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Tiago: Fé e trabalho

Comentário Bíblico / Produzido por Projeto Teologia do Trabalho
James

Tiago traz uma perspectiva de ação orientada aos princípios de que podemos confiar em Deus para nos prover e de que devemos trabalhar para o benefício dos que estão em necessidade. Se a fé é real — se realmente confiamos em Deus —, nossa fé nos levará a todo tipo de ação prática para o benefício dos que estão em necessidade. Essa perspectiva faz de Tiago um livro eminentemente prático.

Perseverança, sabedoria e crescimento espiritual (Tg 1.1-5)

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Tiago começa enfatizando a profunda conexão entre a vida cotidiana e o crescimento espiritual. Especificamente, Deus usa as dificuldades e os desafios da vida e do trabalho diários para aumentar nossa fé. “Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações; assim, vocês saberão que a prova da sua fé produz perseverança. No entanto, a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam perfeitos e íntegros, sem que lhes falte coisa alguma” (Tg 1.2-4). “Diversas provações” pode ser um impulso para o crescimento — incluindo problemas no trabalho —, mas Tiago está particularmente interessado em desafios tão intensos que resultam na “prova da [nossa] fé”.

Que tipo de desafios enfrentados no trabalho pode testar nossa fé em Cristo ou nossa fidelidade a ele? Um deles pode ser a hostilidade religiosa. Dependendo de nossa situação, a fé em Cristo pode nos expor a qualquer coisa, desde preconceitos menores a oportunidades limitadas de trabalho, demissões ou até lesão corporal ou morte no local de trabalho. Mesmo que os outros não nos pressionem, podemos nos sentir tentados a abandonar a fé se acharmos que ser identificados como cristão está prejudicando nossa carreira.

Outro tipo de provação pode ser ética. Podemos ser tentados a abandonar a fé — ou a fidelidade — cometendo roubo, fraude, desonestidade, negociações desleais ou tirando vantagem dos outros para enriquecer-nos ou para avançar na carreira. Outro tipo de provação provém do fracasso no trabalho. Alguns fracassos podem ser tão traumáticos que abalam nossa fé. Por exemplo, ser substituído (tornado irrelevante) ou demitido de um emprego pode ser tão devastador que questionamos tudo em que confiávamos anteriormente, incluindo a fé em Cristo. Ou podemos acreditar que Deus nos chamou para o trabalho, nos prometeu grandeza ou nos deve sucesso porque lhe fomos fiéis. O fracasso no trabalho, então, parece significar que Deus não é confiável ou nem mesmo existe. Ou podemos estar tão dominados pelo medo que duvidamos que Deus continuará a suprir nossas necessidades. Todos esses desafios relacionados ao trabalho podem testar nossa fé.

O que devemos fazer se nossa fé for testada no trabalho? Perseverar (Tg 1.3-4). Tiago nos diz que, se pudermos encontrar uma maneira de não ceder à tentação de abandonar a fé, de não agir de forma antiética ou de não entrar em desespero, veremos Deus conosco todo o tempo. Se não soubermos como resistir a essas tentações, Tiago nos convida a pedir a sabedoria necessária para isso (Tg 1.5). À medida que a crise passa, descobrimos que nossa maturidade cresceu. Em vez de sentir a falta daquilo que temíamos perder, sentimos a alegria de encontrar a ajuda de Deus.

Dependendo de Deus (Tg 1.5-18)

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Ao falar sobre sabedoria, Tiago começa a desenvolver o princípio de que podemos confiar em Deus para nos prover. “Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá generosamente sem reprovar ninguém, e lhe será concedida” (Tg 1.5). Pode parecer surpreendente que possamos pedir sabedoria a Deus para as tarefas do trabalho comum — tomar decisões, avaliar oportunidades, confiar em colegas ou clientes, investir recursos e assim por diante —, mas Tiago nos diz que peçamos “com fé, sem duvidar” e Deus nos dará a sabedoria de que precisamos. Nosso problema não está em esperarmos muita ajuda de Deus no trabalho, mas em esperarmos muito pouco (Tg 1.8).

É absolutamente essencial compreender isso. Se duvidarmos que Deus é a fonte de tudo o que precisamos, então somos o que Tiago chama de “instáveis”. A pessoa não decidiu se deve seguir a Cristo ou não. Isso a torna “instável em tudo o que faz”, não sendo capaz de realizar muito em benefício de ninguém, ou mesmo de receber “coisa alguma do Senhor” em seu próprio nome (Tg 1.7). Tiago não tem ilusões sobre quão difícil pode ser confiar em Deus. Ele conhece muito bem as provações que seu público já está começando a experimentar em todo o Império Romano (Tg 1.1-2). No entanto, ele insiste que a vida cristã deve começar confiando em Deus para prover.

Ele imediatamente aplica isso à esfera econômica, em Tiago 1.9-11. A pessoa rica não deve se iludir pensando que se deve a seu próprio esforço. Se dependermos de nossas habilidades, “murcharemos” mesmo enquanto cuidamos dos negócios. Em contrapartida, as pessoas pobres não devem pensar que isso se deve ao desfavor de Deus. Em vez disso, devem esperar ser colocados por Deus em “elevada posição”. O sucesso ou o fracasso decorre de muitos fatores além de nós mesmos. Aqueles que já perderam o meio de subsistência devido a recessão, venda de empresa, mudança de escritório, quebra de safra, discriminação, danos causados ​​por intempéries climáticas ou mil outros fatores podem testemunhar isso. Deus não nos promete sucesso financeiro no trabalho, nem nos condena ao fracasso, mas ele usa tanto o sucesso quanto o fracasso para desenvolver a perseverança necessária para vencer o mal. Se Tiago 2.1-8 nos convida a invocar a Deus em tempos de dificuldades, então os versículos 9-11 nos lembram de invocá-lo também em tempos de sucesso.

Observe que, embora Tiago contraste a bondade de Deus com a maldade do mundo, ele não nos permite pensar que estamos do lado dos anjos e aqueles ao nosso redor do lado dos demônios. Em vez disso, a separação entre o bem e o mal está no coração de todo cristão. “Cada um, porém, é tentado pelo seu próprio desejo, sendo por este arrastado e seduzido” (Tg 1.14). Ele está falando aos membros da igreja. Não devemos nos apressar em identificar a igreja como boa e o local de trabalho como ruim. Há maldade em ambas as esferas — como nos lembram os escândalos da igreja e as fraudes nos negócios —, mas, pela graça de Deus, podemos trazer bondade a ambas.

De fato, a comunidade cristã é um dos meios que Deus usa para ajudar os pobres. A promessa de Deus de prover para os pobres é cumprida — em parte — pela generosidade de seu povo, e a generosidade deles é resultado direto da generosidade de Deus para com eles. “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto e descem do Pai das luzes” (Tg 1.17). Isso assevera que Deus é a fonte última de provisão e que os crentes são responsáveis ​​por fazer tudo o que puderem para levar a provisão de Deus aos necessitados.

Ouvir, agir e evitar a ira (Tg 1.19-21)

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Tiago continua sua orientação prática com palavras relativas ao ouvir. Os cristãos precisam ouvir bem tanto as pessoas (Tg 1.19) quanto Deus (Tg 1.22-25). “Sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se” (Tg 1.19). Ouvimos não como uma técnica para influenciar alguém, mas como uma maneira de permitir que a palavra de Deus nos livre “de toda impureza moral e da maldade” (Tg 1.21). Curiosamente, Tiago sugere que ouvir os outros — e não apenas ouvir a palavra de Deus — é um meio de nos livrarmos da iniquidade. Ele não está dizendo que o que as pessoas expressam seja palavra de Deus, mas que ouvir os outros elimina a raiva e a arrogância que nos impedem de cumprir a palavra de Deus exposta nas Escrituras. “A ira do homem não produz a justiça de Deus. [...] Aceitem humildemente a palavra implantada em vocês, a qual é poderosa para salvar a vida de vocês” (Tg 1.20-21). Quando não gostamos do que as pessoas dizem — palavras que expressam desentendimento, crítica, rejeição —, é fácil reagir com raiva, especialmente em situações de grande pressão no trabalho. Mas agir assim geralmente piora nossa posição e sempre desacredita nosso testemunho como servos de Cristo. É muito melhor confiar em Deus para defender nossa posição, em vez de nos defendermos com um discurso irado e precipitado.

Esse conselho se aplica a todos os tipos de trabalho e ambientes de trabalho. Ouvir está consagrado na literatura empresarial como uma habilidade crucial de liderança. [1] As empresas devem ouvir atentamente seus clientes, funcionários, investidores, comunidades e outras partes interessadas. A fim de atender às verdadeiras necessidades das pessoas, as organizações precisam ouvir aquelas cujas necessidades elas esperam atender. Isso nos lembra que o ambiente de trabalho pode ser um solo fértil para a obra de Deus, assim como foi o Império Romano, apesar das dificuldades e da perseguição.

Praticantes da palavra: trabalhando pelos necessitados (Tg 1.22-27)

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Isso nos leva ao segundo princípio do trabalho fiel — trabalhar em benefício dos necessitados. “Sejam praticantes da palavra, não apenas ouvintes, enganando a vocês mesmos” (Tg 1.22). Esse princípio decorre naturalmente do princípio de confiar em Deus para suprir nossas necessidades. Confiar em Deus para suprir nossas necessidades nos libera para trabalhar em benefício dos outros. Em contrapartida, se nossa confiança em Deus não nos leva a agir em benefício dos necessitados, Tiago sugere que não confiamos em Deus de fato. Como Tiago coloca: “A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas nas suas aflições” (Tg 1.27). Crença significa confiança, e confiança leva à ação.

A fonte da percepção de Tiago parece ser o próprio Jesus, especialmente seus ensinamentos sobre os pobres e o cuidado prático que ele demonstrou a uma variedade de pessoas marginalizadas. Isso pode ser visto, por exemplo, nas alusões de Tiago aos ensinamentos de Jesus sobre o lugar especial dos pobres no reino de Deus (Tg 2.5; Lc 6.20), assim como as advertências de Jesus sobre tesouros corroídos “na terra” (Tg 5.1-5; Mt 6.19).

Isso tem aplicação direta no trabalho, porque atender às necessidades é a marca número um de um ambiente de trabalho bem-sucedido, seja nos negócios, na educação, na saúde, no trabalho governamental, nas profissões liberais, nas organizações sem fins lucrativos ou em outros. Uma organização bem-sucedida atende às necessidades de seus clientes, funcionários, investidores, cidadãos, estudantes, clientes e outras partes interessadas. Esse não é o foco principal de Tiago — ele se concentra particularmente nas necessidades das pessoas pobres ou impotentes — mas, mesmo assim, se aplica. Sempre que uma organização atende às verdadeiras necessidades das pessoas, ela está fazendo a obra de Deus.

Essa aplicação não se limita ao atendimento de clientes em empresas estabelecidas. Exige ainda mais criatividade — e demonstra ainda mais a provisão de Deus — quando os cristãos atendem às necessidades de pessoas pobres demais para serem clientes de empresas estabelecidas. Por exemplo, um grupo de cristãos abriu uma fábrica de móveis no Vietnã para fornecer empregos a pessoas no nível mais baixo do espectro socioeconômico. Por meio da fábrica, Deus supre as necessidades tanto de clientes estrangeiros que precisam de móveis quanto de trabalhadores locais que anteriormente estavam desempregados. [1] Da mesma forma, a TriLink Global, uma empresa de investimentos liderada por Gloria Nelund, ajuda a iniciar negócios no mundo em desenvolvimento como um meio de atender às necessidades das pessoas pobres e marginalizadas. [2]

O dever dos cristãos não se limita em servir aos pobres e necessitados em seu local de trabalho. A estrutura social e o sistema político-econômico afetam fortemente o atendimento das necessidades dos pobres. Uma vez que os cristãos podem influenciar essa estrutura e esse sistema, temos a responsabilidade de garantir que atendam às necessidades tanto dos pobres e necessitados, como dos ricos e poderosos.

Discriminando os pobres e favorecendo os ricos (Tg 2.1-13)

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Tiago aplica ambos os princípios subjacentes como uma advertência contra o favoritismo em relação aos ricos e poderosos. Ele começa com o segundo princípio — trabalhar em benefício dos necessitados. “Se vocês de fato obedecerem à lei do reino, conforme a Escritura afirma: ‘Ame ao seu próximo como a você mesmo’, agem corretamente. Mas, se tratarem os outros com parcialidade, cometem pecado” (Tg 2.8-9). O pecado é que, quando favorecemos os ricos e poderosos, estamos servindo a nós mesmos e não aos outros. Isso ocorre porque os ricos e poderosos têm o potencial de nos conceder um pouco de suas riquezas e poder. Os pobres nada podem fazer por nós. Mas são eles os que precisam. Tiago ilustra esse ponto descrevendo o tratamento especial que pode ser dado na igreja a uma pessoa rica e bem vestida, enquanto uma pessoa pobre e mal vestida é tratada com desprezo. Mesmo em algo tão simples quanto ir à igreja, os pobres precisam de uma palavra de boas-vindas. Os ricos — sendo bem-vindos em todos os lugares — não passam necessidade.

Tiago se baseia em Levítico 19.18 — “ame ao seu próximo como a você mesmo” — para indicar que mostrar favoritismo para com os ricos e excluir ou menosprezar os pobres não é menos ofensa à lei de Deus do que assassinato ou adultério (Tg 2.8-12). Fazer isso significa que ou não estamos tratando o próximo como a nós mesmos, ou estamos falhando até mesmo em reconhecer que uma pessoa pobre é o próximo.

Embora Tiago esteja falando sobre reuniões na igreja, há aplicações para locais de trabalho. No trabalho, podemos prestar atenção às pessoas que podem nos ajudar ou às que precisam de nossa ajuda. Em um local de trabalho saudável, isso pode ser apenas uma questão de ênfase. Em um local de trabalho disfuncional — onde as pessoas são colocadas umas contra as outras em uma luta pelo poder —, é preciso coragem para ficar do lado dos que não têm poder. Recusar-se a ter favoritos é especialmente perigoso quando somos confrontados com favoritismo socialmente arraigado, como discriminação étnica, estereótipos de gênero ou intolerância religiosa.

Embora Tiago expresse seu argumento em termos de trabalhar para beneficiar os necessitados, essa aplicação levanta implicitamente o princípio de confiar em Deus. Se realmente confiássemos em Deus para nossa provisão, não seríamos tentados a favorecer tanto os ricos e poderosos. Não teríamos medo de nos associar à multidão impopular no trabalho ou na escola. Tiago não está nos exortando a fazer boas obras apesar da falta de fé em Cristo e de confiança na provisão de Deus. Tiago está demonstrando como as boas obras são possíveis por meio da fé em Cristo. Ironicamente, os próprios pobres já vivem essa realidade diariamente. “Acaso Deus não escolheu os que são pobres aos olhos do mundo para que sejam ricos na fé e herdem o reino que ele prometeu aos que o amam?” (Tg 2.5). Trata-se provavelmente de uma alusão às palavras de Jesus no Sermão do Monte ou da Planície (Mt 5.3; Lc 6.20). Os pobres não estão herdando o reino porque são pessoas melhores do que os ricos, mas porque confiam em Deus. Na falta de meios para depender de si mesmos ou para agradar aos ricos, eles aprenderam a depender de Deus.

Fé, obras e trabalho (Tg 2.14—26)

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Tiago aborda o tópico do trabalho em detalhes na segunda parte do capítulo 2. Ao discutir o trabalho, ele invariavelmente usa o plural “obras” (do grego erga) em vez do singular “obra” (do grego ergon). Isso leva alguns a supor que Tiago usa “obras” para diferenciar de “obra”. No entanto, erga e ergon são simplesmente formas no plural e no singular da mesma palavra. [1] Tiago está descrevendo todo tipo de trabalho, desde obras de caridade, como dar comida a alguém faminto, até obras no local de trabalho, como aumentar a produção sustentável de arrozais. Seu uso do plural mostra que ele espera que o trabalho dos cristãos seja contínuo.

O foco de Tiago no trabalho levou a uma profunda controvérsia sobre a carta. Lutero notoriamente não gostava de Tiago porque entendia Tiago 2.24 (“Vejam que uma pessoa é justificada pelas obras, não apenas pela fé”) como uma contradição a Gálatas 2.16 (“O homem não é justificado pelas obras da lei, mas sim pela fé em Jesus Cristo”). Outros líderes da Reforma Protestante não compartilhavam dessa visão, mas a objeção de Lutero acabou dominando a leitura protestante do texto de Tiago. [2] Embora não possamos entrar aqui no longo debate sobre Lutero e o livro de Tiago, podemos indagar brevemente se a ênfase de Tiago no trabalho está em desacordo com a rejeição protestante da “justificação pelas obras”.

O que o próprio Tiago diz? Tiago 2.14 é sem dúvida a peça central de seu argumento; portanto, consideraremos esta seção antes de prosseguir: “De que adianta, meus irmãos e irmãs, se vocês dizem que têm fé, mas não têm obras?” Tiago responde sem rodeios à sua própria pergunta, afirmando: “Assim também a fé, por si só, se não é acompanhada de obras, está morta” (Tg 2.17) — tão morta (como ele observa em um exemplo cuidadosamente escolhido) quanto alguém que precisa desesperadamente de comida e recebe apenas palavras vazias de bons desejos a seu próximo (Tg 2.15-16). Tiago dá como certo que acreditar em Cristo (confiar em Deus) o levará a sentir compaixão de alguém em necessidade e a agir para ajudá-lo.

Todos os dias temos oportunidade de atender às necessidades das pessoas para quem trabalhamos e entre as quais trabalhamos. Pode ser tão simples quanto garantir que um cliente confuso encontre o item certo para sua necessidade ou perceber que um novo colega de trabalho precisa de ajuda, mas tem medo de pedir. Tiago exorta-nos a preocupar-nos especialmente com os vulneráveis ​​ou marginalizados, e para isso talvez precisemos desenvolver, no local de trabalho, a prática de perceber quem são essas pessoas.

Esse é o cerne do livro de Tiago. Tiago não concebe que o trabalho esteja em desacordo com a fé. Não pode haver “justificação pelas obras”, porque não pode haver boas obras a menos que haja fé (confiança) em Deus. Tiago não quer dizer que a fé possa existir sem obras e, portanto, ser insuficiente para a salvação. Ele quer dizer que qualquer “fé” que não leve a obras está morta; em outras palavras, não é fé alguma. “Como o corpo sem espírito está morto, assim a fé sem obras está morta” (Tg 2.26). Tiago não ordena que os cristãos trabalhem em benefício dos necessitados em vez de colocar sua fé em Cristo, nem mesmo que o façam como complemento a colocar a fé em Cristo. Ele espera que os cristãos trabalhem em benefício dos necessitados como resultado de colocar a fé em Cristo. [3]

A percepção de que a fé cristã sempre leva à ação é, em si, uma lição a ser aplicada no local de trabalho. Não podemos dividir o mundo em espiritual e prático, pois o mundo espiritual é o prático. “Você pode ver que tanto a fé como as obras [de Abraão] estavam atuando juntas”, diz Tiago (Tg 2.22). Portanto, nunca podemos dizer: “Creio em Jesus e vou à igreja, mas deixo minha fé fora do meu trabalho”. Esse tipo de fé está morta. As palavras em Tiago 2.24 — “vejam que uma pessoa é justificada pelas obras, não apenas pela fé” — nos desafiam a desenvolver nosso compromisso com Cristo nas atividades diárias.

O restante da carta fornece aplicações práticas dos dois princípios subjacentes: confiar em Deus e trabalhar para beneficiar os necessitados. Dada a nossa avaliação de Tiago 2.14-26, prosseguiremos com a perspectiva de que essas aplicações são desdobramentos da fé em Cristo, válidas nos dias de Tiago e instrutivas nos nossos.

Domar a língua (Tg 3.1-12)

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Tiago segue sua orientação prática sobre o ouvir (ver Tg 1.19-21) com conselhos semelhantes sobre o falar. Aqui ele emprega uma das linguagens mais implacáveis do livro. “Assim também, a língua é um fogo; é um mundo de iniquidade. Colocada entre os membros do nosso corpo, contamina a pessoa por inteiro, incendeia todo o curso da sua vida, sendo ela mesma incendiada pelo inferno [...]. É um mal incontrolável, cheio de veneno mortífero” (Tg 3.6, 8). Tiago, sem dúvida, está bem ciente dos provérbios do Antigo Testamento que falam sobre o poder vivificante da língua (por exemplo, Pv 12.18: “Há quem fale sem refletir, e fere como espada, mas a língua dos sábios traz a cura”), mas ele também está ciente dos poderes mortíferos da língua. Muitos cristãos, com razão, tomam cuidado para não prejudicar os outros com discursos ásperos na igreja. Não devemos ser igualmente cuidadosos no trabalho para não amaldiçoar “os homens, feitos à semelhança de Deus”? (Tg 3.9, referindo-se a Gn 1.26-27). Fofocas na hora do cafezinho, calúnias, assédio, menosprezo dos concorrentes — quem nunca foi ferido por palavras duras no trabalho e quem nunca feriu outras pessoas?

Ambição egoísta e submissão a Deus (Tg 3.13—4.12)

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Tiago 3.14—4.12 também emprega os princípios, combinados, de dependência de Deus e serviço aos necessitados. Como de costume, Tiago os coloca em ordem inversa, discutindo primeiro o serviço e depois a confiança. Nesse caso, Tiago começa com uma admoestação contra a ambição egoísta, seguida de uma exortação à submissão a Deus.

Ambição egoísta (Tg 3.13—4.12)

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A ambição egoísta é o impedimento para a pacificação (Tg 3.16—4.11)

A ambição egoísta é o oposto do servir às necessidades alheias. A passagem é bem resumida em Tiago 3.16: “Pois, onde há inveja e ambição egoísta, há confusão e toda espécie de males”. Tiago destaca uma prática específica que sobrepuja a ambição egoísta: a pacificação. [1] “O fruto da justiça é semeado em paz pelos pacificadores” (Tg 3.18). Caracteristicamente, ele alude a um local de trabalho — colheita de grãos, no caso — para mostrar seu ponto de vista. Cita vários elementos da pacificação: sofrer pelo mal que causamos aos outros (Tg 4.9), humilhar-nos (Tg 4.10), abster-nos de calúnia, acusação e julgamento (Tg 4.11) e misericórdia e sinceridade (Tg 3.17). Todos esses podem e devem ser empregados pelos cristãos no trabalho.

A ambição egoísta é sobrepujada pela submissão a Deus (Tg 4.2-5)

A ambição egoísta causa desavenças e contendas dentro da comunidade cristã, e Tiago diz que a causa subjacente é a falha em depender de Deus. “Vocês cobiçam coisas, mas não as têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vivem lutando e fazendo guerras. Não têm, porque não pedem. Pedem, mas não recebem, porque pedem com más intenções, com o fim de gastar nos seus prazeres” (Tg 4.2-3). Deixamos de depender de Deus quando não lhe pedimos nem mesmo o que precisamos. Curiosamente, a razão de não dependermos de Deus está em queremos servir a nossos próprios prazeres, em vez de servir aos outros. Isso engloba os dois princípios em uma unidade integrada. Tiago afirma isso metaforicamente como um caso de amor adúltero com o mundo, pelo qual somos tentados a crer que podemos encontrar riqueza e prazer no mundo sem Deus (Tg 4.4-5). [2]

Investir nos outros (Tg 4.1-12)

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Embora Tiago use a metáfora do adultério, ele está se referindo à ambição egoísta em geral. Uma das tentações no trabalho é usar os outros como degraus para nosso próprio sucesso. Quando roubamos o crédito pelo trabalho de um subordinado ou colega de trabalho, quando retemos informações de um rival para promover-nos, quando transferimos a culpa para alguém que não está presente para se defender, quando tiramos vantagem de alguém em situação difícil, nos tornamos culpados de ambição egoísta. Tiago está certo ao dizer que essa é a principal fonte de litígios. Ironicamente, a ambição egoísta pode impedir o sucesso, em vez de promovê-lo. Quanto mais alta é nossa posição em uma organização, mais dependemos dos outros para obter sucesso. Pode ser tão simples quanto delegar tarefas a subordinados ou tão complexo quanto coordenar uma equipe de um projeto internacional. Mas, se temos a reputação de pisar nas pessoas para progredir, como podemos esperar que os outros confiem em nossa liderança e a sigam?

A solução está em submeter-nos a Deus, que criou todas as pessoas a sua imagem (Gn 1.27) e enviou seu Filho para morrer por todos (2Co 5.14). Submetemos-nos a Deus sempre que colocamos nossa ambição a serviço dos outros, em detrimento de nós mesmos. Queremos alcançar uma posição de autoridade e excelência? Ótimo, então devemos começar ajudando outros colaboradores a incrementarem sua autoridade e excelência. O sucesso nos motiva? Bom, então devemos investir no sucesso daqueles que nos rodeiam. Ironicamente, investir no sucesso dos outros também pode ser o melhor que podemos fazer por nós mesmos. De acordo com os economistas Elizabeth Dunn, da Universidade da Colúmbia Britânica, e Michael Norton, da Harvard Business School, investir em pessoas nos torna mais felizes do que gastar dinheiro conosco. [1]

Previsão empresarial (Tg 4.13-17)

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Tiago passa para uma nova aplicação ao dar um aviso específico sobre previsão empresarial. [1] De forma um tanto incomum, ele se concentra primeiro no princípio de confiar em Deus. Ele começa com palavras sóbrias: “Ouçam agora, vocês que dizem: ‘Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro’. Vocês nem sabem o que acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa” (Tg 4.13-14). Pode parecer que Tiago está condenando até mesmo o planejamento empresarial de curto prazo. Planejar com antecedência, no entanto, não é sua preocupação. Imaginar que estamos no controle do que acontece é o problema.

O versículo a seguir nos ajuda a entender o verdadeiro ponto de vista de Tiago: “Em vez disso, deveriam dizer: ‘Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo’” (Tg 4.15). O problema não é o planejamento; é planejar como se o futuro estivesse em nossas mãos. Somos responsáveis ​​por usar sabiamente os recursos, as habilidades, as conexões e o tempo que Deus nos dá. Mas não estamos no controle dos resultados. A maioria das empresas sabe muito bem como os resultados são imprevisíveis, apesar do melhor planejamento e execução que o dinheiro pode comprar. O relatório anual de qualquer corporação de capital aberto apresenta uma seção detalhada, geralmente com dez ou vinte páginas, sobre os riscos enfrentados pela empresa. Declarações como “o preço de nossas ações pode flutuar com base em fatores além de nosso controle” deixam claro que as corporações seculares estão altamente sintonizadas com a imprevisibilidade de que Tiago está falando.

Por que, então, Tiago tem de lembrar aos crentes o que as empresas comuns sabem tão bem? Talvez os crentes às vezes se iludam, pensando que seguir a Cristo os tornará imunes à imprevisibilidade da vida e do trabalho. É um erro. Em vez disso, as palavras de Tiago deveriam tornar os cristãos mais conscientes da necessidade de reavaliar, adaptar e ajustar constantemente. Os planos devem ser flexíveis e a execução adequar-se às mudanças. Em certo sentido, trata-se simplesmente de uma boa prática comercial. No entanto, em sentido mais amplo, trata-se de uma questão espiritual, pois precisamos responder não apenas às condições do mercado, mas também à direção de Deus em nosso trabalho. Isso nos traz de volta à exortação de Tiago para ouvir com profunda atenção. A liderança cristã não consiste em forçar os outros a cumprirem nossos planos e ações, mas em nos adaptar à palavra de Deus e a sua orientação para nossa vida.

Opressão dos trabalhadores (Tg 5.1-6)

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Tiago volta ao princípio de que o trabalho deve atender às necessidades dos outros. Suas palavras no início do capítulo 5 são contundentes. Ele adverte “os ricos”: “Chorem e lamentem-se, por causa das desgraças que virão sobre vocês” (Tg 5.1). Embora o ouro no cofre e as vestes nos armários deles possam parecer mais reluzentes que nunca, Tiago está tão certo de seu julgamento vindouro que se refere às riquezas deles como se já estivessem deterioradas: “A riqueza de vocês apodreceu, e as traças corroeram as suas roupas. O ouro e a prata de vocês enferrujaram” (Tiago 5.2-3). Sua autoindulgência conseguiu apenas fartá-los para o dia do abate (Tg 5.5). O dia do abate parece ser uma referência ao dia em que Deus julgará aqueles a quem chamou para liderar e cuidar de seu povo, mas que, em vez disso, os atacaram (Zc 11.4-7).

Essas pessoas ricas estão condenadas tanto pela maneira como adquiriram sua riqueza quanto pelo que fizeram (ou deixaram de fazer) com ela, quando a obtiveram. Tiago ecoa o Antigo Testamento ao repreendê-los por suas práticas comerciais injustas: "Vejam, o salário dos trabalhadores que ceifaram os seus campos e que vocês retiveram com fraude está clamando contra vocês. O lamento dos ceifeiros chegou aos ouvidos do Senhor dos Exércitos” (Tg 5.4 ; cf. Lv 19.13). [1] O dinheiro que deveria estar nas mãos dos trabalhadores permanece no cofre dos proprietários de terras. E lá se mantém — eles acumulam riquezas e ignoram os necessitados ao seu redor (Tg 5.3).

Os líderes empresariais devem ser especialmente diligentes ao pagar seus funcionários de forma justa. Uma análise do que constitui um salário justo está além do escopo desta discussão, [2] mas as palavras de Tiago “o salário dos trabalhadores [...] que vocês retiveram com fraude” (Tg 5.4) são uma acusação de abuso de poder por parte desses ricos proprietários de terras. Os trabalhadores tinham direito ao salário, mas os ricos e poderosos encontraram uma maneira de evitar pagar-lhes sem serem punidos pelo sistema legal. Os ricos e poderosos geralmente têm meios de subverter o judiciário, e é surpreendentemente fácil exercer um poder injusto sem sequer reconhecê-lo. Os abusos de poder incluem classificação indevida de trabalhadores como contratados independentes, registro de trabalhadores em um código de qualificação inferior, remuneração menor para mulheres ou minorias que desempenhavam o mesmo trabalho dos demais e mão de obra infantil para trabalhos perigosos recusados pelos adultos. O uso indevido de poder nunca pode ser desculpável apenas por se constituir na chamada prática padrão.

Tiago também condena aqueles que “têm vivido luxuosamente na terra” e “têm se entregado aos prazeres” (Tg 5.5). A questão do que significa viver no luxo e no prazer também é complexa, mas confronta muitos cristãos de uma forma ou de outra. A principal preocupação de Tiago nessa passagem é o bem-estar dos pobres; portanto, a pergunta mais relevante poderia ser: “O modo como vivo reforça ou degrada a vida dos pobres? O que faço com o dinheiro ajuda a tirar as pessoas da pobreza ou a mantê-las assim?”.

Aguardando a colheita (Tg 5.7-20)

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Tiago conclui sua carta com uma variedade de exortações sobre paciência, veracidade, oração, confissão e cura. Como sempre, elas apelam para o princípio de que obras fiéis devem beneficiar os outros ou ser feitas na dependência de Deus, ou ambos. E, como sempre, Tiago faz aplicações diretas ao trabalho.

Paciência

Tiago começa com um exemplo de trabalho para ilustrar o iminente retorno de Cristo: “Portanto, irmãos, sejam pacientes até a vinda do Senhor. Vejam como o agricultor aguarda que a terra produza a preciosa colheita e como espera com paciência até virem as chuvas do outono e da primavera. Sejam também pacientes e fortaleçam o coração de vocês, pois a vinda do Senhor está próxima”(Tg 5.7-8). E, no final, ele ecoa essas palavras: “Elias era humano como nós. Ele orou fervorosamente para que não chovesse, e não choveu sobre a terra durante três anos e meio. Depois, orou novamente, e os céus enviaram chuva, e a terra produziu os seus frutos” (Tg 5.17-18).

A paciência no trabalho é uma forma de dependência de Deus. Mas no trabalho a paciência é difícil. Sua finalidade é obter resultados — caso contrário, não seria trabalho — e sempre existe a tentação de buscar resultados sem realizar de fato o trabalho. Se estamos investindo para ganhar dinheiro, não gostaríamos de ficar ricos rapidamente, em vez de vagarosamente? Essa mentalidade leva ao uso de informações privilegiadas, de esquemas de pirâmide financeira e ao uso em jogos de azar do dinheiro reservado para o supermercado. Se estamos trabalhando para ser promovidos, não deveríamos usar quaisquer meios disponíveis para nos posicionar melhor aos olhos de nosso supervisor? Isso leva a traições, roubo de crédito, fofocas e desintegração da equipe. Se trabalhamos para atingir uma cota, não poderíamos alcançá-la mais rapidamente com um trabalho de qualidade inferior e repassando os problemas para a pessoa seguinte na cadeia de produção? E não se trata apenas de problemas de moralidade individual. Um sistema de produção que recompensa a má qualidade é tão ruim ou pior do que o trabalhador que tira proveito dele.

Veracidade

“Sobretudo, meus irmãos, não jurem pelo céu, nem pela terra, nem por coisa alguma. Que o ‘sim’ de vocês seja realmente sim, e o ‘não’ seja não, para que não caiam em condenação” (Tg 5.12). Imagine um local de trabalho em que as pessoas sempre digam a verdade — não simplesmente evitando mentir, mas sempre dizendo o que quer que dê ao ouvinte a compreensão mais precisa de como as coisas realmente são. Não haveria necessidade de juramentos e xingamentos, de esclarecimentos retroativos, de cláusulas contratuais definindo quem recebe o quê em caso de distorções ou fraudes. Imagine se os vendedores sempre fornecessem dados extremamente informativos sobre seus produtos, se os contratos fossem sempre claros para todas as partes e se os chefes sempre dessem crédito preciso a seus subordinados. Imagine se nós sempre déssemos respostas que transmitissem o panorama mais preciso possível, em vez de ocultar sutilmente informações pouco lisonjeiras sobre nosso trabalho. Poderíamos ser bem-sucedidos no atual emprego ou na carreira? Poderíamos ser bem-sucedidos se todos se tornassem extremamente verdadeiros? Precisamos mudar nossa definição de sucesso? [1]

Oração

Tiago volta ao princípio da dependência de Deus em sua discussão sobre a oração. “Há alguém sofrendo entre vocês? Que ele ore”(Tg 5:13). “Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus” (Tg 1.5). Tiago está nos convidando a ser específicos com Deus. “Meu Deus, não sei como lidar com essa falha de produção e preciso de sua ajuda antes de falar com meu chefe”. Deus é capaz de realizar o que precisamos, embora não garanta responder a cada oração exatamente como esperamos. Muitos cristãos parecem estranhamente relutantes em orar sobre questões, situações, pessoas, necessidades, medos e perguntas específicas com que se deparam diariamente no trabalho. Esquecemos a exortação de Tiago de pedir orientação específica e até resultados específicos. Tenha fé, diz Tiago, e Deus nos responderá nas situações reais da vida. “Peça-a a Deus, que a todos dá generosamente sem reprovar ninguém, e lhe será concedida” (Tg 1.5).

Confissão e cura

Tiago nos exorta a confessar mutuamente os pecados, para que sejamos curados (Tg 5.16). As palavras mais interessantes no trabalho são “uns aos outros”. A suposição é que as pessoas pecam umas contra as outras, não apenas contra Deus, e no trabalho esse é certamente o caso. Enfrentamos pressão diária para produzir e agir, e temos tempo limitado para isso; portanto, muitas vezes agimos sem ouvir, marginalizamos aqueles que discordam, competimos de forma injusta, monopolizamos recursos, deixamos uma bagunça para o próximo limpar e descarregamos nossas frustrações nos colegas de trabalho. Ferimos e somos feridos. A única maneira de ser curado é confessar os pecados uns aos outros. Se alguém acabou de minar a promoção de um colega de trabalho por criticar de forma imprecisa seu desempenho, o transgressor precisa confessar isso para quem foi injustiçado, e não apenas para Deus em oração particular. O transgressor pode ter de confessar isso também para o restante do departamento, se quiser de fato reparar o dano.

Qual é a nossa motivação para a confissão e a cura? Para que possamos atender às necessidades dos outros. “Quem traz de volta um pecador do seu caminho errado salvará da morte a vida dessa pessoa” (Tg 5.20; grifo nosso). Salvar alguém da morte é atender a uma necessidade muito profunda! E talvez — já que somos todos pecadores — outra pessoa nos salve da morte, desviando-nos do erro em nossos caminhos.