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O Reino dos céus em ação em nós (Mateus 5—7)

Comentário Bíblico / Produzido por Projeto Teologia do Trabalho
Kingdom of heaven

Os capítulos 5 a 7 do Evangelho de Mateus nos apresentam a versão mais completa do Sermão do Monte de Jesus. Muito embora esta passagem bastante longa (111 versículos) seja frequentemente tratada como uma série de segmentos distintos (considerada por alguns como tendo sido compilados a partir de momentos de ensino diferentes), existe uma coesão e um fluxo de pensamento no sermão que aprofundam nossa compreensão de como o Reino dos céus trabalha dentro de nós, em nosso trabalho e em nossa vida familiar e comunitária.

As bem-aventuranças (Mateus 5.1-12)

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O Sermão do Monte começa com as bem-aventuranças — oito declarações que iniciam com a expressão bem-aventurados.[1] Esta expressão afirma um estado de bênção que já existe. Cada bem-aventurança declara que um grupo de pessoas normalmente consideradas afligidas são, na verdade, abençoadas. Os abençoados não precisam fazer nada para obter essa bênção. Jesus simplesmente declara que eles já foram abençoados. Assim, as bem-aventuranças são antes de mais nada declarações da graça de Deus. Não são condições de salvação ou orientações para obter entrada no Reino do Deus.

Aqueles que pertencem a cada um dos grupos abençoados experimentam a graça de Deus porque o Reino dos céus chegou. Considere a segunda bem-aventurança — “Bem-aventurados os que choram” (Mateus 5.4). Normalmente as pessoas não pensam no choro como uma bênção. É uma tristeza. Mas, com a chegada do Reino dos céus, chorar se torna uma bênção porque aqueles que choram “serão consolados”. A implicação é que o próprio Deus proverá o consolo. A aflição do chorar se torna a bênção do profundo relacionamento com Deus. Isso é de fato uma bênção!

Embora o propósito original das bem-aventuranças seja declarar as bênçãos concedidas pelo Reino de Deus, a maioria dos estudiosos também considera que elas pintam um retrato do caráter desse reino.[2] Ao entrarmos no Reino de Deus, esperamos nos tornar mais semelhantes àqueles que são chamados de bem-aventurados — mais humildes, mais misericordiosos, com mais fome e sede de justiça, mais aptos a promover a paz e assim por diante. Isso dá às bem-aventuranças um imperativo moral. Mais tarde, quando Jesus diz “façam discípulos de todas as nações” (Mateus 28.19), as bem-aventuranças descrevem o caráter que esses discípulos devem assumir.

As bem-aventuranças descrevem o caráter do Reino de Deus, mas não são condições de salvação. Jesus não diz, por exemplo, que “apenas os puros de coração podem entrar no Reino dos céus”. Essa é uma boa notícia, pois as bem-aventuranças são absurdamente difíceis de serem cumpridas. Uma vez que Jesus diz que “qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração” (Mateus 5.28), quem poderia ser verdadeiramente “puro de coração” (Mateus 5.8)? Se não fosse pela graça de Deus, ninguém seria verdadeiramente bem-aventurado. As bem-aventuranças não são um julgamento contra todo aquele que deixa de atingir um padrão. Em vez disso, são uma bênção para qualquer um que consentir em se juntar ao Reino de Deus uma vez que ele “está próximo”.

Uma graça adicional das bem-aventuranças é o fato de que elas abençoam a comunidade de Deus, e não apenas os indivíduos de Deus. Ao seguirmos Jesus, nós nos tornamos bem-aventurados membros da comunidade do Reino, mesmo que nosso caráter ainda não esteja formado na semelhança a Deus. Individualmente, deixamos de cumprir as características de algumas ou de todas as bênçãos. Mas somos abençoados, todavia, pelo caráter da comunidade inteira ao nosso redor. A cidadania no Reino de Deus começa agora. O caráter da comunidade do Reino será aperfeiçoado quando Jesus retornar, “vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória” (Mateus 24.30).

De posse dessa compreensão, estamos prontos para explorar o caráter específico de cada uma das bem-aventuranças e analisar como elas se aplicam ao trabalho. Não podemos tentar discutir cada uma das bem-aventuranças de maneira exaustiva, mas esperamos poder lançar o fundamento para receber as bênçãos e colocar em prática as bem-aventuranças em nosso trabalho diário.[3]

“Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus” (Mateus 5.3)

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Os “pobres em espírito” são aqueles que se lançam na graça de Deus.[1] Reconhecemos pessoalmente nossa falência espiritual diante de Deus. É o publicano no templo, batendo no peito e dizendo “Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador” (Lucas 18.13). É uma confissão honesta de que somos pecadores e totalmente destituídos das virtudes morais necessárias para agradar a Deus. É o oposto da arrogância. Em sua forma mais profunda, reconhece nossa necessidade desesperada de Deus. Jesus está declarando que é uma bênção admitir que carecemos de ser cheios da graça de Deus.

Assim, logo no início do Sermão do Monte aprendemos que não temos em nós mesmos os recursos espirituais necessários para colocar os ensinamentos de Jesus em prática. Não podemos cumprir o chamado de Deus por nossos próprios meios. Bem-aventurados são aqueles que percebem que são espiritualmente falidos, pois essa percepção os leva até Deus, sem o qual não podemos cumprir aquilo que fomos criados para ser e fazer. A maior parte do restante do sermão arranca de nós a ilusão de que somos capazes de conquistar um estado de bênção por nossas próprias forças. O objetivo é produzir em nós uma genuína pobreza de espírito.

Qual é o resultado prático dessa bênção? Se somos pobres em espírito, então temos a capacidade de produzir uma avaliação honesta de nós mesmos em relação ao nosso trabalho. Não inflamos nosso currículo nem nos vangloriamos de nossa posição. Sabemos quão difícil é trabalhar com pessoas que não conseguem aprender, crescer ou aceitar a correção porque estão tentando manter uma imagem envaidecida de si próprias. Assim, nos comprometemos com a honestidade em relação a nós mesmos. Lembramo-nos de que até mesmo Jesus, quando começou a trabalhar com madeira, deve ter precisado de orientação e instrução. Ao mesmo tempo, reconhecemos que apenas tendo Deus trabalhando dentro de nós é que podemos colocar os ensinamentos de Jesus em prática no nosso emprego. Procuramos a presença e a força de Deus em nossa vida a cada dia ao vivermos como cristãos no lugar onde trabalhamos.

No mundo caído, a pobreza de espírito pode aparentar ser um impedimento para o sucesso e o avanço. É comum que isso seja uma ilusão. Quem tem mais probabilidade de ser bem-sucedido no longo prazo: um líder que diz “não tenha medo, eu consigo lidar com qualquer coisa, simplesmente faça o que eu digo” ou um líder que diz “juntos conseguiremos fazer isso, mas todo mundo terá de se esforçar muito mais do que antes”? Se já houve um tempo em que um líder arrogante e em busca de autopromoção foi considerado maior do que um líder humilde e capacitador, este tempo está passando, pelo menos dentro das melhores organizações. Um líder humilde, por exemplo, é a primeira marca característica de empresas que alcançam grandeza sustentável, de acordo com a renomada pesquisa de Jim Collins.[2] Naturalmente, muitos ambientes de trabalho permanecem presos ao velho reino da autopromoção e da autovalorização exagerada. Em algumas situações, o melhor conselho prático pode ser encontrar outro lugar para trabalhar, se isso for possível. Em outros casos, deixar o emprego pode não ser possível, ou pelo menos não desejável, porque, ao permanecer, um cristão pode ser uma força importante para o bem. Nessas situações, os pobres de espírito são uma bênção ainda maior para os que estão ao redor deles.

“Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados” (Mateus 5.4)

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A segunda bem-aventurança aprofunda o reconhecimento mental que fazemos de nossa pobreza de espírito ao adicionar uma resposta emocional de tristeza. Quando enfrentamos o mal em nossa própria vida, ele nos entristece; quando encaramos o mal no mundo — o que inclui possíveis males em nosso local de trabalho — isso também toca nossas emoções com o lamento. O mal pode vir de nós mesmos, de outros ou de fontes desconhecidas. Seja qual for o caso, quando choramos honestamente por palavras, ações e políticas malignas no trabalho, Deus vê a nossa tristeza e nos conforta com o reconhecimento de que não será sempre dessa maneira.

Os que são abençoados pelo choro em relação aos seus próprios fracassos podem receber conforto ao admitir seus erros. Se cometermos algum erro para com um colega de trabalho, um aluno, um cliente, um funcionário ou outra pessoa, admitimos isso e pedimos o perdão da outra parte. É uma atitude que exige coragem! Sem a bênção emocional da tristeza relacionada às nossas ações, provavelmente jamais reuniríamos as forças para admitir nossos erros. Mas, se o fizermos, podemos nos surpreender com a prontidão das pessoas em nos perdoar. E se, ocasionalmente, outros tirarem vantagem de nossa admissão de uma falha, podemos contar com a bênção da não arrogância que flui da primeira bem-aventurança.

Algumas empresas descobriram que expressar tristeza é uma maneira eficiente de operar. A empresa Toro, que fabrica de tratores e cortadores de grama, adotou a prática de mostrar preocupação pelas pessoas que se feriram ao usar seus produtos. Assim que toma conhecimento de alguém que se feriu, a empresa entra em contato com a pessoa afetada para expressar sua tristeza e oferecer ajuda. Ela também pede sugestões sobre como melhorar o produto. Por mais surpreendente que possa parecer, essa abordagem diminuiu o número de processos legais por parte de consumidores considerando um período de muitos anos.[1] O Hospital Virginia Mason alcançou resultados semelhantes a partir do reconhecimento de seu papel na morte de pacientes.[2]

“Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança” (Mateus 5.5)

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A terceira bem-aventurança intriga muitas pessoas no ambiente de trabalho, em parte porque não entendem o que significa ser humilde. Muitos presumem que o termo significa ser fraco, domesticado ou sem coragem. Mas o entendimento bíblico de humildade é poder sob controle. No Antigo Testamento, Moisés foi descrito como o homem mais humilde da terra (Números 12.3, NVT). Jesus descreveu a si mesmo como alguém “manso e humilde” (Mateus 11.28-29), o que era condizente com sua ação vigorosa na purificação do templo (Mateus 21.12-13).

Poder sob o controle de Deus significa duas coisas: 1) uma recusa a inflar nossa autoavaliação e 2) uma reserva em nos impormos em favor de nós mesmos. Paulo captura o primeiro aspecto perfeitamente em Romanos 12.3: “Pois pela graça que me foi dada digo a todos vocês: ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, pelo contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu”. As pessoas humildes veem a si próprias como servas de Deus, sem se consideraram superiores além do que deveriam pensar. Ser humilde é aceitar nossas forças e limitações exatamente como são, em vez de constantemente tentarmos retratar a nós mesmos sob a melhor luz possível. Mas isso não significa que devemos negar nossos pontos fortes e habilidades. Quando perguntado se era o Messias, Jesus respondeu: “Os cegos veem, os mancos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e as boas-novas são pregadas aos pobres; e feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa” (Mateus 11.4-6). Ele não tinha nem uma autoimagem inflada nem um complexo de inferioridade, mas o coração de um servo fundamentado naquilo que Paulo mais tarde chamaria de “conceito equilibrado” (Romanos 12.3).

O coração de um servo é o ponto crucial do segundo aspecto da humildade: reserva em nos impormos em favor de nós mesmos. Exercemos o poder, mas para benefício de todas as pessoas, não apenas de nós mesmos. O segundo aspecto é captado pelo texto de Salmos 37.1-11a, que começa com “não se aborreça por causa dos homens maus” e termina com “os humildes receberão a terra por herança”. Significa que refreamos nosso desejo de vingar os erros cometidos contra nós e, em vez disso, usamos qualquer poder que tenhamos para servir os outros. Flui da tristeza de nossa própria fraqueza, que compreende a segunda bem-aventurança. Se nos sentirmos tristes por causa de nossos próprios pecados, poderemos realmente nos sentir vingativos em relação aos pecados dos outros?

Pode ser bastante desafiador colocar nosso poder em ação debaixo do controle de Deus. Em um mundo caído, parece que o agressivo e o que se autopromove é quem segue adiante. “Você não recebe o que merece, você recebe o que negocia.”[1] No ambiente de trabalho, o arrogante e o poderoso parecem vencer, mas, no final, eles perdem. Eles não ganham nos relacionamentos pessoais. Ninguém quer um amigo arrogante e autocentrado. Homens e mulheres famintos por poder costumam ser pessoas solitárias. Também não alcançam segurança financeira. Pensam que possuem o mundo, mas o mundo é que as possui. E quanto mais dinheiro têm, menos segurança financeira sentem.

Em contraste, Jesus disse que os humildes “receberão a terra por herança”. Como já vimos, a terra se tornou o local do Reino dos céus. Nossa tendência é pensar no Reino dos céus como céu, um lugar completamente diferente (ruas de ouro, portões de pérola, mansões em colinas) daquilo que conhecemos aqui. Mas a promessa de Deus ligada ao Reino é um novo céu e uma nova terra (Apocalipse 21.1). Aqueles que submeterem seu poder a Deus herdarão o Reino perfeito que vem à terra. Nesse Reino, recebemos pela graça de Deus as coisas boas pelas quais o arrogante luta inutilmente na terra atual, e muito mais. E isso não é apenas uma realidade futura. Até mesmo em um mundo caído aqueles que reconhecem suas verdadeiras forças e fraquezas podem encontrar paz ao viver de forma realista. Aqueles que exercem o poder em benefício de outras pessoas normalmente são admirados. O humilde envolve outros no processo de decisão e experimenta melhores resultados e relacionamentos mais profundos.

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos“ (Mateus 5.6)

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A compreensão da quarta bem-aventurança requer um entendimento daquilo que Jesus chamou de justiça. No judaísmo antigo, justiça significava “inocentar, vindicar, restaurar a um relacionamento correto”.[1] Os justos são aqueles que mantêm relacionamentos justos — com Deus e com as pessoas ao redor deles. Com base em relacionamentos justos, aqueles que cometem infrações são inocentados da culpa.

Você recebeu a bênção de relacionamentos justos em abundância? Isso é resultado da humildade (a terceira bem-aventurança), porque só podemos formar relacionamentos justos com outras pessoas quando deixamos de fazer com que todas as nossas ações girem em torno de nós mesmos. Você tem fome e sede de relacionamento justos — com Deus, com seus colegas de trabalho, com sua família e com sua comunidade? A fome é um sinal de vida. Seremos genuinamente famintos por bons relacionamentos se ansiarmos por outros por causa deles próprios, não apenas como petiscos para satisfazer nossas próprias necessidades. Se entendermos que temos a graça de Deus para isso, teremos fome e sede de relacionamentos justos, não apenas com Deus, mas também com as pessoas com quem trabalhamos ou vivemos.

Jesus disse que aqueles que têm essa fome terão seu apetite satisfeito. É fácil ver os erros em nosso local de trabalho e querer batalhar para consertá-los. Se fizermos isso, estaremos famintos e sedentos por justiça, desejando que os erros sejam corrigidos. A fé cristã tem sido a fonte de muitas das maiores reformas realizadas no mundo do trabalho, talvez sendo as mais notáveis a Abolição da Escravatura na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos e a gênese do Movimento dos Direitos Civis. Mais uma vez, porém, o fluxo das bem-aventuranças é importante. Não nos envolvemos nessas batalhas com base em nossas próprias forças, mas apenas em reconhecimento de nosso próprio vazio, chorando nossa própria injustiça e submetendo nosso poder a Deus.

“Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia” (Mateus 5.7)

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Se você for bem-aventurado pela tristeza que sente por suas próprias falhas (a segunda bem-aventurança) e pelos relacionamentos justos (a quarta bem-aventurança), então não encontrará dificuldade para mostrar misericórdia aos outros, tanto no trabalho como em qualquer outro lugar. A misericórdia consiste em tratar as pessoas de um modo melhor do que elas merecem de nós. O perdão é um tipo de misericórdia. O mesmo vale quanto a acudir alguém a quem não temos obrigação de ajudar, ou refrear-nos de explorar a vulnerabilidade de uma pessoa. Em todos esses sentidos, a misericórdia é a força motriz da encarnação, da morte e da ressurreição de Cristo. Através dele, nossos pecados são perdoados e nós mesmos recebemos ajuda por meio do dom do espírito de Deus (1Coríntios 12). A razão de o Espírito nos mostrar essa misericórdia é simplesmente o fato de Deus nos amar (João 3.16).

No trabalho, a misericórdia tem um aspecto altamente prático. Devemos ajudar os outros a alcançar seus melhores resultados, independentemente de como nos sintamos em relação a essas pessoas. Quando ajuda um colega de trabalho, de quem você talvez não goste e que talvez possa até mesmo tê-lo prejudicado no passado, você está mostrando misericórdia. Quando você é o primeiro participante de uma audição e adverte os demais de que o juiz está de mau humor, você está mostrando misericórdia, ainda que isso possa dar a eles vantagem em relação a você. Quando o filho de um concorrente está adoentado e você concorda em remarcar sua apresentação para o cliente de modo que o seu concorrente não tenha de escolher entre cuidar do filho e concorrer a um negócio, você está mostrando misericórdia.

Esses tipos de misericórdia podem lhe custar uma vantagem que, em outras circunstâncias, estaria disponível a você. Contudo, elas beneficiam o resultado do trabalho, assim como a outra pessoa. Auxiliar uma pessoa de quem você não gosta ajuda sua unidade de trabalho a alcançar seus objetivos, ainda que isso não beneficie você pessoalmente. Ou, como no caso do concorrente com um filho adoentado, se isso não beneficia a sua empresa, certamente traz um benefício para o cliente ao qual você pretende servir. A realidade subjacente da misericórdia é que a misericórdia beneficia alguém além de você mesmo.

Um ambiente de perdão em uma empresa oferece outro resultado surpreendente. Ele melhora a performance da organização. Se alguém comete um erro numa empresa na qual a misericórdia não é demonstrada, é bem provável que a pessoa não diga nada em relação àquilo, na esperança de que o erro não seja notado e que a pessoa não seja responsabilizada.

Isso diminui o desempenho de duas maneiras. A primeira é que um erro encoberto pode ser muito mais difícil de ser tratado posteriormente. Imagine um trabalho de construção no qual um trabalhador comete um erro no preenchimento de uma fundação. É fácil consertar o problema se ele for trazido à luz e reparado imediatamente. Mas será muito caro consertar depois que a estrutura estiver construída e a fundação enterrada. A segunda maneira é que a melhor experiência de aprendizado surge do aprendizado a partir dos erros. Como Soichiro Honda disse, “o sucesso só pode ser alcançado através do fracasso repetido e da introspecção. O fato é que o sucesso representa o 1% do seu trabalho que surge somente depois de 99% daquilo que é chamado de fracasso”.[1] As organizações não terão oportunidade de aprender se os erros não forem analisados.

“Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus” (Mateus 5.8)

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A sexta bem-aventurança ecoa Salmos 24.3-5:

Quem poderá subir o monte do SENHOR? Quem poderá entrar no seu Santo Lugar? Aquele que tem as mãos limpas e o coração puro, que não recorre aos ídolos nem jura por deuses falsos. Ele receberá bênçãos do Senhor, e Deus, o seu Salvador lhe fará justiça.

A frase “as mãos limpas e o coração puro” denota integridade, singeleza de devoção, lealdade plena. Ter integridade vai muito além de evitar o engano e o mau comportamento. A raiz da integridade é a inteireza, o que significa que nossas ações não são escolhas que fazemos ou deixamos de fazer em função da conveniência, mas que se baseiam na totalidade do nosso ser. Perceba que Jesus pronuncia a bênção de ser puro de coração não imediatamente depois da bênção de ter fome de justiça, mas depois da bênção de mostrar misericórdia. A pureza de coração surge não da perfeição de nossa vontade, mas do recebimento da graça de Deus.

Podemos determinar o quanto dessa bênção temos recebido ao perguntarmos a nós mesmos: qual é o meu compromisso com a integridade naquelas ocasiões em que consigo me livrar através de um engano habilidoso? Recuso-me a deixar que minha opinião sobre alguém seja moldada pela fofoca e pela insinuação, por mais atraente que isso possa ser? Até que ponto minhas ações e palavras são um reflexo preciso daquilo que está no meu coração?

É difícil argumentar contra a integridade pessoal no ambiente de trabalho, mas, em um mundo caído, ela costuma ser alvo de piadas. Assim como a misericórdia e a humildade, ela pode ser vista como fraqueza. Mas são as pessoas de integridade que “verão a Deus”. Embora a Bíblia seja clara ao afirmar que Deus é invisível e que “habita em luz inacessível” (1Timóteo 1.17; 6.16), o puro de coração pode perceber e sentir a realidade de Deus em sua vida. De fato, sem integridade, a falsidade que propagamos contra outras pessoas terminará nos tornando incapazes de perceber a verdade. Inevitavelmente começamos a acreditar em nossas próprias falsificações. Isso leva à ruína no ambiente de trabalho, porque trabalho baseado em algo irreal logo se torna ineficiente. O impuro não tem desejo de ver a Deus, mas aqueles que fazem parte do Reino de Cristo são bem-aventurados porque enxergam a realidade como ela verdadeiramente é, incluindo a realidade de Deus.

“Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5.9)

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A sétima bem-aventurança leva todo cristão à tarefa da resolução de conflitos. Os conflitos surgem toda vez que pessoas têm diferenças de opinião. Em um mundo caído, a tendência é ignorar o conflito ou suprimi-lo usando força, ameaça ou intimidação. Mas todas essas são violações da integridade (a sexta bem-aventurança) das pessoas em conflito. No Reino de Deus, é uma bênção reunir pessoas que estão em conflito. Somente assim é possível resolver o conflito e restaurar os relacionamentos. (Mais adiante neste artigo exploraremos o método de Jesus para a resolução de conflitos, apresentado em Mateus 18.17-19).

O resultado da resolução do conflito é a paz, e os pacificadores serão chamados “filhos de Deus”. Eles refletirão o caráter divino em suas ações. Deus é o Deus da paz (1Tessalonicenses 5.23) e mostramos que nós mesmos somos seus filhos quando buscamos promover a paz no ambiente de trabalho, na comunidade, em nosso lar e no mundo inteiro.

“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça“ (Mateus 5.10)

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A oitava e última bem-aventurança pode nos parecer negativa. Até este ponto, as bem-aventuranças se concentraram em humildade, mansidão, relacionamentos justos, misericórdia, pureza de coração e pacificação — todas elas qualidades positivas. Mas Jesus inclui a possibilidade de perseguição “por causa da justiça”. Isso surge em razão das sete anteriores, porque as forças que se opõem aos caminhos de Deus ainda detêm grande poder no mundo.

Perceba que a perseguição que surge a partir de um comportamento injusto não é abençoada. Se falharmos por nossas próprias faltas, devemos esperar sofrer consequências negativas. Jesus está falando sobre a bênção de ser perseguido por fazer o que é certo. Mas por que seriamos perseguidos por causa da justiça? A realidade em um mundo caído é que, se demonstrarmos justiça genuína, muitos nos rejeitarão. Jesus detalha a questão ao destacar que os profetas — que, como ele, anunciaram o Reino de Deus — foram perseguidos. “Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a recompensa de vocês nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês” (Mateus 5.11-12). Pessoas justas no ambiente de trabalho podem estar sujeitas a perseguição ativa e até mesmo severa da parte de pessoas que se beneficiam — ou que acreditam que se beneficiam — da injustiça presente ali. Se, por exemplo, você defender pessoas que são vítimas de fofoca ou discriminação em seu ambiente de trabalho (ou se simplesmente tiver amizade com elas), espere perseguição. Se você for presidente de uma associação comercial e se opuser a um subsídio acima do normal que seus membros estejam recebendo, não espere ser reeleito. A bênção é que a perseguição ativa pelo comportamento correto indica que os poderes das trevas acreditam que você está sendo bem-sucedido em propagar o Reino de Deus.

Até mesmo as melhores organizações e as pessoas mais admiráveis ainda estão manchadas pela Queda. Ninguém é perfeito. A oitava bem-aventurança serve como um lembrete a nós de que trabalhar em um mundo caído exige coragem.

Sal e luz no mundo do trabalho (Mateus 5.13-16)

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Logo após as bem-aventuranças no Sermão do Monte, Jesus diz aos seus seguidores que as pessoas que recebem essas bênçãos são importantes:

Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus. (Mateus 5.13-16)

Se você é um seguidor de Jesus vivendo as bem-aventuranças, você é importante e tem um papel fundamental a desempenhar, porque é o sal da terra. O sal preserva, e os cristãos ajudam a preservar o que é bom na cultura. No mundo antigo, o sal era muito valioso: os gregos achavam que ele continha alguma coisa quase divina e os romanos às vezes pagavam seus soldados com sal. Um soldado que não cumpria suas tarefas “não valia o seu sal”. Você é um agente de tempero. Em certo sentido, você pode trazer o sabor distintivo dos valores de Deus a tudo na vida. Você pode tornar a vida palatável.

Perceba que, para ser eficiente, o sal deve estar em contato com a carne ou o peixe a ser preservado. Para sermos eficientes, devemos estar envolvidos com as pessoas dos locais onde trabalhamos e vivemos. Isso nos coloca em tensão, pois a cultura dominante não necessariamente gosta de nós. Na maioria das vezes, viver de acordo com as bem-aventuranças pode nos tornar mais bem-sucedidos no trabalho. Mas precisamos estar preparados para os momentos em que isso não acontece. O que faremos se o fato de mostrar misericórdia, promover a paz ou trabalhar pela justiça colocar em risco nossa posição no trabalho? Afastar-se do mundo não é uma alternativa para os cristãos. Mas é difícil viver no mundo, sempre pronto a exigir que as coisas sejam do seu modo a qualquer instante. Em Mateus 5.10-12 Jesus reconheceu a realidade da perseguição. Contudo, em nossos contatos com a cultura, devemos reter nossa “salinidade”, nossa particularidade. É um ato de equilíbrio que somos chamados a manter.

“Vocês são a luz do mundo.” A descrição de função de um cristão não é apenas manter a santidade pessoal, mas também tocar a vida de todos ao nosso redor. No trabalho, tocamos muitas pessoas que não encontram Cristo na igreja. Pode ser nosso lugar mais eficaz para testemunhar de Cristo. Mas precisamos ser cuidadosos em relação à maneira como testemunhamos de Cristo no trabalho. Somos pagos para realizar nosso trabalho, e seria desonesto fraudar nosso empregador usando o tempo do trabalho para fazer evangelismo. Além disso, seria desonroso criar divisões no trabalho ou um ambiente hostil para os descrentes. Devemos evitar qualquer possível mancha por buscar autopromoção por meio do proselitismo. E sempre corremos o risco de que nossos erros no trabalho possam trazer vergonha para o nome de Cristo, especialmente se parecermos entusiasmados com o evangelismo mas realizarmos nosso verdadeiro trabalho com má qualidade.

Diante de todos esses perigos, como podemos ser sal e luz no trabalho? Jesus disse que nossa luz não necessariamente está no testemunho de nossas palavras, mas no testemunho de nossos atos — as nossas “boas obras”. “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus.” As bem-aventuranças revelaram algumas dessas boas obras. Em humildade e submissão a Deus, trabalhamos em favor dos relacionamentos justos, das ações misericordiosas e da paz. Quando vivemos como pessoas de bênção, somos sal e luz — no ambiente de trabalho, em nosso lar e em nossa nação.

O que é justiça? (Mateus 5.17-48)

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Jesus faz uma declaração surpreendente em Mateus 5.20: “Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus”. Pessoas comuns da época de Jesus reverenciavam a justiça aparente dos líderes religiosos e não imaginavam serem capazes de se igualar a eles em sua piedade. Jesus choca seus ouvintes ao dizer que a entrada no Reino de Deus estava disponível apenas para aqueles cuja justiça excedesse à dos fariseus e mestres da lei. Sendo assim, quem poderia ser salvo? O problema reside em igualar justiça com piedade exterior, uma compreensão comum da palavra tanto naquela época quanto agora. Contudo, por toda a Bíblia, a palavra justiça (conforme destacado acima na quarta bem-aventurança) sempre denota relacionamentos justos — com Deus e com as pessoas ao nosso redor. Isso inclui aqueles que fazem parte de nosso ambiente de trabalho.

Isto fica bastante claro na ilustração que se segue. Em Mateus 5.21-26 não é suficiente não matar alguém; devemos nos precaver quanto a guardar dentro de nós a ira que leva a insultos e a relacionamentos partidos. Podemos sentir ira, mas a maneira correta de lidar com ela é buscar resolver o conflito (Mateus 18.15-19), não afastar a pessoa com insultos ou difamação. Jesus deixa claro que um relacionamento correto entre você e seu irmão ou irmã é tão vital que é necessário abster-se de práticas religiosas até que a questão entre vocês dois tenha sido resolvida.

No ambiente de trabalho, a ira pode ser usada para manipular outras pessoas. Ou então a ira pode dominar sua vida porque você sente que é tratado de forma injusta. Lide com a questão: dê o primeiro passo rumo à reconciliação, ainda que isso possa colocar você numa posição de ser humilhado. Envolver-se numa resolução de conflito justa e aberta é o caminho do novo reino. Mais uma vez, bem-aventurados os pacificadores.

Riqueza e provisão (Mateus 6)

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Jesus fala sobre riqueza com bastante frequência. Riqueza e provisão não são em si mesmas trabalho, mas costumam ser resultado do trabalho, seja nosso ou de outra pessoa. Um dos princípios da economia é que o propósito do trabalho é aumentar a riqueza, fazendo desta um assunto relacionado ao trabalho. Veja a seguir os ensinamentos de Jesus sobre riqueza e provisão diária conforme apresentados no Sermão do Monte.

Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia (Matthew 6.11)

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Imediatamente antes deste pedido pelo pão diário na Oração do Pai-Nosso lemos o seguinte: “Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mateus 6.10). No Reino de Deus, receber nosso pão de cada dia é uma certeza, mas, no mundo desfigurado pelo pecado, o sustento é questionável. Embora Deus tenha dado à humanidade tudo de que precisamos para produzir comida suficiente para alimentar todas as pessoas da terra, não demos fim à fome. Desse modo, a primeira palavra de Jesus sobre riqueza ou provisão diária é esta petição: “Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia”. Buscamos a Deus para obter o pão de que precisamos.

Mas perceba que a petição está no plural: “Dá-NOS hoje o NOSSO pão de cada dia”. Não oramos apenas pelo nosso próprio pão, mas pelo pão para aqueles que não têm nenhum. Na condição de pessoas que desejam manter relacionamentos justos com outras, levamos em consideração a necessidade de pão das outras pessoas: compartilhamos aquilo que temos com aqueles que têm necessidade. Se cada pessoa, negócio, instituição ou governo trabalhasse de acordo com os propósitos e os princípios do Reino de Deus, ninguém teria fome.

Acumulem tesouros no céu, não na terra (Mateus 6.19-34)

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Não apenas devemos pedir a Deus a nossa provisão diária, mas também somos advertidos contra a acumulação de riqueza material e outros tesouros na terra:

Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração. (Mateus 6.19-21)

“Tesouros no céu” não é uma referência etérea a pensamentos bondosos no coração de Deus nem algum tipo de clichê. O Reino de Deus terminará governando a terra. “Tesouros no céu” são coisas de valor no futuro Reino de Deus, como justiça, oportunidade para todos serem produtivos, provisão para as necessidades de todos e respeito pela dignidade de toda pessoa. A implicação é que é melhor investirmos nosso dinheiro em iniciativas que transformam o mundo do que na segurança para proteger os excedentes que acumulamos.

Então é errado ter um portfólio de aposentadoria ou até mesmo nos importar com as coisas materiais deste mundo, seja para nós ou para outras pessoas? A resposta, mais uma vez, é tanto não quanto sim. O não vem do fato de que esta passagem não é a única na Bíblia que fala sobre questões de riqueza e provisão para aqueles que dependem de nós. Outras passagens aconselham a prudência e o planejamento, como “quem o ajunta aos poucos terá cada vez mais” (Provérbios 13.11) e “o homem bom deixa herança para os filhos de seus filhos” (Provérbios 13.22); Deus orienta José a armazenar comida por sete anos antes de uma fome (Gênesis 41.25-36) e, na parábola dos talentos (Mateus 25.14-30, que será discutida mais adiante), Jesus fala favoravelmente sobre investir dinheiro. À luz do restante das Escrituras, Mateus 6.19-34 não pode ser uma proibição geral.

Mas a parte do sim da resposta é uma advertência, lindamente resumida no versículo 21: “Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração”. Talvez esperássemos que essa sentença seria melhor ao contrário, algo como “onde estiver o seu coração, aí também estará o seu tesouro”. Mas as palavras reais de Jesus são mais profundas. O dinheiro muda o coração mais do que o coração decide como lidar com o dinheiro. O que Jesus quer destacar não é “você tende a colocar seu dinheiro nas coisas que importam para você”, mas “suas posses mudarão você, de modo que vai se importar mais com elas do que com outras coisas”. Escolha cuidadosamente as coisas que possui, pois você inevitavelmente começará a valorizá-las e protegê-las, até possivelmente chegar ao desprezo de tudo mais.

Podemos chamar isso de “Princípio do tesouro”, a saber, que o tesouro transforma. Aqueles que investem seus tesouros mais profundos nas coisas deste mundo descobrirão que não estão mais servindo a Deus, mas ao dinheiro (Mateus 6.24). Isso pode levar à ansiedade proveniente das incertezas do dinheiro (Mateus 6.25-34). Ele será corroído pela inflação? O mercado de ações vai desabar? Os títulos vão desvalorizar? O banco vai falir? Posso ter certeza de que aquilo que poupei será suficiente para lidar com qualquer coisa que possa vir a acontecer?

O antidoto é investir em coisas que possam satisfazer as necessidades genuínas das pessoas. Uma empresa que forneça água limpa ou roupas bem-feitas pode estar investindo no Reino de Deus, enquanto um investimento que depende de subsídios baseados em motivação política, mercado imobiliário superaquecido ou escassez de matéria-prima pode não estar. Esta passagem de Mateus 6 não é uma regra para gerenciamento de portfólio de investimento, mas de fato nos diz que nosso compromisso com os caminhos e meios do Reino de Deus se estendem para a maneira como gerenciamos a riqueza que temos.

A pergunta, então, está ligada ao tipo de atenção que você deveria dar às necessidades materiais e à acumulação de riqueza. Se você der uma atenção ansiosa, você é um tolo. Se permitir que elas destruam sua confiança em Deus, você está se tornando infiel. Se der atenção excessiva a elas, você se tornará ganancioso. Se adquirir coisas às custas de outras pessoas, você se tornará um tipo de opressor contra o qual o Reino de Deus se coloca.

Como discernir a linha entre a atenção à riqueza própria e a imprópria? Jesus responde: “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas” (Mateus 6.33). As primeiras coisas em primeiro lugar. A despeito de nossa grande capacidade de enganarmos a nós mesmos, essa pergunta pode nos ajudar a observar cuidadosamente onde nosso tesouro nos colocou. Isso vai nos dizer alguma coisa sobre o nosso coração.

Orientação Moral (Mateus 7)

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Jesus nos chama à realidade em relação a nós mesmos, o que vai impedir que tenhamos preferências ou julguemos outras pessoas.

“Não julguem, para que vocês não sejam julgados” (Mateus 7.1-5)

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Jesus nos chama à realidade em relação a nós mesmos, o que vai impedir que tenhamos preferências ou julguemos outras pessoas:

Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês.
Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: “Deixe-me tirar o cisco do seu olho”, quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão. (Mateus 7.1-5)

Aparentemente isto cria um problema no ambiente de trabalho. O trabalho bem-sucedido costuma depender de avaliações do caráter e do trabalho de outras pessoas. Os chefes precisam avaliar seus subordinados e, em algumas organizações, vice-versa. É comum termos de decidir em quem confiar, quem escolher como parceiro, quem empregar, a quais organizações nos unir. Mas Mateus 7.5, com a palavra hipócrita e a admoestação “tire primeiro a viga do seu olho”, mostra que Jesus está falando contra o julgamento falso ou desnecessário, não contra a avaliação honesta. O problema é que estamos constantemente fazendo julgamentos de forma inconsciente. As imagens mentais que formamos de outros em nossos ambientes de trabalho se baseiam mais em nossas percepções tendenciosas do que na realidade. Em parte, isso acontece porque vemos nos outros qualquer coisa que sirva para nos fazer sentir melhor em relação a nós mesmos. Em parte, é para justificar nossas próprias ações quando não agimos como servos dos outros. Em parte, é porque carecemos de tempo ou disposição para reunir informação verdadeira, o que é muito mais difícil de fazer do que armazenar impressões aleatórias.

Pode ser impossível superar essa tendência de emitir falso julgamento por nossa própria iniciativa. É por isso que sistemas de avaliação consistentes e baseados em fatos são tão importantes no ambiente de trabalho. Um bom sistema de avaliação de desempenho exige que gerentes reúnam evidências reais de performance, discutam diferentes percepções com os empregados e reconheçam as propensões comuns. Em nível pessoal, com pessoas entre as quais não exista uma relação chefe-subordinado, podemos alcançar um tanto das mesmas imparcialidades perguntando a nós mesmos “que papel tenho nisso?” quando notarmos que estamos formando um julgamento contra outra pessoa. “Quais evidências me levam a essa conclusão? De que maneira esse julgamento me beneficia? O que aquela pessoa diria em resposta a esse julgamento?” Talvez a maneira mais segura de remover a viga do nosso próprio olho é levar nosso julgamento diretamente à outra pessoa e pedir-lhe que responda à nossa percepção. (Veja a seção sobre resolução de conflitos em Mateus 18.15-17, mais adiante.)

“Façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam”: a Regra de Ouro (Mateus 7.12)

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“Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas” (Mateus 7.12). Isso nos leva de volta à justiça verdadeira, o reparo e a sustentação de relacionamentos justos tanto no trabalho como em outros lugares. Se tivermos tempo para apenas uma pergunta antes de tomar uma decisão sobre uma ação, a melhor pergunta pode ser: “É isso que eu gostaria que fosse feito para mim?”.