Bootstrap

2Coríntios e o trabalho

Comentário Bíblico / Produzido por Projeto Teologia do Trabalho
2 corinthians

Introdução a 2Coríntios

Voltar ao índice Voltar ao índice

Se 1Coríntios nos dá uma visão incomparável da vida cotidiana de uma igreja do Novo Testamento, 2Coríntios nos oferece um vislumbre único do coração e da alma do apóstolo cujo trabalho fundou e edificou aquela igreja. Vemos Paulo em ação, ensinando e dando exemplos de transparência, alegria, bons relacionamentos, sinceridade, reputação, serviço, humildade, liderança, desempenho e responsabilidade, reconciliação, trabalho com descrentes, encorajamento, generosidade, cumprimento oportuno das obrigações e uso adequado da riqueza.

Esses tópicos relacionados ao local de trabalho surgiram por causa das lutas e oportunidades diárias que Paulo encontrou em seu próprio trabalho como apóstolo. Durante o período que antecedeu a redação de 2Coríntios, Paulo enfrentou uma série de “conflitos externos [e] temores internos”, como ele próprio descreve a situação (2Co 7.5). Isso claramente deixou sua marca nele, e o resultado é uma carta como nenhuma outra do Novo Testamento — intensamente pessoal, exibindo uma gama completa de emoções, desde angústia e agitação até exuberância e confiança. Como resultado dessa adversidade, Paulo se tornou um líder e um trabalhador mais eficaz. Todos aqueles que desejam aprender a ser mais eficazes no trabalho — e que estão dispostos a confiar em Deus quanto à capacidade de realizá-lo — encontrarão um modelo prático em Paulo e em seus ensinamentos presentes em 2Coríntios.

As interações de Paulo com a igreja em Corinto (2Co)

Na introdução de 1Coríntios, observamos que Paulo estabeleceu a igreja de Corinto durante sua primeira estada lá (inverno de 49/50 até o verão de 51). Mais tarde, ele escreveu uma carta à igreja de Corinto, um documento que não existe mais (é mencionada em 1Co 5.9) e uma carta que foi preservada — nossa 1Coríntios. Ele também visitou a igreja três vezes (2Co 12.14; 13.1). Sabemos a partir de Romanos 16.1 que Paulo escreveu sua epístola aos romanos durante uma de suas estadas em Corinto.

No entanto, o relacionamento de Paulo com a igreja em Corinto era tenso. A certa altura, ele lhes escreveu aquela que veio a ser conhecida como a “carta severa” [1] — que aparentemente era bastante dura (ver 2Co 2.4). Ele a enviou aos coríntios por meio de Tito, na esperança de que isso trouxesse uma mudança de opinião entre seus antagonistas em Corinto. O conflito não resolvido com a igreja deixou Paulo inquieto enquanto esperava por uma resposta deles (2Co 1.12-13). Quando Tito finalmente chegou, no outono de 55, trouxe boas notícias de Corinto. A carta severa de Paulo havia, de fato, provado ser notavelmente benéfica. Os crentes, que haviam sido a causa de tanta tristeza, ficaram verdadeiramente tristes com a ruptura de seu relacionamento com Paulo, e sua tristeza os levou ao arrependimento (2Co 7.8-16).

Em resposta a essa notícia, Paulo escreveu 2Coríntios, ou mais precisamente os sete primeiros capítulos da carta, para expressar sua alegria e gratidão a Deus e aos coríntios pelo relacionamento restaurado entre eles. Nesses capítulos, ele exemplifica o tipo de transparência, alegria, atenção aos relacionamentos, integridade, reputação, serviço, dependência de Deus, conduta ética, caráter e encorajamento que Deus chama todos os cristãos a incorporarem. Em seguida, nos capítulos 8 e 9, ele se volta para os tópicos de generosidade e cumprimento de obrigações, ao exortar os coríntios a contribuírem para o alívio dos cristãos em Jerusalém, o que eles prometeram fazer. Nesta seção, Paulo destaca como nossas necessidades são atendidas pela generosidade de Deus, não apenas para que não nos falte nada do que precisamos, mas também para que tenhamos muito o que compartilhar com os outros. Nos capítulos 10 a 13, ele descreve as marcas da liderança piedosa, aparentemente em resposta às notícias perturbadoras que recebeu sobre os chamados “superapóstolos” que estavam desencaminhando alguns membros da igreja de Corinto. Embora não estejamos preocupados aqui com a liderança da igreja em si, as palavras de Paulo nesta seção são diretamente aplicáveis ​​a todos os locais de trabalho.

Agradeça a Deus pelos relacionamentos (2Co 1.1-11)

Voltar ao índice Voltar ao índice

A segunda carta aos Coríntios começa com os sinceros agradecimentos de Paulo pelo profundo relacionamento que ele tem com os coríntios. Eles estão tão intimamente ligados que, aconteça o que acontecer com um, é como se acontecesse com ambos. Ele escreve: “Se somos atribulados, é para consolação e salvação de vocês” (2Co 1.6). “Da mesma forma que vocês participam dos nossos sofrimentos, participam também da nossa consolação.” (2Co 1.7) A descrição que Paulo faz do relacionamento soa quase como um casamento. Dado o relacionamento tenso entre ele e a igreja que se revela no conteúdo da carta, essa intimidade pode ser surpreendente. Como pessoas com grandes desentendimentos, decepções e até raiva umas das outras poderiam dizer coisas como “a nossa esperança em relação a vocês está firme” (2Co 1.7)?

A resposta é que bons relacionamentos não surgem do acordo mútuo, mas do respeito mútuo na busca de um objetivo comum. Esse é um ponto crucial para nossa vida no trabalho. De maneira geral, não escolhemos os colegas de trabalho, assim como os coríntios não escolheram Paulo como seu apóstolo, e Paulo não escolheu aqueles que Deus levaria à fé. Nossos relacionamentos no trabalho não se baseiam na atração mútua, mas na necessidade de trabalharmos juntos para realizar as tarefas comuns. Isso é verdade, quer o trabalho seja plantar igrejas, fabricar peças de automóveis, processar seguros ou formulários governamentais, ensinar em uma universidade quer qualquer outra vocação. Quanto mais difíceis são as coisas, mais importantes se tornam os bons relacionamentos.

Como construímos bons relacionamentos no trabalho? De certa forma, o restante de 2Coríntios é uma análise de vários meios de construir bons relacionamentos de trabalho — transparência, integridade, responsabilidade, generosidade e assim por diante. Discutiremos todos eles nesse contexto. Mas Paulo deixa claro que não podemos alcançar bons relacionamentos apenas por meio de habilidades e métodos. O que precisamos, acima de tudo, é da ajuda de Deus. Por esse motivo, orar uns pelos outros é a pedra angular de bons relacionamentos. “Junte-se a nós, ajudando-nos com as orações”, Paulo pede e, em seguida, fala do “favor a nós concedido em resposta às orações de muitos” (2Co 1.11).

Com que profundidade investimos nos relacionamentos com as pessoas com quem trabalhamos? A resposta pode ser mensurada pelo tanto que oramos por eles. Será que nos importamos com eles o suficiente para orar por aquelas pessoas? Oramos por suas necessidades e preocupações específicas? Nós nos preocupamos em aprender o suficiente sobre a vida delas para que possamos orar por elas de maneira concreta? Abrimos a própria vida o suficiente para que outros possam orar por nós? Alguma vez perguntamos às pessoas no trabalho se podemos orar por elas ou se elas podem orar por nós? Elas talvez não compartilhem de nossa fé, mas as pessoas quase sempre apreciam uma oferta autêntica de oração por elas ou um pedido para orar por nós.

Transparência (2Co 1.12-23)

Voltar ao índice Voltar ao índice

À medida que vai penetrando no conteúdo de sua segunda carta aos coríntios, Paulo aborda a queixa de que não havia sido aberto e honesto com eles. Embora tenha prometido visitar Corinto novamente, Paulo desistiu duas vezes. Ele estava sendo insincero ou fingido? Estaria ele manobrando nos bastidores para abrir caminho pelas costas dos outros? Paulo aborda essas questões em 2Coríntios 1.12-14. Ele se orgulha de que seu comportamento entre os coríntios tenha sido sempre transparente. Suas ações não foram maquinações do que ele chama de “sabedoria do mundo” (2Co 1.12). Ele cancelou suas visitas não para ganhar vantagem ou se poupar, mas porque não queria envergonhar ou repreender os coríntios novamente. Portanto, ele atrasou o retorno a Corinto, na esperança de que, quando voltasse, pudesse trazer alegria, em vez de recriminação e repreensão (2Co 1.23-24).

Embora a integridade de Paulo tivesse sido questionada, ele sabia que, por causa de seu histórico de transparência com a igreja, ela continuaria a confiar nele. “[Nós nos] temos conduzido no mundo, especialmente em nosso relacionamento com vocês, com santidade e sinceridade provenientes de Deus”, ele os lembra (2Co 1.12). Uma vez que o viram em ação, sabem que ele diz o que quer dizer sem vacilar (2Co 1.17-20). Isso dá segurança a Paulo de que eles vão “entender plenamente” (2Co 1.1-13), assim que souberem de todos os fatores que ele teve de considerar. Sua prova de sua confiança é que, mesmo sem saberem tudo, Paulo lhes diz: “Vocês nos entenderam em parte” (2Co 1.14).

Em nosso trabalho hoje, somos suficientemente transparentes para que as pessoas tenham um motivo para confiar em nós? Diariamente, todas as pessoas, empresas e organizações enfrentam tentações de esconder a verdade. Estamos obscurecendo nossas motivações para ganhar falsamente a confiança de um cliente ou de um rival? Estamos tomando decisões em segredo como forma de evitar responsabilidade ou ocultar fatores aos quais outros se oporiam? Estamos fingindo apoiar os colegas de trabalho na presença deles, mas falando ironicamente pelas suas costas? O exemplo de Paulo nos mostra que essas ações são erradas. Além disso, qualquer que seja a breve vantagem que possamos ganhar com eles é mais do que perdida a longo prazo, porque os colegas de trabalho aprendem a não confiar em nós. E, se nossos colaboradores não podem confiar em nós, Deus pode confiar?

Isso não significa, é claro, que sempre revelamos todas as informações que temos. Existem confidências, pessoais e organizacionais, que não podem ser violadas. Nem todo mundo precisa estar a par de todas as informações. Às vezes, a resposta honesta pode ser: “Não posso responder a essa pergunta porque tenho o dever de privacidade para com outra pessoa”. Mas não devemos usar a confidencialidade como desculpa para prevaricar, ganhar vantagem sobre os outros ou nos mostrarmos sob uma luz falsamente positiva. Se e quando surgirem dúvidas sobre nossos motivos, um sólido histórico de abertura e confiabilidade será o melhor antídoto para dúvidas infundadas.

A transparência é tão importante para o trabalho de Paulo com os coríntios que ele volta ao tema ao longo da carta. “Antes, renunciamos aos procedimentos secretos e vergonhosos; não usamos de engano nem torcemos a palavra de Deus. Ao contrário, mediante a clara exposição da verdade, recomendamo-nos à consciência de todos, diante de Deus.” (2Co 4.2) “Falamos abertamente a vocês, coríntios, e abrimos todo o nosso coração!” (2Co 6.11)

Trabalhar para a alegria dos outros (2Co 1.24)

Voltar ao índice Voltar ao índice

A alegria é o próximo meio de construir relacionamentos que Paulo discute. “Não que tenhamos domínio sobre a sua fé, mas cooperamos com vocês para que tenham alegria, pois é pela fé que vocês permanecem firmes.” (2Co 1.24) Embora fosse um apóstolo com autoridade dada por Deus, Paulo trazia alegria aos outros por seu modo de liderança — não os dominando, mas trabalhando ao lado deles. Isso explica por que ele era um líder tão eficaz e por que as pessoas associadas a ele se tornaram colegas de trabalho fortes e confiáveis. As palavras de Paulo ecoam o que Jesus disse a seus discípulos quando eles estavam discutindo sobre quem entre eles era o maior:

Os reis das nações dominam sobre elas; e os que exercem autoridade sobre elas são chamados benfeitores. Mas vocês não serão assim. Ao contrário, o maior entre vocês deverá ser como o mais jovem, e aquele que governa, como o que serve. (Lucas 22.25-26)

A essência do trabalho cristão, sustenta Paulo, é nada menos do que trabalhar ao lado de outros para ajudá-los a alcançar maior alegria.

Como seria nosso local de trabalho se tentássemos trazer alegria aos outros pela maneira como os tratamos? [1] Isso não significa tentar fazer todos felizes o tempo todo, mas tratar os colegas de trabalho como pessoas de valor e dignidade, como Paulo fez. Quando prestamos atenção às necessidades dos outros no trabalho, incluindo a necessidade de sermos respeitados e a de sermos encarregados de um trabalho com significado, seguimos o exemplo do próprio Paulo.

A prioridade dos relacionamentos (2Co 2.12-16)

Voltar ao índice Voltar ao índice

Outro meio para promover interações saudáveis ​​no trabalho é simplesmente dedicar tempo e esforço para desenvolver e investir em relacionamentos. Tendo deixado Éfeso, Paulo foi para Trôade, uma cidade portuária na região noroeste da Ásia Menor, onde esperava que Tito chegasse de sua visita a Corinto (ver detalhes em Introdução a 2Coríntios, acima). Enquanto esteve lá, Paulo realizou o trabalho missionário com seu vigor habitual, e Deus abençoou seus esforços. Mas, apesar de um começo promissor em uma cidade de grande importância estratégica, [1] Paulo interrompeu seu trabalho em Trôade porque, como ele próprio diz, “não tive sossego em meu espírito, porque não encontrei ali meu irmão Tito” (2Co 2.13). Ele simplesmente não conseguia dar conta de seu trabalho, sua grande paixão, por causa da angústia que sentia por seu relacionamento tenso com os crentes de Corinto. Diante disso, partiu para a Macedônia, na esperança de encontrar Tito lá.

Duas coisas são impressionantes nessa passagem. Primeiro, Paulo atribui um valor significativo a seus relacionamentos com outros crentes. Ele não é capaz de permanecer indiferente e tranquilo quando esses relacionamentos estão em ruínas. Não podemos dizer com certeza absoluta que ele estava familiarizado com o ensino de Jesus sobre deixar o presente no altar e se reconciliar com o irmão (Mt 5.23-24), mas ele entendia claramente o princípio. Paulo está ansioso para ver as coisas consertadas e investe muita energia e oração para alcançar esse objetivo. Em segundo lugar, Paulo dá alta prioridade à reconciliação, mesmo que isso cause um atraso significativo em sua agenda de trabalho. Ele não tenta se convencer de que tem uma grande oportunidade para o ministério que não voltará a surgir e que, portanto, não pode se incomodar com os coríntios e suas necessidades momentâneas. Reparar a ruptura em seu relacionamento com eles tem prioridade.

A lição para nós é óbvia. Os relacionamentos são importantes. É claro que nem sempre podemos abandonar o que estamos fazendo a qualquer momento e atender a relacionamentos tensos. Mas não importa qual seja nossa tarefa, os relacionamentos são algo fundamental em nossa vida. As tarefas são importantes. Os relacionamentos são importantes. Então, no espírito de Mateus 5.23-24, quando ficamos sabendo — ou até suspeitamos — que um relacionamento foi perturbado ou rompido no decorrer do trabalho, fazemos bem em nos perguntar o que é mais urgente no momento, se a conclusão da tarefa ou a restauração de um relacionamento. A resposta pode variar, dependendo das circunstâncias. Se a tarefa é grande o suficiente, ou a tensão no relacionamento é séria o suficiente, fazemos bem não apenas em perguntar o que é mais urgente, mas também em buscar o conselho de um irmão ou irmã por quem temos respeito.

Sinceridade (2Co 2.17)

Voltar ao índice Voltar ao índice

Como em 2Coríntios 1.12, Paulo novamente aborda questões persistentes sobre sua demora em visitar Corinto. Os coríntios parecem ofendidos porque ele inicialmente não aceitou o apoio financeiro daquela igreja. Sua resposta é que se sustentar era uma questão de sinceridade. As pessoas poderiam confiar que ele realmente acreditava no que estava pregando, ou ele estava fazendo isso apenas para ganhar dinheiro, como os que negociavam “a palavra de Deus visando a algum lucro” (2Co 2.17), que podiam ser encontrados em qualquer cidade romana? Parece que ele não queria ser confundido com os filósofos e retóricos de sua época, que cobravam altas taxas por seus discursos. [1] Em vez disso, ele e seus colaboradores eram “pessoas sinceras”. Estava bastante claro que não estavam indo de um lugar para outro pregando o evangelho a fim de enriquecer, mas se viam como indivíduos enviados por Deus e que respondiam a Deus.

Isso nos lembra que a motivação não é apenas uma questão privada, especialmente quando se trata de dinheiro. A maneira como lidamos com o dinheiro brilha como um ponteiro laser sobre a questão de nossa sinceridade como cristãos. As pessoas querem ver se lidamos com o dinheiro de acordo com nossos princípios elevados ou se os abandonamos quando há dinheiro a ser ganho. Somos negligentes com os relatórios de despesas? Escondemos renda debaixo da mesa? Envolvemo-nos em abrigos fiscais duvidosos? Pressionamos por aumentos, comissões e bônus às custas dos outros? Tiramos vantagem financeira de pessoas em circunstâncias difíceis? Torcemos contratos para obter um ganho financeiro desproporcional? A questão não é apenas se podemos nos justificar, mas também se aqueles ao redor podem reconhecer que nossas ações são consistentes com as crenças cristãs. Caso contrário, desonraremos a nós mesmos e o nome de Cristo.


Uma reputação genuína (2Co 3)

Voltar ao índice Voltar ao índice

Paulo começa esta seção de 2Coríntios com duas perguntas retóricas, ambas esperando uma resposta negativa. [1] “Será que com isso estamos começando a nos recomendar a nós mesmos novamente? Será que precisamos, como alguns, de cartas de recomendação para vocês ou da parte de vocês?” (2Co 3.1) Paulo — o velho amigo dos coríntios — pergunta ironicamente se precisa das cartas de apresentação ou de recomendação que outros que se apresentaram à igreja aparentemente possuíam. Essas cartas eram comuns no mundo antigo e, em geral, não costumavam ser levadas muito a sério. O estadista romano Cícero escreveu dezenas deles, por exemplo, fazendo uso abundante da linguagem estereotipada de elogio que o gênero exigia. Os destinatários ficavam tão cansados disso, no entanto, que às vezes ele achava necessário escrever uma segunda carta, de modo que os destinatários tivessem certeza de que deveriam levar a primeira carta a sério. [2] Cartas de recomendação, em outras palavras, muitas vezes não valiam o papiro em que haviam sido escritas.

Paulo não tinha necessidade delas em nenhum aspecto. Os crentes de Corinto o conheciam intimamente. A única carta de recomendação que ele exigia já estava escrita no coração deles (2Co 3.3). Sua própria existência como igreja, bem como suas conversões individuais em resposta à pregação de Paulo, era tudo o que Paulo precisava ou queria em relação ao seu apostolado. Eles podiam ver o fruto do trabalho de Paulo, que não deixou dúvidas de que ele era um apóstolo enviado por Deus. Além disso, Paulo insiste que ele não está reivindicando competência com base em sua própria força. “Nossa capacidade vem de Deus” (2Co 3.5), ele escreve. A questão não é se Paulo acumulou credenciais e recomendações, mas se seu trabalho é uma contribuição para o reino de Deus.

Como construímos nossa reputação hoje? Nos Estados Unidos, muitos jovens escolhem suas atividades com base não em como podem contribuir da melhor forma para sua comunidade, ou mesmo com o que realmente gostam, mas pensando no peso que as atividades terão em uma inscrição para uma universidade ou escola de pós-graduação. Isso pode prosseguir durante nossa vida profissional, onde cada designação de trabalho, afiliação profissional, jantar e evento social são calculados para nos associarmos a pessoas e instituições de prestígio. Paulo escolheu suas atividades com base em como ele poderia servir melhor às pessoas que amava. Seguindo sua liderança, devemos trabalhar de modo a deixar evidências sólidas de trabalho bem-feito, de resultados duradouros e de pessoas cujas vidas foram impactadas para melhor.

Liderar e servir (2Co 4)

Voltar ao índice Voltar ao índice

O capítulo 4 de 2Coríntios reúne temas que estão intimamente relacionados na obra de Paulo — transparência, humildade, fraqueza, liderança e serviço. Como o estamos vendo trabalhar em uma situação da vida real, os temas se entrelaçam à medida que ele conta a história. Mas tentaremos discutir os temas, um de cada vez, a fim de explorar cada um deles da forma mais clara possível.

Transparência e humildade (2Co 4)

No capítulo 4, Paulo volta ao tema da transparência, como observamos em nossa discussão sobre 2Coríntios 1.12-23. Desta vez, ele enfatiza a importância da humildade para a manutenção da transparência. Se quisermos permitir que todos vejam a realidade de nossa vida e trabalho, é melhor estarmos preparados para sermos humildes.

Naturalmente, seria muito mais fácil ser transparente com as pessoas se não tivéssemos nada a esconder. O próprio Paulo diz: “Renunciamos aos procedimentos secretos e vergonhosos” (2Co 4.2). Mas a transparência exige que permaneçamos abertos, mesmo que tenhamos nos engajado em condutas não louváveis. Pois a verdade é que todos somos suscetíveis a erros de intenção e execução. “Temos esse tesouro em vasos de barro”, Paulo nos lembra (2Co 4.7), aludindo aos vasos domésticos típicos de sua época, feitos de barro comum e facilmente quebráveis. Qualquer pessoa que visite as ruínas do Antigo Oriente Próximo pode testemunhar os fragmentos desses vasos espalhados por toda parte. Paulo reforça essa ideia mais tarde, contando que Deus lhe deu um “espinho na carne” com o propósito de restringir seu orgulho (2Co 12.7).

Manter a transparência quando conhecemos as próprias fraquezas requer humildade e, especialmente, a disposição de oferecer um pedido de desculpas genuíno. Muitos pedidos de desculpas de figuras públicas soam mais como justificativas veladas do que como desculpas reais. Isso pode ocorrer porque, se dependermos de nós mesmos como fonte de confiança, pedir desculpas seria arriscar nossa capacidade de seguir em frente. No entanto, a confiança de Paulo não está em sua própria retidão ou capacidade, mas em sua dependência do poder de Deus. “Temos esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que o poder que a tudo excede provém de Deus, e não de nós” (2Co 4.7). Se nós também reconhecêssemos que as coisas boas que realizamos não são um reflexo de nós mesmos, mas de nosso Senhor, talvez pudéssemos ter a coragem de admitir nossos erros e esperar que Deus nos coloque de volta no caminho certo. No mínimo, poderíamos parar de sentir que temos de manter nossa imagem a todo custo, incluindo o custo de enganar os outros.

A fraqueza como fonte de força (2Co 4)

Nossa fraqueza, no entanto, não é apenas um desafio à transparência. Na verdade, é a fonte de nossas verdadeiras habilidades. Suportar o sofrimento não é um efeito colateral infeliz experimentado em algumas circunstâncias; é o meio real de gerar realizações genuínas. Assim como o poder da ressurreição de Jesus aconteceu por causa de sua crucificação, [1] a fortaleza dos apóstolos em meio à adversidade atesta o fato de que o mesmo poder está operando neles.

Em nossa cultura, assim como em Corinto, demonstramos força e invencibilidade porque sentimos que são necessárias para subir a escada do sucesso. Tentamos convencer as pessoas de que somos mais fortes, mais inteligentes e mais competentes do que realmente somos. Portanto, a mensagem de vulnerabilidade de Paulo pode parecer desafiadora para nós. Por acaso é aparente, na realização de seu trabalho, que a força e a vitalidade que você projeta não são suas, mas sim a força de Deus em sua fraqueza? Quando você recebe um elogio, você permite que ele aumente sua aura de brilhantismo? Ou você relata como Deus — talvez trabalhando por meio de outras pessoas — tornou possível que você excedesse seu potencial nativo? Geralmente, queremos que as pessoas nos percebam como ultracompetentes. Mas não são as pessoas que mais admiramos as que ajudam outras a exibirem seus dons?

Se resistirmos a circunstâncias difíceis sem tentar escondê-las, ficará evidente que temos uma fonte de poder fora de nós mesmos, o próprio poder que efetuou a ressurreição de Jesus dentre os mortos.

Servindo aos outros por meio da liderança (2Co 4)

A humildade e a fraqueza seriam insuportáveis ​​se nosso propósito na vida fosse nos tornar grandiosos. Mas o serviço, não a grandeza, é o propósito do cristão. “Não pregamos a nós mesmos, mas a Jesus Cristo, o Senhor, e a nós como escravos de vocês, por causa de Jesus.” (2Co 4.5) Este versículo é uma das declarações bíblicas clássicas do conceito que veio a ser conhecido como “liderança servidora”. Paulo, o principal líder do movimento cristão além dos limites da Palestina, chama a si mesmo de “escravos de vocês, por causa de Jesus” (2Co 4.5).

Mais uma vez, Paulo parece estar refletindo sobre os ensinamentos de Jesus aqui (ver 2Co 1.24 acima). Como líderes, Jesus e seus seguidores serviam aos outros. Essa percepção fundamentalmente cristã deve guiar nossa atitude em qualquer posição de liderança. Isso não significa que nos abstenhamos de exercer autoridade legítima ou que lideremos com timidez. Em vez disso, implica que usemos nossa posição e poder para promover o bem-estar dos outros, e não apenas o nosso. Na verdade, as palavras de Paulo “escravos de vocês, por causa de Jesus” são mais estritas do que podem parecer à primeira vista. Os líderes são chamados a buscar o bem-estar das pessoas antes do seu, como os escravos são obrigados a fazer. Um escravo, como Jesus apontou, trabalha o dia todo nos campos, depois entra e serve o jantar para a família, e só depois pode comer e beber (Lc 17.7-10).

Liderar os outros por meio do serviço inevitavelmente levará ao sofrimento. O mundo está quebrado demais para que possamos imaginar que há uma chance de escapar do sofrimento enquanto servimos. Paulo sofreu aflição, perplexidade e perseguição quase até a morte (2Co 4.8-12). Como cristãos, não devemos aceitar posições de liderança, a menos que pretendamos sacrificar o privilégio de cuidar de nós mesmos antes de cuidar dos outros.

Desempenho e responsabilidade (2Co 5.1-15)

Voltar ao índice Voltar ao índice

No capítulo 5 de 2Coríntios, Paulo, que constantemente enfrentava situações capazes de resultar em sua morte, lembra aos coríntios que, no juízo final, cada pessoa receberá “de acordo com as obras praticadas por meio do corpo, quer sejam boas quer sejam más” (2Co 5.10). Essas são palavras incomuns para Paulo (embora não tão incomuns quanto se poderia esperar; ver Rm 2.6-10), a quem normalmente associamos à doutrina da graça, o que afirma que nossa salvação é totalmente imerecida e não resulta de nossas próprias obras (Ef 2.8-9). É, no entanto, importante permitir que nossa imagem de Paulo seja formada pelo que ele realmente diz, e não por alguma caricatura. Quando analisamos o todo do ensino de Paulo, descobrimos que ele está em harmonia com o de Jesus, de Tiago e até com o do Antigo Testamento. Para todos eles, a fé que não se expressa em boas obras não é fé alguma. De fato, fé e obediência estão tão intimamente entrelaçadas que até mesmo Paulo pode, como faz aqui, referir-se à última, e não à primeira, quando na verdade tem as duas em mente. O que fazemos no corpo não pode deixar de refletir o que a graça de Deus fez por nós. O que agrada ao Senhor pode ser descrito como fé ou, como aqui, como obras de justiça possibilitadas pela graça de Deus.

De qualquer forma, a mensagem de Paulo é bastante clara: o modo como vivemos é importante para Deus. Em termos de local de trabalho, nosso desempenho é importante. Além disso, teremos de prestar contas ao Senhor Jesus por tudo que fizemos e deixamos de fazer. Em termos de local de trabalho, isso é responsabilidade. Desempenho e responsabilidade são profundamente importantes para a vida cristã, e não podemos descartá-las como preocupações seculares sem importância para Deus. Deus se importa se estamos relaxando, negligenciando nossos deveres, não comparecendo ao trabalho ou agindo sem atenção genuína.

Isso não significa que Deus sempre concorda com o que o trabalho espera de nós. A ideia de Deus sobre o bom desempenho pode ser diferente da de nosso gerente ou supervisor. Em particular, se atender às expectativas de desempenho de nosso empregador exigir atividades antiéticas ou prejudicar pessoas, a avaliação de desempenho feita por Deus será diferente da de nosso empregador. Se seu chefe espera que você engane os clientes ou deprecie seus colegas de trabalho, por amor a Deus tenha como meta uma avaliação de desempenho ruim de seu chefe e uma boa avaliação de Deus.

Deus nos mantém em um alto padrão de conduta. Um dia, responderemos pelo tratamento que damos aos colegas de trabalho, chefes, funcionários e clientes, sem mencionar nossa família e amigos. Isso não nega a doutrina da graça, mas, em vez disso, nos mostra como Deus pretende que sua graça transforme nossa vida.

Reconciliando o mundo inteiro (2Co 5.16-21)

Voltar ao índice Voltar ao índice

Se parece que Paulo está nos chamando para cerrar os dentes e nos esforçar mais para ser bons, então estamos perdendo o ponto de 2Coríntios. Paulo pretende que vejamos o mundo de uma maneira completamente nova, para que nossas ações resultem desse novo entendimento, não de nosso esforço exacerbado.

Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas! Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação. (2Co 5.17-19)

Paulo deseja que nos tornemos tão completamente transformados a ponto de nos tornarmos membros de uma “nova criação”. A menção de “criação” imediatamente nos leva de volta a Gênesis 1—2, o relato da criação do mundo por Deus. Desde o início, Deus pretendia que homens e mulheres trabalhassem juntos (Gn 1.27; 2.18), em harmonia com Deus (Gn 2.19), para “cultivar" a terra (Gn 2.15), dar “nomes” às criaturas da terra e exercer “domínio” (Gn 2.20; 1.26) sobre a terra como mordomos dele. A intenção de Deus para a criação, em outras palavras, inclui o trabalho como uma realidade central da existência. Quando os seres humanos desobedeceram a Deus e macularam a criação, o trabalho tornou-se amaldiçoado (Gn 3.17-18), e os seres humanos não trabalharam mais ao lado de Deus. Assim, quando Paulo diz “eis que surgiram coisas novas”, as “coisas novas” incluem o mundo do trabalho como elemento central.

Deus traz a nova criação à existência, enviando seu Filho à velha criação para transformá-la ou “reconciliá-la”. “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo.” Não apenas um aspecto do mundo, mas o mundo inteiro. E aqueles que seguem a Cristo, que são reconciliados com Deus por Cristo, são designados para continuar a obra de reconciliação de Cristo (2Co 5.18). Somos agentes para levar a reconciliação a todas as esferas do mundo. Todos os dias, ao sair para o trabalho, devemos ser ministros dessa reconciliação. Isso inclui a reconciliação entre pessoas e Deus (evangelismo e discipulado), entre pessoas e pessoas (resolução de conflitos) e entre pessoas e seu trabalho (bens e serviços que atendem a necessidades genuínas e melhoram a qualidade de vida e cuidam da criação de Deus).

Existem três elementos essenciais do trabalho de reconciliação. Primeiro, devemos entender com precisão o que deu errado entre as pessoas, Deus e a criação. Se não entendermos verdadeiramente os males do mundo, não poderemos trazer reconciliação genuína, assim como um embaixador não pode representar efetivamente um país para outro sem saber o que está acontecendo em ambos. Em segundo lugar, devemos amar as pessoas e trabalhar para beneficiá-las, em vez de julgá-las. “De agora em diante, a ninguém mais consideramos do ponto de vista humano”, Paulo nos diz (2Co 5.16) — isto é, como um objeto a ser explorado, eliminado ou adulado, mas como uma pessoa por quem Cristo “morreu e ressuscitou” (2Co 5.15). Se condenamos as pessoas no trabalho ou nos afastamos dos ambientes cotidianos de vida e trabalho, estamos considerando as pessoas e o trabalho de um ponto de vista humano. Se amarmos as pessoas com quem trabalhamos e tentarmos melhorar o local de trabalho, os produtos e os serviços, nos tornaremos agentes da reconciliação de Cristo. Por fim, ser sementes da criação de Deus, é claro, requer que permaneçamos em constante comunhão com Cristo. Se fizermos essas coisas, estaremos em condições de trazer o poder de Cristo para reconciliar as pessoas, as organizações, os lugares e as coisas do mundo, para que eles também possam se tornar membros da nova criação de Deus.

A transparência revisitada (2Co 6.11)

Voltar ao índice Voltar ao índice

Como observamos anteriormente (em 2Co 1.12-23), a transparência é um tema recorrente nesta carta, e ressurge aqui, quando Paulo escreve: “Falamos abertamente a vocês, coríntios, e abrimos todo o nosso coração!” (2Co 6.11). Podemos dizer que sua vida era um livro aberto diante deles. Embora não acrescente nada de novo ao que disse anteriormente, fica cada vez mais aparente a importância para ele do tema da transparência. Quando surgem dúvidas sobre seu ministério, ele pode apelar para suas relações anteriores com os coríntios com absoluta certeza de que sempre foi honesto com eles sobre si mesmo. Podemos dizer o mesmo de nós?

Trabalhando com descrentes (2Co 6.14-18)

Voltar ao índice Voltar ao índice

Em 2Coríntios 6.14-18 Paulo aborda a questão de ser incompatível (literalmente estar “em jugo desigual”) com não-cristãos. Isso tem implicações tanto para o casamento (que está fora do nosso escopo aqui) quanto para as relações de trabalho. Até este ponto, Paulo retratou vividamente a importância de bons relacionamentos com as pessoas com quem vivemos e trabalhamos. Paulo diz em 1Co 5.9-10 que devemos trabalhar com não-cristãos, e ele discute como fazê-lo em 1Co 10.25-33. (Veja “A glória de Deus é o objetivo final” (1Co 10) para saber mais).

Aqui, Paulo nos adverte sobre acordos de trabalho com não crentes, invocando uma referência a Deuteronômio 22.10, que adverte contra arar a terra usando um boi e um jumento no mesmo jugo. Talvez isso ocorresse porque o jumento lutaria para puxar a carga do boi e o boi não conseguiria andar no ritmo mais rápido do jumento. Em 2Coríntios, Paulo parece estar falando sobre uma realidade espiritual mais profunda, aconselhando o povo de Deus a ter cuidado com pessoas que servem à maldade, às trevas, à adoração de ídolos e ao próprio Satanás (2Co 6.14-15).

Embora sejamos claramente chamados a amar, servir e trabalhar com os não crentes, Paulo diz que não fiquemos em “jugo desigual” com eles. O que significa estar em jugo desigual? A resposta está no contraste de estar no mesmo jugo com Jesus, que diz: “Tomem sobre vocês o meu jugo” (Mt 11.29). Uma parte do jugo está ao nosso redor e a outra está sobre os ombros de Jesus. Jesus, como o principal boi em uma equipe, determina nossa orientação, ritmo e caminho, e nos submetemos a sua liderança. Por meio de seu jugo, sentimos seu puxão, sua orientação e sua direção. Por seu jugo, ele nos treina para trabalhar em sua equipe de forma eficaz. Seu jugo é o que nos guia, nos sensibiliza e nos liga a ele. Estar sob o jugo de Jesus nos torna parceiros dele na restauração da criação de Deus em todas as esferas da vida, como exploramos em 2Co 5.16-21. Nenhum outro jugo que nos afaste do de Jesus poderia ser igual a esse! “O meu jugo é suave e o meu fardo é leve”, Jesus nos diz (Mt 11.30). No entanto, o trabalho que estamos fazendo com ele nada mais é do que a transformação de todo o cosmos.

Quando Paulo nos diz que não estejamos em jugo desigual nas relações de trabalho, está nos alertando para não nos envolvermos em compromissos de trabalho que nos impeçam de fazer o trabalho que Jesus tem para nós ou de trabalhar sob o jugo dele. Isso tem um forte elemento ético. “O que têm em comum a justiça e a maldade?”, Paulo pergunta (2Co 6.14). Se os ditames de um compromisso de trabalho nos levarem a prejudicar clientes, enganar eleitores, desviar funcionários, abusar de colegas de trabalho, poluir o meio ambiente ou algo assim, então fomos submetidos a um jugo que viola nossos deveres como mordomos do reino de Deus. Além disso, estar sob o jugo de Jesus nos leva a trabalhar para reconciliar e renovar o mundo, à luz das promessas de Deus sobre a vinda do “reino”.

Estar em jugo desigual com incrédulos, então, é estar em uma situação ou relacionamento que o vincula às decisões e ações de pessoas que têm valores e propósitos incompatíveis com os valores e propósitos de Jesus. Provavelmente faríamos — e deveríamos — fazer todo o possível para evitar trabalhar com pessoas que nos forçariam a agir contra nossas crenças. Mas, fora isso, muitas das motivações, valores e métodos de trabalho de nossos supervisores e colegas na maioria dos locais de trabalho podem não ser compatíveis com nossas crenças como cristãos. E o ambiente e as crenças daqueles com quem você trabalha podem ter uma influência negativa em sua fé e experiência de vida cristã. No entanto, a maioria de nós trabalha entre incrédulos, o que, como observamos, Paulo assume ser a situação normal para os cristãos. Então como devemos aplicar sua proibição contra o jugo desigual?

Vamos começar analisando o emprego. Emprego é um acordo em que você faz o trabalho acertado em troca da remuneração acordada. Tendo em vista que você pode rescindi-lo de forma voluntária e justa, caso ele se torne prejudicial a você ou a terceiros, você é livre para desvincular-se dele. Como saber se é preciso desvincular-se de um acordo de emprego ou encerrá-lo? Veremos duas situações muito diferentes.

Primeiro, imagine que você é funcionário de uma organização de modo geral ética, mas está cercado por pessoas que não compartilham de suas crenças e cuja influência está prejudicando sua vida de fé. Esse discernimento pode ser diferente para crentes diferentes. Alguns são capazes de manter a fé em meio às tentações e à descrença ao seu redor, enquanto outros não. Tentações como dinheiro, poder, imoralidade sexual e reconhecimento podem ser avassaladoras em muitos ambientes de trabalho, e a proibição de Paulo sugere que é melhor se afastar desse “jugo” de emprego do que ser contaminado em corpo e espírito ou comprometer seu relacionamento com o Senhor. Em contrapartida, existem aqueles que são capazes de trabalhar em meio a essas tentações como testemunhas da verdade, do amor e da esperança do evangelho. Geralmente, eles precisam de alguém que esteja fora das tentações do seu trabalho para ajudá-los a manter a fé.

Ester é um exemplo interessante desse tipo de situação. Deus a chamou para o harém do rei Assuero, para que ela pudesse servir como protetora de seu povo judeu (Et 4.12-16). As tentações desse “trabalho” eram proteger seu status e privilégio como rainha escolhida pelo rei (Et 4.11-12). Ela poderia ter sucumbido às tentações dessa vida luxuosa se seu tio, Mardoqueu, não tivesse entrado em contato com ela diariamente (Et 2.11) para guiá-la e, por fim, convocá-la a arriscar a vida para salvar seu povo (Et 4.8). (Veja “Trabalhando dentro de um sistema caído (Ester)” para mais informações.)

Ester tinha considerável influência junto ao rei, mas também era extremamente vulnerável ao descontentamento dele. Esse parece ser um caso claro de estar “em jugo desigual”. No entanto, no final, seu jugo com Deus se mostrou mais forte do que seu jugo com o rei, porque ela estava disposta a arriscar a vida para fazer a vontade de Deus. Isso sugere que, quanto mais disposto você estiver a sofrer as consequências de dizer “não” quando solicitado a violar suas crenças, mais estreito será o relacionamento que poderá ter com os incrédulos, e ainda permanecer sob o jugo de Jesus. Uma implicação importante disso é evitar se tornar tão dependente de um emprego que não possa se dar o luxo de sair. Se você assumir despesas e dívidas até, ou mesmo acima, do seu nível de renda, qualquer trabalho pode rapidamente se tornar uma espécie de jugo desigual. Adotar um padrão de vida mais modesto e acumular amplas economias — se possível — pode tornar muito mais fácil permanecer no jugo de Cristo, se as coisas derem errado no trabalho.

Um segundo exemplo de “jugo desigual” pode ser uma parceria comercial com um descrente. Seria uma parceria muito mais igualitária em termos de poder, mas igualmente arriscada em termos de ética. Quando um parceiro assina um contrato, gasta dinheiro, compra ou vende propriedades — ou viola a lei —, o outro parceiro está vinculado a essa ação ou decisão. Esse tipo de parceria poderia ser mais parecido com o boi e o jumento — dois parceiros puxando em direções opostas. Além disso, sabemos por experiência que mesmo parcerias entre dois crentes incluem algum risco, já que os cristãos continuam a ser pecadores. Todas as parcerias de negócios, portanto, exigem sabedoria e discernimento, bem como a capacidade e a disposição de rescindir essa parceria, se necessário, mesmo que isso seja muito caro. A proibição de Paulo em 2Coríntios 6 deve, no mínimo, servir como motivo de oração e discernimento antes de entrar em uma parceria, e talvez para incluir limitações contratuais ao acordo.

Existem muitos outros tipos de relações de trabalho, é claro, incluindo compra e venda, investimento, contratação e subcontratação, e associações comerciais. A advertência de Paulo contra o jugo desigual pode nos ajudar a discernir como e quando entrar em tais relacionamentos e, talvez mais importante, como e quando sair deles. Em todos esses relacionamentos, o perigo aumenta quando nos tornamos mais dependentes deles do que de Cristo.

Por fim, devemos ter cuidado para não transformar as palavras de Paulo em uma mentalidade nós contra eles, descrentes. Não podemos julgar ou condenar os descrentes como inerentemente antiéticos porque o próprio Paulo se recusou a fazê-lo. “Pois como haveria eu de julgar os de fora da igreja? Não devem vocês julgar os que estão dentro? Deus julgará os de fora.” (1Co 5.12-13) A verdade é que nós mesmos precisamos da graça de Cristo todos os dias para nos impedir de desviar os outros devido a nosso pecado. Não somos chamados para julgar, mas para discernir se nosso trabalho está cumprindo os propósitos e seguindo os caminhos de Cristo.

O encorajamento do elogio (2Co 7)

Voltar ao índice Voltar ao índice

Imediatamente depois de admoestar os coríntios, Paulo os elogia. “Tenho grande confiança em vocês, e de vocês tenho muito orgulho.” (2Co 7.4) Pode ser uma surpresa para alguns encontrar Paulo se gabando de forma tão assumida sobre a igreja em Corinto. Muitos de nós fomos criados para acreditar que o orgulho é um pecado (o que, obviamente, é bem verdade) e que até mesmo esse orgulho pelas realizações de outra pessoa é questionável. Além disso, podemos nos perguntar se o orgulho de Paulo pelos coríntios é equivocado. Essa congregação era assolada por muitas dificuldades, e há algumas repreensões pungentes em suas cartas a ela. Paulo não usa óculos cor de rosa quando se trata dos coríntios, mas não se deixa abalar por essas preocupações. Não se esquiva de elogiar onde o elogio é devido, e parece estar genuinamente orgulhoso do progresso dos crentes em Corinto, apesar das relações tensas com eles. Paulo observa que seu orgulho por eles é bem-merecido, não um truque barato de bajulação (2Co 7.11-13). Em 2Coríntios 7.14, ele reafirma o caráter genuíno do elogio ao dizer: “Da mesma forma que era verdade tudo o que dissemos, o orgulho que temos de vocês diante de Tito também mostrou-se verdadeiro”.

Isso nos lembra da importância de elogios específicos, precisos e oportunos para colegas de trabalho, funcionários e outras pessoas com quem interagimos no trabalho. Elogios inflados ou generalizados são vazios e podem parecer falsos ou manipuladores. Já a crítica implacável destrói em vez de edificar. Entretanto, palavras de genuíno apreço e gratidão pelo trabalho bem-feito são sempre apropriadas. Evidenciam respeito mútuo, a base da verdadeira comunidade, e motivam todos a dar continuidade ao bom trabalho. Todos estamos ansiosos para ouvir o Senhor nos dizer “muito bem, servo bom e fiel!” (Mt 25.21), e agimos bem em elogiar de forma semelhante sempre que necessário.

A generosidade não é opcional (2Co 8.1-9)

Voltar ao índice Voltar ao índice

Como observamos na introdução, 2Coríntios 8 e 9 formam uma seção separada da carta de Paulo, na qual ele aborda o tópico da coleta para as igrejas da Judeia. Esse projeto era uma paixão do apóstolo, e ele o promoveu vigorosamente em suas igrejas (1Co 16.1-3). Paulo começa esta seção apontando para a generosidade exemplar das igrejas na Macedônia e insinuando não esperar nada menos dos coríntios. Assim como os crentes em Corinto demonstraram abundância de fé e capacidade de proclamar a verdade, [1] conhecimento, dedicação completa e amor, também deveriam se esforçar para abundar no “privilégio de contribuir” (gr. Charis, “graça” na ARA e ARC). O termo “dom” tem um duplo significado aqui: “dom espiritual” — referindo-se à dádiva de Deus quanto à virtude da generosidade — e “doação”, referindo-se a suas doações em dinheiro para a coleta. Isso deixa duplamente claro que a generosidade não é uma opção para os cristãos, mas parte da obra do Espírito em nossa vida.

No local de trabalho, um espírito generoso é o óleo que faz as coisas correrem bem em vários níveis. Os funcionários que sentem que seus empregadores são generosos estarão mais dispostos a fazer sacrifícios por sua organização quando for necessário. Os trabalhadores generosos com os colegas de trabalho criarão uma fonte de ajuda para si mesmos e uma experiência mais alegre e satisfatória para todos.

A generosidade nem sempre é uma questão de dinheiro. Para citar apenas alguns exemplos, os empregadores podem ser generosos dedicando tempo para orientar os trabalhadores, proporcionando um local de trabalho agradável, oferecendo oportunidades de treinamento e desenvolvimento, ouvindo genuinamente o problema ou a reclamação de alguém ou visitando um membro da família de um funcionário no hospital. Colegas de trabalho podem oferecer generosidade ajudando-se a realizar melhor o trabalho, certificando-se de que ninguém seja deixado de fora socialmente, defendendo aqueles que sofrem abuso, oferecendo amizade verdadeira, compartilhando elogios, pedindo desculpas por ofensas e simplesmente aprendendo o nome dos trabalhadores que poderiam, de outra forma, ser invisíveis para nós. Steve Harrison conta a história de dois residentes de cirurgia da Universidade de Washington que competiram para ver quem conseguiria aprender o nome de mais auxiliares de enfermagem, zeladores, pessoal de transporte e nutricionistas e, então, cumprimentá-los pelo nome sempre que os viam. [2]

Cumprimento oportuno das obrigações (2Co 8.10-12)

Voltar ao índice Voltar ao índice

Paulo lembra aos crentes em Corinto que, no ano anterior, eles já haviam sinalizado a intenção de participar da coleta para as igrejas da Judeia, e que aparentemente haviam se desviado do caminho. Talvez dúvidas persistentes sobre o ministério de Paulo e as tensões que surgiram durante sua visita anterior desempenhassem um papel aqui. De qualquer forma, seu esforço estava diminuindo e, no momento em que Paulo escreve, eles ainda não haviam reunido todas as contribuições dos membros, como ele os havia instruído (1Co 16.1-3).

O conselho de Paulo é direto: “Agora, completem a obra, para que a forte disposição de realizá-la seja igualada pelo zelo em concluí-la, de acordo com os bens que vocês possuem” (2Co 8.11). Essa palavra de Paulo é tão relevante agora quanto era então, especialmente no trabalho. O que começamos devemos terminar. Obviamente, há muitas situações em que as circunstâncias mudam ou outras prioridades se apresentam, obrigando-nos a ajustar os compromissos. É por isso que Paulo acrescenta: “De acordo com os bens que vocês possuem”. Mas, muitas vezes, como na situação dos coríntios, o problema é simplesmente arrastar os pés. Paulo nos lembra da necessidade de cumprir nossos compromissos. Pessoas contam conosco.

Esse conselho pode parecer simples demais para precisar ser mencionado na palavra de Deus. No entanto, os cristãos subestimam sua importância como uma questão de testemunho, além de produtividade. Se não cumprirmos os compromissos comuns no trabalho, como nossas palavras ou ações poderão convencer as pessoas de que nosso Senhor cumprirá sua promessa de vida eterna? É melhor entregar um relatório, uma peça ou um aumento pontualmente do que apresentar um argumento na hora do almoço em defesa da divindade de Cristo.

Compartilhar a riqueza (2Co 8.13-15)

Voltar ao índice Voltar ao índice

Paulo lembra aos coríntios o princípio por trás da coleta. “No presente momento, a fartura de vocês suprirá a necessidade deles.” (2Co 8.14) Não se trata de que as igrejas da Judeia deviam experimentar alívio em detrimento das igrejas dos gentios, mas sim que deveria haver um equilíbrio apropriado entre elas. Os crentes estavam em necessidade, e a igreja de Corinto experimentava certa medida de prosperidade. Talvez chegasse o tempo em que a situação se invertesse, e então a ajuda fluiria em outra direção, “para que, por sua vez, a fartura deles supra a necessidade de vocês” (2Co 8.14).

Paulo invoca duas imagens para explicar o que ele quer dizer. A primeira, o equilíbrio, é abstrata, mas, no mundo antigo, como agora, apela a nossa percepção de que, no mundo natural e na sociedade, o equilíbrio leva à estabilidade e à saúde. [1] O destinatário se beneficia porque o presente alivia uma falta anormal. O doador se beneficia porque a dádiva impede a aclimatação a uma abundância insustentável. A segunda imagem é concreta e histórica. Paulo lembra aos coríntios dos dias antigos, quando Deus deu o maná ao povo de Israel como sustento (Êx 16.11-18). Embora alguns coletassem muito e outros comparativamente pouco, quando a ração diária era distribuída, ninguém tinha pouco ou muito.

O princípio de que os mais ricos devem dar sua riqueza aos mais pobres na medida em que os recursos de todos estejam em “igualdade” é um desafio à noção moderna de autossuficiência. Aparentemente, quando Paulo chama os cristãos de “escravos de vocês, por causa de Jesus” (2Co 4.5), ele quer dizer que 100% de nosso salário e riqueza pertencem diretamente a Deus, e que Deus pode querer que os distribuamos a outros a tal ponto que a renda que guardamos para uso pessoal esteja em equilíbrio com a deles.

Devemos ter cuidado, entretanto, para não fazer aplicações simplistas às estruturas do mundo de hoje. Uma discussão completa desse princípio entre os cristãos tornou-se difícil por prender-se a debates políticos sobre socialismo e capitalismo. A questão nesses debates é se o Estado tem o direito — ou o dever — de impor o equilíbrio da riqueza, tirando dos mais ricos e distribuindo aos mais pobres. Essa é uma questão diferente da situação de Paulo, na qual um grupo de igrejas pediu a seus membros que voluntariamente doassem dinheiro para distribui-lo a outra igreja, em benefício de seus membros pobres. Na verdade, Paulo não menciona o Estado. Quanto a si mesmo, diz que não tem planos de obrigar ninguém. “Não estou dando uma ordem” (2Co 8.8), ele nos diz, e que a coleta não deve ser feita “com pesar ou por obrigação” (2Co 9.7).

O propósito de Paulo não é criar um sistema social específico, mas perguntar àqueles que têm dinheiro se estão realmente dispostos a colocá-lo a serviço de Deus em favor dos pobres. “Demonstrem a esses irmãos a prova do amor que vocês têm e a razão do orgulho que temos de vocês”, ele implora (2Co 8.24). Os cristãos devem se envolver em ampla discussão sobre as melhores maneiras de aliviar a pobreza. É por meio de doações, de investimentos, de outra coisa ou de algum tipo de mistura de opções? Que papel desempenham as estruturas da igreja, as empresas, o governo e as organizações sem fins lucrativos? Que aspectos de sistemas jurídicos, infraestrutura, educação, cultura, responsabilidade pessoal, administração, trabalho árduo e outros fatores devem ser reformados ou desenvolvidos? Os cristãos precisam estar na vanguarda do desenvolvimento não apenas de meios generosos, mas eficazes de acabar com a pobreza. [2]

Mas não pode haver dúvidas sobre a urgência premente da pobreza e nenhuma relutância em equilibrar o uso do dinheiro com as necessidades das pessoas ao redor do mundo. As palavras enérgicas de Paulo mostram que aqueles que desfrutam da superabundância não podem ser complacentes quando tantas pessoas no mundo sofrem de pobreza extrema.

Você não pode dar mais do que Deus (2Co 9)

Voltar ao índice Voltar ao índice

Ao exortar os crentes coríntios a doarem generosamente, Paulo está ciente de que deve abordar uma preocupação muito humana em um mundo de recursos limitados. Alguns de seus ouvintes devem ter pensado: “Se eu der tão altruisticamente quanto Paulo está me exortando a dar, pode não haver o suficiente para atender a minhas próprias necessidades”. Fazendo uso de uma metáfora agrícola mais ampla, Paulo lhes assegura que, na economia de Deus, as coisas funcionam de maneira diferente. Ele já fez alusão a um princípio do livro de Provérbios, observando que “aquele que semeia pouco também colherá pouco, e aquele que semeia com fartura também colherá fartamente” (compare 2Co 9.6 com Pv 11.24-25). Em seguida, citou um aforismo da versão grega de Provérbios 22.8, que diz que “Deus ama quem dá com alegria’” (2Co 9.7). A partir disso, ele infere uma promessa de que, para aquele que dá generosamente, Deus pode e liberará abundantemente todo tipo de bênçãos [1] .

Paulo, portanto, assegura aos coríntios que sua generosidade não vem com o risco de pobreza futura. Pelo contrário, a generosidade é o caminho para prevenir privação futura. “Deus é poderoso para fazer que toda a graça lhes seja acrescentada, para que em todas as coisas, em todo o tempo, tendo tudo o que é necessário, vocês transbordem em toda boa obra” (2Co 9.8). Nos dois versículos seguintes, assegura àqueles que semeiam (ou “distribuem”) generosamente para os pobres que Deus lhes fornecerá semente suficiente para essa semeadura e para o pão de sua subsistência. Ele ressalta isso quando diz: “Vocês serão enriquecidos de todas as formas, para que possam ser generosos em qualquer ocasião e, por nosso intermédio, a sua generosidade resulte em ação de graças a Deus” (2Co 9.11), uma promessa que não só abrange as bênçãos materiais, mas vai além.

Embora Paulo esteja falando claramente de generosidade material e bênçãos, devemos ter cuidado para não transformar a certeza da provisão de Deus em uma expectativa de ficar rico. Deus não é um esquema de pirâmide! A frase “enriquecidos de todas as formas” usada por Paulo significa “ter o suficiente de tudo”, não ficar rico. O chamado “evangelho da prosperidade” tem uma interpretação profundamente errada de passagens como essa. Seguir a Deus não é um esquema para ganhar dinheiro, como Paulo se esforçou em dizer ao longo da carta.

Embora haja aplicações óbvias na distribuição dos frutos de nosso trabalho, ou seja, na doação de dinheiro e outros recursos, isso se aplica igualmente bem ao dar de nós mesmos durante nosso trabalho. Não precisamos temer que, ao ajudar os outros a serem bem-sucedidos no trabalho, comprometeremos nosso próprio bem-estar. Deus prometeu nos dar tudo o que precisamos. Podemos ajudar os outros a ter uma boa performance no trabalho, sem temer que isso ofusque nosso brilho. Podemos competir de forma justa no mercado sem nos preocupar com a possibilidade de lançar mão de alguns truques sujos para ganhar a vida em um negócio competitivo. Podemos orar, encorajar, apoiar e até ajudar nossos rivais, porque sabemos que Deus, e não nossa vantagem competitiva, é a fonte de nossa provisão. Devemos ter cuidado para não distorcer essa promessa com o falso evangelho de saúde e riqueza, como muitos fizeram. Deus não promete aos verdadeiros crentes uma casa grande e um carro caro. Mas ele nos garante que, se olharmos para as necessidades dos outros, ele garantirá que nossas necessidades sejam atendidas no processo.

Avaliação de desempenho (2Co 10—13)

Voltar ao índice Voltar ao índice

Como observamos na introdução, os capítulos de 10 a 13 de 2Coríntios constituem a terceira seção da carta. As partes mais relevantes para o trabalho vêm nos capítulos 10 e 11, que expandem a discussão sobre desempenho no trabalho, que começou no capítulo 5. Aqui, Paulo está se defendendo dos ataques de algumas pessoas que ele chama jocosamente de “superapóstolos” (2Co 11.5). Ao fazê-lo, ele oferece insights específicos diretamente aplicáveis ​​à avaliação de desempenho.

Os falsos superapóstolos vinham criticando Paulo por não estar à altura deles em termos de eloquência, carisma pessoal e evidência de sinais e maravilhas. Naturalmente, os “padrões” que eles escolheram nada mais eram do que descrição de si mesmos e de seus ministérios. Paulo aponta o absurdo do jogo que eles praticavam. As pessoas cujo julgamento se dá por autocomparação sempre estarão satisfeitas consigo. Paulo se recusa a concordar com esse esquema egoísta. No que lhe diz respeito, como já havia explicado em 1Coríntios 4.1-5, o único julgamento — e, portanto, a única recomendação — que vale a pena é o julgamento do Senhor Jesus.

A perspectiva de Paulo tem relevância direta no trabalho. Nosso desempenho no trabalho provavelmente será avaliado em revisões trimestrais ou anuais, e certamente não há nada de errado nisso. O problema se configura quando os padrões de automedição e de medição alheia são tendenciosos e egoístas. Em algumas organizações — em geral, aquelas que prestam contas apenas a seus proprietários e clientes —, um pequeno círculo de pessoas íntimas pode adquirir a capacidade de julgar o desempenho de outras, principalmente com base no fato de atender aos interesses próprios desse círculo interno. Aqueles que estão fora dele são, então, avaliados principalmente em termos de “estar conosco” ou “contra nós”. É difícil nos encontrarmos nessa situação, mas como os cristãos avaliam o sucesso pela avaliação de Deus e não pela promoção, pelo salário ou até mesmo pela permanência no emprego, talvez sejamos exatamente as pessoas que podem trazer redenção a essas organizações corruptas. Se devemos nos ver como beneficiários de sistemas corruptos e egoístas, que melhor testemunho de Cristo poderíamos encontrar do que defender outros que foram prejudicados ou marginalizados, mesmo às custas de nosso próprio conforto e segurança?

Resumo e conclusão de 2Coríntios

Voltar ao índice Voltar ao índice

As circunstâncias únicas que levaram Paulo a escrever 2Coríntios resultaram em uma carta com muitas lições importantes para o trabalho, os trabalhadores e os locais de trabalho. Paulo enfatiza repetidamente a importância da transparência e da integridade. Exorta seus leitores a investirem em relacionamentos bons e alegres no trabalho e a buscarem a reconciliação quando os relacionamentos são rompidos. Avalia o trabalho piedoso em termos de serviço, liderança, humildade, generosidade e a reputação que conquistamos por meio de nossas ações. Argumenta que o desempenho, a responsabilidade e o cumprimento oportuno das obrigações são deveres essenciais dos cristãos no trabalho. Fornece padrões para uma avaliação de desempenho imparcial. Explora as oportunidades e os desafios de trabalhar com descrentes. Implora que usemos a riqueza obtida com o trabalho para o bem da comunidade, a ponto de usá-la igualmente para beneficiar os outros e a nós. Assegura-nos que, ao fazer isso, aumentamos nossa segurança financeira, em vez de diminuí-la, porque passamos a depender do poder de Deus, e não de nossa própria fraqueza.

As palavras de Paulo são extremamente desafiadoras ao afirmar que servir aos outros, mesmo ao ponto do sofrimento, é o caminho para ser eficaz na economia de Deus, assim como o próprio Jesus nos deu a salvação por meio de seu sofrimento na cruz. Paulo, embora esteja muito aquém da perfeição divina de Jesus, está disposto a viver sua vida como um livro aberto, um exemplo de como a força de Deus supera a fragilidade humana. Por causa de sua franqueza, Paulo tem credibilidade quando afirma que trabalhar segundo a orientação, os propósitos e os valores de Deus é realmente o caminho para uma vida mais plena. Ele nos transmite as palavras do próprio Senhor Jesus: “Minha graça é suficiente a você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co 12.9). Essa admoestação é tão importante para nosso trabalho hoje quanto foi para os coríntios, quando Paulo escreveu esta carta fascinante.

Versículos e temas-chave em 2Coríntios

Voltar ao índice Voltar ao índice

Versículo

Tema

2Co 1.3-4 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para que, com a consolação que recebemos de Deus, possamos consolar os que estão passando por tribulações.

Nossa experiência de adversidade e sofrimento pode ser um recurso para os outros.

2Co 1.12 Este é o nosso orgulho: A nossa consciência dá testemunho de que nos temos conduzido no mundo, especialmente em nosso relacionamento com vocês, com santidade e sinceridade provenientes de Deus, não de acordo com a sabedoria do mundo, mas de acordo com a graça de Deus.

A transparência convencerá os outros de que nossos motivos são puros.

2Co 1.24 Não que tenhamos domínio sobre a sua fé, mas cooperamos com vocês para que tenham alegria, pois é pela fé que vocês permanecem firmes.

Liderança envolve serviço que aumenta a alegria dos outros.

2Co 2.12-13 Quando cheguei a Trôade para pregar o evangelho de Cristo e vi que o Senhor me havia aberto uma porta, ainda assim, não tive sossego em meu espírito, porque não encontrei ali meu irmão Tito. Por isso, despedi-me deles e fui para a Macedônia.

Relacionamentos saudáveis ​​devem estar no topo de nossa lista de prioridades.

2Co 2.17 Ao contrário de muitos, não negociamos a palavra de Deus visando a algum lucro; antes, em Cristo falamos diante de Deus com sinceridade, como homens enviados por Deus.

A integridade exige a máxima sinceridade.

2Co 3.1-2, 5-6 Será que com isso estamos começando a nos recomendar a nós mesmos novamente? Será que precisamos, como alguns, de cartas de recomendação para vocês ou da parte de vocês? Vocês mesmos são a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos. [...] Não que possamos reivindicar qualquer coisa com base em nossos próprios méritos, mas a nossa capacidade vem de Deus. Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica.

As armadilhas externas do sucesso não garantem competência e integridade.

2Co 4.1-2 Portanto, visto que temos este ministério pela misericórdia que nos foi dada, não desanimamos. Antes, renunciamos aos procedimentos secretos e vergonhosos; não usamos de engano nem torcemos a palavra de Deus. Ao contrário, mediante a clara exposição da verdade, recomendamo-nos à consciência de todos, diante de Deus.

Nossa conduta deve ser tão irrepreensível a ponto de que nunca temamos o escrutínio.

2Co 4.5 Mas não pregamos a nós mesmos, mas a Jesus Cristo, o Senhor, e a nós como escravos de vocês, por causa de Jesus.

Liderança significa exercer autoridade para o bem dos outros.

2Co 4.7-11 Mas temos esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que o poder que a tudo excede provém de Deus, e não de nós. De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos. Trazemos sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo. Pois nós, que estamos vivos, somos sempre entregues à morte por amor a Jesus, para que a sua vida também se manifeste em nosso corpo mortal.

Se nos mostrarmos como mais fortes do que realmente somos, perderemos a oportunidade de apontar para a verdadeira fonte de nossa força.

2Co 5.10 Pois todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba de acordo com as obras praticadas por meio do corpo, quer sejam boas quer sejam más.

A maneira como nos conduzimos é importante para Deus.

2Co 6.11, 7.2 Falamos abertamente a vocês, coríntios, e abrimos todo o nosso coração! [...] Concedam-nos lugar no coração de vocês. A ninguém prejudicamos, a ninguém causamos dano, a ninguém exploramos.

A transparência oferecerá prova de integridade.

2Co 7.4, 14 Tenho grande confiança em vocês, e de vocês tenho muito orgulho. [...] Eu lhe tinha dito que estava orgulhoso de vocês, e vocês não me decepcionaram. Da mesma forma que era verdade tudo o que dissemos, o orgulho que temos de vocês diante de Tito também mostrou-se verdadeiro.

Não devemos ser parcimoniosos em elogios ao trabalho dos outros.

2Co 8.7 Todavia, assim como vocês se destacam em tudo: na fé, na palavra, no conhecimento, na dedicação completa e no amor que vocês têm por nós, destaquem-se também neste privilégio de contribuir.

A generosidade crescente é um sinal de fé crescente.

2Co 8.10-11 Este é meu conselho: convém que vocês contribuam, já que desde o ano passado vocês foram os primeiros, não somente a contribuir, mas também a propor esse plano. Agora, completem a obra, para que a forte disposição de realizá-la seja igualada pelo zelo em concluí-la, de acordo com os bens que vocês possuem.

Devemos cumprir nossos compromissos em tempo hábil.

2Co 8.13-15 Nosso desejo não é que outros sejam aliviados enquanto vocês são sobrecarregados, mas que haja igualdade. No presente momento, a fartura de vocês suprirá a necessidade deles, para que, por sua vez, a fartura deles supra a necessidade de vocês. Então haverá igualdade, como está escrito: “Quem tinha recolhido muito não teve demais, e não faltou a quem tinha recolhido pouco”.

Os crentes que estão bem de vida têm a responsabilidade de ajudar os necessitados.

2Co 9.8-11 E Deus é poderoso para fazer que toda a graça lhes seja acrescentada, para que em todas as coisas, em todo o tempo, tendo tudo o que é necessário, vocês transbordem em toda boa obra. Como está escrito: “Distribuiu, deu os seus bens aos necessitados; a sua justiça dura para sempre”. Aquele que supre a semente ao que semeia e o pão ao que come também lhes suprirá e multiplicará a semente e fará crescer os frutos da sua justiça. Vocês serão enriquecidos de todas as formas, para que possam ser generosos em qualquer ocasião e, por nosso intermédio, a sua generosidade resulte em ação de graças a Deus.

Se usarmos nossos recursos para atender às necessidades dos outros, Deus promete cuidar de nós.

2Co 10.12, 18 Não temos a pretensão de nos igualar ou de nos comparar com alguns que se recomendam a si mesmos. Quando eles se medem e se comparam consigo mesmos, agem sem entendimento. [...] Pois não é aprovado quem a si mesmo se recomenda, mas aquele a quem o Senhor recomenda.

Devemos nos medir pelos padrões do Senhor e buscar elogio apenas dele.

2Co 12.9-10 Mas ele me disse: “Minha graça é suficiente a você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim. Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco, é que sou forte.

Deus é glorificado quando suportamos a adversidade.

2Co 12.14 Agora, estou pronto para visitá-los pela terceira vez e não serei um peso, porque o que desejo não são os seus bens, mas vocês mesmos. Além disso, os filhos não devem ajuntar riquezas para os pais, mas os pais para os filhos.

Devemos trabalhar pela independência financeira, a fim de estar em condições de ajudar os outros.

2Co 13.11 Sem mais, irmãos, despeço-me de vocês! Procurem aperfeiçoar-se, exortem-se mutuamente, tenham um só pensamento, vivam em paz. E o Deus de amor e paz estará com vocês.

Algumas diretrizes simples garantirão a paz.