por seu próprio reino (Daniel 2)

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Para uma explicação dos temas e da estrutura de Daniel, veja a seção “O quadro geral do livro de Daniel”.

Tendo estabelecido em detalhes a situação da vida enfrentada por Daniel e seus amigos, o livro de Daniel começa agora (em Daniel 2) o primeiro dos três temas que formam a estrutura quiástica descrita na seção acima (“O quadro geral do livro de Daniel”). Esse tema é que Deus derrubará os reinos pagãos e os substituirá por seu próprio reino.

Embora Daniel estivesse prosperando e servindo a Deus em meio a um território hostil, Nabucodonosor estava ficando inquieto em governar sua própria terra, embora seu poder fosse incontestável. Seus sonhos ficaram perturbados por suas preocupações com a segurança de seu império. Em um sonho, Nabucodonosor viu uma estátua imponente composta por vários elementos feitos de metais diferentes. A estátua, enorme como era, foi esmagada por uma pedra e virou “pó, como o pó da debulha do trigo na eira durante o verão” e que o vento “levou sem deixar vestígio. Mas a pedra que atingiu a estátua tornou-se uma montanha e encheu a terra toda” (Dn 2.35). Os mágicos, encantadores e astrólogos de Nabucodonosor não foram úteis para ele na interpretação desse sonho (Dn 2.10-11), mas, pela graça de Deus, Daniel conhecia tanto o sonho — sem que o rei lhe contasse o que era — quanto a interpretação (Dn 2.27-28).

O episódio contrasta a arrogância de Nabucodonosor com a humildade e a dependência de Deus demonstrada por Daniel. Nabucodonosor e sua Babilônia eram o modelo de orgulho. De acordo com a interpretação de Daniel, os enormes componentes de metal da estátua representavam os reinos da Babilônia e seus sucessores (Dn 2.31-45). [1] A saudação dos astrólogos ao rei — “Ó rei, vive para sempre!” (Dn 2.4) — enfatiza a pretensão do rei de que ele mesmo é a fonte de seu poder e majestade. Mas Daniel dá ao rei duas mensagens chocantes:

  1. Seu reino não é o resultado de suas próprias ações. Em vez disso, “o Deus dos céus concedeu-te domínio, poder, força e glória” (Dn 2.37). Portanto, todo o seu orgulho é tolo e vão.

  2. Seu reino está condenado. “Esse é o significado da visão da pedra que se soltou de uma montanha, sem auxílio de mãos, pedra que esmigalhou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro. O Deus poderoso mostrou ao rei o que acontecerá no futuro. O sonho é verdadeiro, e a interpretação é fiel” (Dn 2.45). Embora isso não deva acontecer em seu tempo, isso reduzirá a nada todas as suas realizações supostamente poderosas.

Em contraste, a humildade pessoal — e sua gêmea siamesa, a dependência do poder de Deus — foi a arma secreta de Daniel para prosperar. A humildade permitiu que ele prosperasse, mesmo na situação excepcionalmente pouco promissora, em que ele deveria prever a morte do reino para o próprio rei. Daniel negou qualquer habilidade pessoal própria. Só Deus tem poder e sabedoria: “Nenhum sábio, encantador, mago ou adivinho é capaz de revelar ao rei o mistério sobre o qual ele perguntou, mas existe um Deus nos céus que revela os mistérios” (Dn 2.27-28).

Surpreendentemente, essa atitude humilde levou o rei a perdoar — e até aceitar — a mensagem ousada de Daniel. Ele estava pronto para executar seus astrólogos de uma vez, mas “caiu prostrado diante de Daniel” e “prestou-lhe honra” (Dn 2.46). Então “ele o designou governante de toda a província da Babilônia e o encarregou de todos os sábios da província” (Dn 2.48). Nabucodonosor chegou a algum tipo de crença em Javé. “O rei disse a Daniel: ‘Não há dúvida de que o seu Deus é o Deus dos deuses, o Senhor dos reis e aquele que revela os mistérios, pois você conseguiu revelar esse mistério’” (Dn 2.47).

Para os cristãos no ambiente de trabalho de hoje, isso oferece um ponto importante. Deus acabará com a arrogância, a corrupção, a injustiça e a violência em todos os ambientes de trabalho, embora não necessariamente durante o tempo em que trabalharmos neles. Essa é uma fonte de conforto e desafio. Conforto, porque não somos responsáveis ​​por corrigir todos os males em nosso ambiente de trabalho, mas apenas por agir fielmente em nossas esferas de influência, e também porque a injustiça que podemos sofrer no trabalho não é a realidade última de nosso trabalho. Desafio, porque somos chamados a nos opor ao mal dentro de nossas esferas de influência, o que pode custar caro para nossas carreiras. Daniel ficou aterrorizado com a severidade da mensagem que teve de anunciar a Nabucodonosor: “Portanto, ó rei, aceita o meu conselho: Renuncia a teus pecados e à tua maldade, pratica a justiça e tem compaixão dos necessitados” (Dn 4.27).

Isso ilustra tanto as possibilidades quanto os perigos de aplicar o livro de Daniel à nossa vida profissional. Às vezes, reconhecemos que, para sermos fiéis a Deus, devemos desafiar as pessoas que estão no poder. Mas, diferentemente de Daniel, não temos a perfeita recepção da palavra de Deus. Só porque sentimos algo fortemente, não significa que é algo verdadeiramente vindo de Deus. Portanto, se até mesmo Daniel foi humilde no serviço de Deus, imagine o quanto devemos ser. “Deus me disse em um sonho que eu seria promovido acima de todos vocês” é uma palavra que provavelmente devemos guardar para nós mesmos, não importa o quanto acreditemos nela. Talvez seja melhor presumir que Deus dirá às pessoas ao nosso redor o que ele quer que elas saibam, em vez de nos instruir a dizer isso a elas em seu nome.

Tema B: Sofrimentos, mas recompensas, pelo testemunho fiel a Deus nesse meio tempo (Daniel 3)

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Para uma explicação dos temas e da estrutura de Daniel, veja a seção “O quadro geral do livro de Daniel”.

Pela graça de Deus, a humildade de Daniel permitiu que ele prosperasse na corte de Nabucodonosor, mesmo quando Deus estava se preparando para derrubar o império do rei. Mesmo assim, Daniel e seus amigos estavam prestes a sofrer sob um novo ataque da arrogância de Nabucodonosor. Ao contrário do primeiro e do segundo capítulos de Daniel, no capítulo 3, sua fidelidade a Deus os levou ao sofrimento. No entanto, mesmo em meio ao sofrimento, Deus recompensou sua fidelidade.

Por um tempo, parecia que o próprio Nabucodonosor renunciaria à sua arrogância, se submeteria a Deus e pouparia seu império da necessidade de ser derrubado pelo poder de Deus. Lamentavelmente, porém, o próprio sonho que levou Nabucodonosor a reconhecer a mão de Deus sobre Daniel também pode ser o que incitou o rei a construir uma imagem de ouro a qual ele exigia que todos os seus súditos adorassem (Dn 3.1,5-6). O edifício representava o orgulho ressurgente do rei da Babilônia. Sua estrutura gigantesca (27 metros de altura) foi construída no nível da “planície de Dura”, o que teria exagerado a presença dominante da imagem (Dn. 3.1).

Os astrólogos desonrados do rei viram uma chance de vingança contra Daniel. Eles se aproveitaram do orgulho ressurgente do rei e acusaram os amigos de Daniel de não adorarem a imagem (Dn 3.8-12). Os amigos prontamente admitiram sua culpa e se recusaram a adorar a imagem, apesar da ameaça do rei de lançá-los em uma fornalha em chamas (Dn 3.13-18). Depois de anos tentando superar com sucesso a tensão entre o ambiente pagão da corte babilônica e sua fidelidade a Deus, eles enfrentaram uma situação em que nenhum acordo era possível sem violar sua integridade. Anteriormente, eles serviam como modelos de como prosperar seguindo a Deus em um ambiente hostil. Agora eles tinham de servir como modelos de como sofrer no mesmo ambiente. Isso eles fazem com gosto.

Sadraque, Mesaque e Abede-Nego responderam ao rei: “Ó Nabucodonosor, não precisamos defender-nos diante de ti. Se formos atirados na fornalha em chamas, o Deus a quem prestamos culto pode livrar-nos, e ele nos livrará das tuas mãos, ó rei. Mas, se ele não nos livrar, saiba, ó rei, que não prestaremos culto aos teus deuses nem adoraremos a imagem de ouro que mandaste erguer” (Dn 3.16-18).

Os cristãos no ambiente de trabalho de hoje raramente enfrentam uma hostilidade tão extrema, pelo menos no mundo ocidental. Mas podemos receber ordens para fazer algo que não conseguimos fazer em sã consciência. Ou, o que é mais provável, podemos acordar um dia e perceber que já estamos comprometendo os desejos de Deus para nosso trabalho por meio dos objetivos que buscamos, dos poderes que exercemos, dos relacionamentos que usamos mal ou das concessões que fazemos. De qualquer forma, pode chegar o dia em que reconheceremos que devemos fazer uma mudança radical, como dizer “não”, ser demitido, pedir demissão, denunciar ou defender outra pessoa. Devemos esperar sofrer por fazer isso. O fato de estarmos fazendo a vontade de Deus não deve nos levar a esperar que Deus nos impeça de enfrentar as consequências impostas pelos poderes constituídos. Trabalhar como cristão não é outro atalho para o sucesso, mas traz o perigo constante do sofrimento.

Esse episódio é especialmente comovente porque mostra que Daniel e seus amigos viviam no mesmo mundo que nós. Em nosso mundo, se você enfrentar um chefe por causa de, digamos, assédio sexual ou falsificação de dados, o resultado mais provável é que você seja punido, marginalizado, manchado, incompreendido e talvez demitido. Mesmo que você consiga acabar com o abuso e remover o agressor do poder, sua própria reputação pode sofrer danos irreparáveis. É tão difícil provar que você estava certo, e as pessoas relutam tanto em se envolver, que a instituição pode se proteger livrando-se de você ao lado do verdadeiro infrator. Sadraque, Mesaque e Abede-Nego aparentemente não esperavam muito para eles mesmos, pois dizem abertamente que Deus poderia não intervir no caso deles. “O Deus a quem prestamos culto pode livrar-nos... Mas, se ele não nos livrar, saiba, ó rei, que não prestaremos culto aos teus deuses” (Dn 3.17-18). No entanto, para eles, ser fiel a Deus era a coisa certa a fazer, fosse ou não um caminho para o sucesso.

Nisso, eles são, de fato, modelos para nós. Precisamos aprender a falar a verdade com clareza, com humildade, em nosso próprio ambiente de trabalho. O general Peter Pace, ex-presidente do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA, disse: “O que realmente admiro é algo que chamo de coragem intelectual. Essa é a capacidade de sentar em uma sala cheia de pessoas muito poderosas, perceber uma conversa indo em uma direção, sentir em seu íntimo que algo não está certo e ter a ousadia de dizer: ‘Eu vejo de maneira diferente, e aqui está o motivo.’” [1] Na prática, a coragem geralmente resulta de estar preparado. Os amigos de Daniel conheciam os perigos inerentes a sua posição e estavam preparados para enfrentar as consequências de permanecerem firmes em suas convicções. Devemos saber quais são os limites éticos em nosso ambiente de trabalho e pensar com antecedência no que faríamos se nos pedissem para fazer algo contrário à palavra de Deus. “Você precisa saber de antemão quais são suas condições de “afastamento” e praticar seu discurso de demissão para cada emprego que assumir”, foi o conselho de um professor de longa data da Harvard Business School. “Caso contrário, você pode ser levado a fazer quase qualquer coisa, passo a passo.” [2]

Tema C: Humilhação e queda do rei pagão (Daniel 4)

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Daniel 4 e Daniel 5 devem ser lidos em conjunto, sendo que o capítulo 4 introduz o tema C do quiasmo, enquanto o capítulo 5 o reprisa (para uma explicação dos temas e da estrutura de Daniel, veja “O quadro geral do livro de Daniel”). O tópico de ambos é a humilhação ou a queda do reino pagão. A magnificência da Babilônia serve como cenário comum para a humilhação de Nabucodonosor, no capítulo 4, e a morte do rei Belsazar, no capítulo 5.

No capítulo 4, tanto a magnificência da Babilônia quanto a arrogância do rei atingiram seu apogeu. No entanto, mais uma vez, o rei ficou perturbado por seus sonhos. Ele viu uma enorme árvore, que “cresceu tanto que a sua copa encostou no céu” (Dn 4.11) e que fornecia frutos e abrigo para todos os animais. Mas, por ordem de uma “sentinela, um anjo que descia do céu” (Dn 4.13), a árvore foi cortada e os animais foram dispersos. No sonho, o toco tornou-se um homem cuja mente foi transformada na de um animal e que foi forçado a viver entre os animais e as plantas por um longo tempo (Dn 4.13-16). O rei ordena a Daniel que interprete o sonho, exigindo mais uma vez que Daniel desse notícias desagradáveis ​​a um monarca emocionalmente instável (Dn 4.18-19). A interpretação é que a árvore representa o próprio Nabucodonosor, que será punido por sua arrogância, enlouquecendo e vivendo como um animal selvagem, até que ele admita “que o Altíssimo domina sobre os reinos dos homens e os dá a quem quer” (Dn 4.25). Apesar da severa advertência, Nabucodonosor persistiu em seu orgulho, e até se gabou: “Acaso não é esta a grande Babilônia que eu construí como capital do meu reino, com o meu enorme poder e para a glória da minha majestade?” (Dn 4.30). Como resultado, ele foi punido tal como o sonho havia predito (Dn 4.33).

Mas talvez a interpretação conflituosa de Daniel tenha feito a diferença, pois, depois de muito tempo no deserto, o rei se arrepende e glorifica a Deus, e então sua sanidade e seu reino lhe são restaurados (Dn 4.34-37). O posicionamento de Daniel não persuadiu o rei a renunciar a sua arrogância antes que o desastre acontecesse, mas abriu uma porta para o arrependimento e a restauração do rei após o fato.

Às vezes, nossa postura respeitosa e baseada em princípios também pode levar à transformação em nossos ambientes de trabalho. Um consultor de uma empresa internacional de consultoria em gestão — que podemos chamar de Vince — conta a história de quando teve de confrontar alguém com certo excesso de presunção. [1] Vince era encarregado de uma equipe de jovens funcionários promissores de um dos clientes da empresa, uma grande companhia industrial. No início do projeto, um sócio sênior da empresa começou a fazer um discurso animador para a equipe. Um dos membros da equipe do cliente — vamos chamá-lo de Gary — o interrompeu. Gary começou a questionar a validade do projeto. “Antes de embarcarmos neste projeto”, disse Gary, “acho que devemos avaliar se empresas de consultoria como a sua realmente agregam valor a seus clientes. Tenho lido alguns artigos que dizem que esse tipo de estudo pode não ser tão útil quanto se diz.” O sócio sênior encontrou uma maneira de continuar sua conversa animadora, mas depois disse a Vince: “Tire Gary do time”. Vince — ciente da ordem de Jesus de perdoar um irmão setenta e sete vezes (Mt 18.22) — pediu permissão para ver se conseguia fazer com que Gary mudasse de atitude. “Não parece certo prejudicar sua carreira por causa de um erro, por maior que tenha sido”, disse ele. “Você tem duas semanas”, respondeu o parceiro, “e também está se arriscando”. Pela graça de Deus — de acordo com Vince —, Gary veio a ver a validade do projeto e se dedicou ao trabalho de todo o coração. O sócio sênior reconheceu a mudança e, no final do projeto, destacou Gary para receber um reconhecimento especial no banquete de encerramento. A postura de Vince fez a diferença para Gary e sua empresa.

Tema C revisitado: Humilhação e queda do rei pagão (Daniel 5)

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Para uma explicação dos temas e da estrutura do livro de Daniel, veja a seção “O quadro geral do livro de Daniel”.

O tema C, conforme apresentado no capítulo 5, diz respeito à humilhação do rei pagão, mas não realmente à sua queda. O tema é revisitado no capítulo 5 em termos da destruição do império babilônico. A extravagância da Babilônia teve poucos paralelos no mundo antigo. [1] Era uma fortaleza inexpugnável, construída com duas muralhas, uma interna e outra externa, com a muralha externa de 18 quilômetros e a altura de 12 metros. Um bulevar processional levava ao espetáculo do Portão de Istar, um dos oito portões da cidade, que exibia azulejos azuis brilhantes. A cidade continha até 50 templos e numerosos palácios. Os famosos “Jardins Suspensos”, conhecidos principalmente pelos historiadores antigos, eram uma das Sete Maravilhas do Mundo. No entanto, após a morte do poderoso Nabucodonosor, em 562 a.C., a queda da cidade aconteceu em apenas 20 anos. O rei persa Ciro (559-530 a.C.) tomou a cidade em 539 a.C. sem resistência significativa.

Essa importante mudança no cenário político é contada da perspectiva do que ocorreu no palácio do novo governante, Belsazar, na noite da queda da cidade. [2] Belsazar, em um banquete suntuoso, profanou as taças sagradas dos judeus que haviam sido roubadas do templo de Jerusalém e blasfemou contra o Senhor, enquanto a refeição descambou em uma orgia de bêbados (Dn 5.1-4). Então, “de repente apareceram dedos de mão humana que começaram a escrever no reboco da parede” (Dn 5.5). Belsazar, orgulhoso governante do magnífico império da Babilônia, ficou tão assustado com a caligrafia na parede que seu rosto ficou pálido e seus joelhos batiam um no outro (Dn 5.6). Nem ele nem seus encantadores, astrólogos e adivinhos foram capazes de entender o que isso significava (Dn 5.7-9). Somente Daniel podia perceber sua mensagem de condenação: “Não glorificaste o Deus que sustenta em suas mãos a tua vida e todos os teus caminhos” (Dn 5.23). “Foste pesado na balança e achado em falta” (Dn 5.27). “Teu reino foi dividido e entregue aos medos e persas” (Dn 5.28). E, de fato, “naquela mesma noite Belsazar, rei dos babilônios, foi morto, e Dario, o medo, apoderou-se do reino” (Dn 5.30-31).

No final, Deus traz um fim ao reino do mal. A vitória final de Deus, não nossa eficácia pessoal, é a grande esperança do povo de Deus. De qualquer forma, devemos florescer onde fomos plantados. Se surgir a oportunidade, podemos e devemos fazer a diferença. Engajamento, não afastamento, é o modelo que vemos em todas as páginas do livro de Daniel. Mas nosso envolvimento com o mundo não se baseia na expectativa de que alcançaremos certo grau de sucesso ou de que Deus nos tornará imunes aos sofrimentos que vemos ao nosso redor. Baseia-se no conhecimento de que tudo de bom que acontece no meio do mundo caído é apenas uma amostra da bondade incomparável que virá quando Deus trouxer seu próprio reino à terra. Em última análise, a pergunta: “De que lado você está?” importa mais do que: “O que você tem feito por mim ultimamente?”

Tema B revisitado: Sofrimentos, mas recompensas, pelo testemunho fiel a Deus nesse meio tempo (Daniel 6)

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Para uma explicação dos temas e da estrutura do livro de Daniel, veja a seção “O quadro geral do livro de Daniel”.

Em Daniel 6, a estrutura quiástica de Daniel revisita o Tema B: que testemunhas fiéis de Deus experimentam tanto sofrimento quanto recompensa enquanto o reino pagão persiste. O capítulo 6 narra uma ameaça conspiratória à vida de Daniel, ambientada no reinado do monarca persa Dario, o Grande (522-486 a.C.). A competência de Daniel mereceu sua promoção a governante de todo o novo império, estando abaixo apenas do próprio rei (Dn 6.3). Tanto naquela época como agora, quando alguém é escolhido para se tornar o chefe de seus ex-colegas, aqueles que não são escolhidos podem sentir ressentimento. Não nos é dito como Daniel lidou com essa situação embaraçosa, mas vemos como seus ex-colegas reagiram. Eles tentaram pegar Daniel em alguma impropriedade, para que pudessem denunciá-lo ao rei. No entanto, mesmo eles “não puderam achar nele falta alguma, pois ele era fiel; não era desonesto nem negligente”. (Dn 6.4).

Incapaz de pegar Daniel em algo concreto, e conhecendo seu hábito diário de orar ao seu Deus, os rivais de Daniel elaboraram um plano que explorava o ego do rei Dario. Eles convenceram o rei a decretar que, nos 30 dias seguintes, ninguém poderia orar a qualquer deus ou homem que não fosse o rei. A pena era a morte na cova dos leões. Os conspiradores acreditavam ter encontrado um caminho para a destruição de Daniel. Isso oferece outra lição para os líderes: cuidado com a bajulação. Dario, atordoado pela bajulação, deixou de consultar seu conselheiro legal sobre o decreto antes de promulgá-lo, o que levou a uma situação da qual se arrependeu profundamente mais tarde.

O decreto atingiu Daniel, mas ele continuou a orar a Deus (Dn 6.10). Para sua grande angústia, Dario não pôde rescindir a ordem, pois, de acordo com a tradição, “a lei dos medos e dos persas... não pode ser revogada” (Dn 6.13). Dario, embora o homem mais poderoso de sua época, amarrou as próprias mãos, tornando impossível resgatar seu administrador favorito. O rei admitiu a Daniel: “Que o seu Deus, a quem você serve continuamente, o livre!” (Dn 6.16). E o anjo do Senhor fez o que o rei pediu, mas que ele próprio não poderia fazer. Daniel foi lançado na cova dos leões durante a noite, mas saiu ileso pela manhã (Dn 6.17-23). Isso levou o rei a emitir um decreto de reverência ao Deus de Daniel e a remover a ameaça de aniquilação para os judeus, enquanto continuavam a adorar a Deus (Dn 6.26-27). Nem mesmo as leis implacáveis ​​dos medos e dos persas poderiam garantir o fim do povo de Deus. O poder de Deus superou a enganação humana e os ditames reais.

No entanto, Daniel experimentou o que a maioria de nós chamaria de sofrimento ao longo do caminho. Ser alvo de uma tentativa de assassinato patrocinada pelo governo (Dn 6.4-6) deve ter sido uma experiência extenuante, mesmo que ele tenha sido inocentado ao final. Da mesma forma, desafiar abertamente o decreto do rei por causa da consciência (Dn 6.10-12) era um ato perigoso, embora corajoso. Daniel sofreu prisão imediata e foi lançado na cova dos leões (Dn 6.16-17). Não devemos permitir que a libertação final de Daniel (Dn 6.21-23) nos leve a imaginar que a experiência não foi dolorosa e perturbadora, para dizer o mínimo. Há três lições que podemos aprender com o testemunho fiel de Daniel a Deus:

  • Daniel não se limitou a tarefas que tinha certeza de que poderia realizar por conta própria. Não há como treinar ser jogado na cova dos leões! Em vez disso, ele fazia seu trabalho diariamente na dependência de Deus. Daniel orava três vezes ao dia (Dn 6.10). Ele reconhecia Deus em todas as questões difíceis que enfrentava. Nós também temos de reconhecer que não podemos cumprir nosso chamado sozinhos.

  • Daniel resumiu o chamado que Jesus mais tarde faria para ser sal e luz (Mt 5.13-16) em nossos ambientes de trabalho. Mesmo os inimigos de Daniel tiveram de admitir: “Jamais encontraremos algum motivo para acusar esse Daniel, a menos que seja algo relacionado com a lei do Deus dele” (Dn 6.5). Isso significava que ele era capaz de confrontar situações difíceis com a verdade e realmente provocar mudanças. Isso acontece várias vezes, quando Daniel e seus amigos assumem uma posição cuidadosa a favor da verdade, o que leva a um novo decreto do rei (Dn 2.46-49; 3.28-30; 4.36-37; 5.29; 6.25-28).

  • O sucesso de Daniel em trazer mudanças demonstra que Deus se preocupa com as questões cotidianas de governança em uma sociedade quebrada. Só porque Deus pretende substituir o regime atual, não significa que ele não se importa em torná-lo mais justo, mais frutífero e mais habitável agora. Às vezes, não nos envolvemos com Deus em nosso trabalho porque acreditamos que nosso trabalho não parece importante para Deus. Mas cada decisão é importante para o nosso Deus, e todo trabalhador precisa saber disso. A pergunta que a teologia de Daniel apresenta ao trabalhador é: “De quem é o reino que você está edificando?”. Daniel se destacou em sua ocupação, trabalhando em favor dos reinos do mundo, e manteve sua integridade como cidadão do Reino de Deus. Seu serviço aos reis pagãos era seu serviço para os propósitos de Deus. Os trabalhadores cristãos devem trabalhar bem aqui e agora, sabendo que o significado de nosso trabalho reside em e transcende o aqui e agora.

Tema A revisitado: Deus derrubará reinos pagãos e os substituirá por seu próprio reino (Daniel 7)

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Para uma explicação dos temas e da estrutura do livro de Daniel, veja a seçãoO quadro geral do livro de Daniel”.

O capítulo 7 nos traz de volta ao primeiro tema do livro de Daniel. Deus um dia substituirá os reinos corruptos deste mundo por seu próprio reino. Como Daniel e seus companheiros, pela graça de Deus, podemos encontrar uma maneira de sobreviver — e talvez até mesmo prosperar — como exilados aqui. No entanto, a principal esperança que temos não está em tirar o melhor proveito da situação atual, mas em antecipar a alegria do vindouro Reino de Deus.

Portanto, a perseverança se torna uma virtude crucial. Temos de perseverar até que Cristo volte para consertar as coisas. A perseverança é uma virtude louvada na filosofia clássica e na tradição judaico-cristã. Às vezes, a encontramos em uma citação impactante, como a admissão de Einstein: “Não é que eu seja muito inteligente, é que permaneço com problemas por mais tempo”. O Novo Testamento confirma o valor da perseverança: “Feliz é o homem que persevera na provação, porque depois de aprovado receberá a coroa da vida, que Deus prometeu aos que o amam” (Tg 1.12). A perseverança na vida do crente tem sua base e fonte no Senhor Deus. Não é uma questão de integridade ou honra humana. A perseverança cristã repousa na veracidade das promessas eternas da aliança de Deus.

A partir do capítulo 7, o livro de Daniel se torna francamente apocalíptico em gênero. A literatura apocalíptica, um tipo especial de oráculo profético, descreve os eventos cataclísmicos dos últimos dias. Foi difundido na literatura primitiva judaico-cristã. Entre suas características estão um rico simbolismo (capítulo 7), a descrição da batalha universal final entre o bem e o mal (Dn 11.40—12.4) e um intérprete celestial que explica o significado da visão ao profeta (Dn 7.16,23; 8.15; 9.21-23; 10.14). O profeta é exortado a perseverar fielmente até que a visão se cumpra (Dn 7.25-27; 9.24; 10.18-19; 12.1-4,13). Essa forma literária acentua a mensagem do autor sobre perseverança.

Os capítulos 7 a 12 relatam como Daniel teve visões assustadoras, que ele relata como um testemunho em primeira pessoa. O resultado final é uma série de profecias que preveem as tribulações do povo de Deus nas mãos de líderes despóticos, mas que terminam em triunfo garantido pelo libertador designado por Deus. O livro termina com uma exortação à perseverança a Daniel. “Feliz aquele que esperar e alcançar o fim dos mil trezentos e trinta e cinco dias. Quanto a você, siga o seu caminho até o fim. Você descansará e, então, no final dos dias, você se levantará para receber a herança que lhe cabe” (Dn 12.12-13).

A opressão contra o povo de Deus é um tema constante desses capítulos (Dn 7.21,25; 9.26; 10.1). O opressor — revelado pela história como Antíoco IV Epífanes [1] — é descrito em imagens surrealistas perturbadoras. Ele é o maligno “chifre pequeno” (Dn 7.8), que estabelece o “sacrilégio terrível” (Dn 9.27), e o “ser desprezível” (Dn 11.21) que rejeita os deuses tradicionais de seus ancestrais, fazendo dele mesmo a divindade suprema. Esse ódio pelo povo de Deus só é surpreendente para aqueles que foram protegidos de regimes totalitários e conflitos civis. Grande parte da comunidade cristã em nosso mundo hoje, no entanto, sofre com vários graus de repressão — de restrições econômicas e educacionais a prisão e martírio. Os cristãos no ocidente raramente sofrem hoje de maneira tão violenta. No entanto, as pessoas de fé no ambiente de trabalho muitas vezes sofrem alienação, assédio e, em alguns casos, censura ou demissão. Embora as escolhas não sejam tão graves — enfrentar a morte ou não —, a natureza da decisão é a mesma enfrentada pelos crentes em eras passadas. Fazemos concessões em nossas convicções ou aderimos à nossa profissão como cristãos, mesmo que isso possa resultar em alguma forma de perda? A vida e as profecias de Daniel nos exortam a sermos firmes em nossa primeira devoção. Paulo derivou a mesma aplicação para seu público ao considerar a futura ressurreição dos santos: “Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil” (1Co 15.58).

A mensagem de segurança dos capítulos 7 a 12 para os trabalhadores é a garantia de um ajuste de contas final que recompensará com justiça o trabalho fiel que fizermos na vida. No aqui e agora, o bom trabalho nem sempre é recompensado de acordo com suas contribuições honrosas para a sociedade. Seus resultados nem mesmo são visíveis para nós, em muitos casos. Daniel e seus amigos transformam o coração dos reis não uma vez, mas muitas vezes. Mas não demorou muito para que os reis voltassem a ser como eram. Portanto, em nossos ambientes de trabalho, nosso papel como sal e luz pode segurar o mal, mas muitas vezes não levará a uma mudança permanente. Isso não diminui nossa responsabilidade de sermos sal e luz, mas os frutos de nosso trabalho não serão totalmente visíveis até que o Reino de Deus seja estabelecido.

Conclusão para Daniel

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O livro de Daniel fornece uma imagem esperançosa de como o povo de Deus pode sobreviver e até prosperar em um ambiente hostil, permanecendo fiel a Deus. De acordo com o livro de Daniel, Deus se preocupa profundamente com a vida cotidiana de indivíduos e sociedades em um mundo quebrado. Deus intervém diretamente na vida cotidiana e também dá a Daniel dons milagrosos que tornam possível prosperar sob um regime opressivo. No entanto, de forma alguma o livro de Daniel promete sucesso neste mundo como recompensa pela fidelidade. Em vez disso, promete sofrimento e recompensa na vida mortal e, assim, demonstra que fidelidade e integridade são as chaves para viver bem nesta vida, bem como no vindouro Reino de Deus.

Daniel e seus amigos são modelos de muitas aplicações práticas para os cristãos no ambiente de trabalho: envolver-se com a cultura, adotar hábitos ao longo da vida que constroem fidelidade e virtude, compartilhar comunhão com colegas de trabalho cristãos, adotar um estilo de vida modesto, fazer amizade com não crentes, mostrar humildade genuína , assumir uma posição de princípios em situações de trabalho, abraçar desafios que sabemos que não podemos enfrentar sem a ajuda de Deus, trazer sal e luz para nossos ambientes de trabalho, trabalhar com excelência e diligência em qualquer que seja o nosso trabalho, antecipar o sofrimento como resultado da fidelidade cristã no ambiente de trabalho, e perseverar até que Deus traga seu reino — e nosso trabalho fiel — a bom termo. Não podemos saber de antemão se nossa fidelidade aos caminhos de Deus resultará em sucesso ou fracasso mundano, assim como os amigos de Daniel não poderiam saber se seriam salvos da fornalha ardente ou queimados. Mas, como eles, podemos reconhecer que servir a Deus em nosso trabalho é o que realmente importa.

Versículos e temas-chave em Daniel

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Versículo

Tema

Daniel 1.11-14 Daniel disse então ao homem que o chefe dos oficiais tinha encarregado de cuidar dele e de Hananias, Misael e Azarias: “Peço que faça uma experiência com os seus servos durante dez dias: Não nos dê nada além de vegetais para comer e água para beber. Depois compare a nossa aparência com a dos jovens que comem a comida do rei, e trate os seus servos de acordo com o que você concluir”. Ele concordou e fez a experiência com eles durante dez dias.

A humildade é a chave para um bom relacionamento com Deus e com as pessoas

Daniel 1.8 Daniel, contudo, decidiu não se tornar impuro com a comida e com o vinho do rei, e pediu ao chefe dos oficiais permissão para se abster deles.

Precisamos resistir à assimilação à cultura que viola os caminhos de Deus

Daniel 1.9 E Deus fez com que o homem fosse bondoso para com Daniel e tivesse simpatia por ele.

Seguir a Deus leva a uma mistura de sofrimento e recompensas na vida

Daniel 1.20 O rei lhes fez perguntas sobre todos os assuntos que exigiam sabedoria e conhecimento e descobriu que eram dez vezes mais sábios do que todos os magos e encantadores de todo o seu reino.

Deus nos dá habilidades para trabalhar com excelência, mesmo em ambientes de trabalho corruptos

Daniel 2.24 Então Daniel foi falar com Arioque, a quem o rei tinha designado para executar os sábios da Babilônia, e lhe disse: “Não execute os sábios. Leve-me ao rei, e eu interpretarei para ele o sonho que teve”.

Somos chamados a abraçar o trabalho além do que podemos realizar por nosso próprio poder

Daniel 2.27 Daniel respondeu: “Nenhum sábio, encantador, mago ou adivinho é capaz de revelar ao rei o mistério sobre o qual ele perguntou”.

A humildade é a chave para um bom relacionamento com Deus e com as pessoas

Daniel 2.47 O rei disse a Daniel: “Não há dúvida de que o seu Deus é o Deus dos deuses, o Senhor dos reis e aquele que revela os mistérios, pois você conseguiu revelar esse mistério”.

Nosso testemunho pode fazer a diferença em nosso ambiente de trabalho

Daniel 2.48 Assim o rei pôs Daniel num alto cargo e o cobriu de presentes. Ele o designou governante de toda a província da Babilônia e o encarregou de todos os sábios da província.

Seguir a Deus leva a uma mistura de sofrimento e recompensas na vida

Daniel 3.16-18 Sadraque, Mesaque e Abede-Nego responderam ao rei: “Ó Nabucodonosor, não precisamos defender-nos diante de ti. Se formos atirados na fornalha em chamas, o Deus a quem prestamos culto pode livrar-nos, e ele nos livrará das tuas mãos, ó rei. Mas, se ele não nos livrar, saiba, ó rei, que não prestaremos culto aos teus deuses nem adoraremos a imagem de ouro que mandaste erguer”.

Precisamos estar preparados para enfrentar o sofrimento no ambiente de trabalho

Daniel 4.27 “Portanto, ó rei, aceita o meu conselho: Renuncia a teus pecados e à tua maldade, pratica a justiça e tem compaixão dos necessitados. Talvez, então, continues a viver em paz”.

Precisamos assumir uma posição (humilde) em prol do que é certo no ambiente de trabalho

Daniel 4.33 A sentença sobre Nabucodonosor cumpriu-se imediatamente. Ele foi expulso do meio dos homens e passou a comer capim como os bois. Seu corpo molhou-se com o orvalho do céu, até que os seus cabelos e pelos cresceram como as penas da águia, e as suas unhas como as garras das aves.

Deus acabará com as regras e os reinos da terra

Daniel 5.14 Soube que o espírito dos deuses está em você e que você é um iluminado com inteligência e sabedoria fora do comum.

Deus nos dá habilidades para trabalhar com excelência, mesmo em ambientes de trabalho corruptos

Daniel 5.17 Então Daniel respondeu ao rei: “Podes guardar os teus presentes para ti mesmo e dar as tuas recompensas a algum outro. No entanto, lerei a inscrição para o rei e te direi o seu significado.

Um estilo de vida modesto nos permite resistir à assimilação à corrupção

Daniel 6.3 Ora, Daniel se destacou tanto entre os supervisores e os sátrapas por suas grandes qualidades, que o rei planejava tê-lo à frente do governo de todo o império.

Deus nos dá habilidades para trabalhar com excelência, mesmo em ambientes de trabalho corruptos

Daniel 6.4 Diante disso, os supervisores e os sátrapas procuraram motivos para acusar Daniel em sua administração governamental, mas nada conseguiram. Não puderam achar nele falta alguma, pois ele era fiel; não era desonesto nem negligente.

Um estilo de vida modesto nos permite resistir à assimilação à corrupção

Daniel 6.10 Quando Daniel soube que o decreto tinha sido publicado, foi para casa, para o seu quarto, no andar de cima, cujas janelas davam para Jerusalém e ali fez o que costumava fazer: três vezes por dia ele se ajoelhava e orava, agradecendo ao seu Deus.

A oração é uma prática essencial para trabalhar fielmente

Daniel 6.16 Então o rei deu ordens, e eles trouxeram Daniel e o jogaram na cova dos leões. O rei, porém, disse a Daniel: “Que o seu Deus, a quem você serve continuamente, o livre!”

Seguir a Deus leva a uma mistura de sofrimento e recompensas na vida

Daniel 6.25-28 Então o rei Dario escreveu aos homens de todas as nações, povos e línguas de toda a terra: “Paz e prosperidade! Estou editando um decreto para que em todos os domínios do império os homens temam e reverenciem o Deus de Daniel. Pois ele é o Deus vivo e permanece para sempre; o seu reino não será destruído; o seu domínio jamais acabará. Ele livra e salva; faz sinais e maravilhas nos céus e na terra. Ele livrou Daniel do poder dos leões”. Assim Daniel prosperou durante os reinados de Dario e de Ciro, o Persa.

Nosso testemunho pode fazer a diferença em nosso ambiente de trabalho

Daniel 7.21 Enquanto eu observava, esse chifre guerreava contra os santos e os derrotava.

Precisamos estar preparados para enfrentar o sofrimento no ambiente de trabalho

Daniel 9.3-4 Por isso me voltei para o Senhor Deus com orações e súplicas, em jejum, em pano de saco e coberto de cinza. Orei ao Senhor, o meu Deus, e confessei.

A oração é uma prática essencial para trabalhar fielmente

Daniel 12.1 “Naquela ocasião Miguel, o grande príncipe que protege o seu povo, se levantará. Haverá um tempo de angústia como nunca houve desde o início das nações até então. Mas naquela ocasião o seu povo, todo aquele cujo nome está escrito no livro, será liberto.”

Deus nos chama a perseverar onde estamos até que ele estabeleça seu reino

Daniel 12.12-13 “Feliz aquele que esperar e alcançar o fim dos mil trezentos e trinta e cinco dias. Quanto a você, siga o seu caminho até o fim. Você descansará e, então, no final dos dias, você se levantará para receber a herança que lhe cabe”.

Deus nos chama a perseverar onde estamos até que ele estabeleça seu reino