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Das monarquias fracassadas ao exílio (1Reis 11—2Reis 25; 2Crônicas 10—36)

Comentário Bíblico / Produzido por Projeto Teologia do Trabalho
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Salomão é apenas o terceiro rei de Israel, mas o reino já atingiu seu ponto alto. Nos quatrocentos anos seguintes, uma sucessão de reis maus leva a nação ao declínio, à desintegração e à derrota.

A poderosa nação de Salomão dividida em dois (1Reis 11.26—12.19)

Após a morte de Salomão, logo fica claro que a agitação estava fermentando sob o verniz de uma administração equilibrada e eficaz. Após a morte do grande rei, Jeroboão (anteriormente o chefe dos trabalhadores forçados) e “toda a assembleia de Israel” se aproxima do filho e sucessor do rei, Roboão (c. 931-914 a.C.) para pedir: “Teu pai colocou sobre nós um jugo pesado, mas agora diminui o trabalho árduo e este jugo pesado, e nós te serviremos” (1Rs 12.3-16; 2Cr 10). Eles estão prontos para prometer lealdade ao novo rei em troca da redução do trabalho forçado e dos altos impostos. [1] Mas, por quarenta anos, Roboão conheceu apenas uma vida luxuosa em palácios, recebendo funcionários e suprimentos do povo israelita. Seu senso de direito é forte demais para permitir concessões. Em vez de aliviar o fardo indevido colocado sobre o povo por seu pai, Roboão escolhe tornar o jugo ainda maior.

Cumprindo ainda mais a previsão de Samuel (1Sm 8.18), ocorre uma rebelião e a monarquia fica dividida para sempre. Por mais que o povo de Israel estivesse disposto a realizar sua parte justa do trabalho para apoiar o Estado, o surgimento de expectativas irreais e irracionais resulta em revolta e divisão. As dez tribos do norte se separam, ungindo Jeroboão (c. 931-910 a.C.) como seu rei. Embora ele tenha sido o líder da delegação que buscava isenção de impostos de Roboão, sua dinastia não se mostrou melhor para o povo.

A marcha do reino do norte em direção ao exílio (1Reis 12.25—2Reis 17.18)

Por dois séculos (910-722 aC), o reino do norte de Israel é governado por reis que fazem grande mal aos olhos do Senhor. Esses séculos foram marcados por constantes guerras, traição e assassinatos, que culminaram em uma derrota catastrófica para a nação da Assíria. Para destruir todo o senso de identidade nacional, os conquistadores assírios arrebatam a população, dispersando-a em diferentes partes de seu império e trazendo estrangeiros para povoar a terra conquistada (2Rs 17.5-24). Conforme discutido em “A desobediência de Davi a Deus causa uma praga nacional (1Crônicas 2.1-17)”, as falhas dos líderes geralmente têm um efeito devastador sobre seu povo.

Obadias salva cem pessoas trabalhando dentro de um sistema corrupto (1Reis 18)

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Pelo menos dois episódios durante esse período merecem nossa atenção. A primeira, a salvação de cem profetas por Obadias, pode ser útil para aqueles que enfrentam a decisão de deixar um emprego em uma organização que se tornou antiética, uma decisão que muitos enfrentam no mundo do trabalho.

Obadias é o chefe de gabinete do rei Acabe. (Acabe até hoje carrega a fama de ter sido o mais iníquo dos reis de Israel.) A rainha Jezabel, esposa de Acabe, ordena que os profetas do Senhor sejam mortos. Como alto funcionário da corte de Acabe, Obadias tem conhecimento prévio da operação, bem como dos meios para contorná-la. Ele esconde cem profetas em duas cavernas e fornece-lhes pão e água até que a crise diminua. Eles são salvos apenas porque ali havia um “homem que temia muito o Senhor” (1Rs 18.3), o qual estava em uma posição de autoridade para protegê-los. Uma situação semelhante ocorre no livro de Ester, contada com muito mais detalhes. Veja “Trabalhando dentro de um sistema caído (Ester)” em www.teologiadotrabalho.org.

É desmoralizante trabalhar em uma organização corrupta ou má. Seria muito mais fácil sair e encontrar um lugar “mais sagrado” para trabalhar. Muitas vezes, desistir é a única maneira de evitar fazer o mal. Mas nenhum ambiente de trabalho no mundo é puramente bom, e enfrentaremos dilemas éticos onde quer que trabalhemos. Além disso, quanto mais corrupto é o ambiente de trabalho, mais ele precisa de pessoas piedosas. Se há alguma maneira de permanecer no lugar sem aumentar o mal, pode ser que Deus queira que fiquemos. Durante a Segunda Guerra Mundial, um grupo de oficiais que se opunham a Hitler permaneceu no Abwher (inteligência militar) porque isso lhes dava uma plataforma para tentar remover Hitler. Seus planos falharam e a maioria foi executada, incluindo o teólogo Dietrich Bonhoeffer. Ao explicar por que permaneceu no exército de Hitler, ele disse: “A pergunta final para um homem responsável não é como ele deve se livrar heroicamente do caso, mas como a próxima geração deve viver”. [1] Nossa responsabilidade de fazer o que pudermos para ajudar os outros parece ser mais importante para Deus do que nosso desejo de pensar em nós mesmos como moralmente puros.

Acabe e Jezabel assassinam Nabote para obter sua propriedade (1Reis 21)

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O rei Acabe abusa ainda mais de seu poder quando começa a cobiçar a vinha de seu próximo, Nabote. Acabe oferece um preço justo pela vinha, mas Nabote considera a terra como uma herança ancestral e diz que não tem interesse em vendê-la por qualquer preço. Acabe aceita desanimado essa limitação apropriada de seu poder, mas sua esposa Jezabel o impele à tirania. “É assim que você age como rei de Israel?”, ela zomba (1Rs 21.7). Se o rei não tem apetite por abuso de poder, a rainha tem. Ela paga dois vadios para fazerem uma falsa acusação de blasfêmia e traição contra Nabote, e ele é rapidamente condenado à morte e apedrejado pelos anciãos da cidade. Ficamos imaginando por que os anciãos agiram tão rapidamente, sem sequer conduzir um julgamento adequado. Eles eram cúmplices do rei? Estavam sob seu controle, com medo de enfrentá-lo? De qualquer forma, com Nabote fora do caminho, Acabe toma posse da vinha para si.

O abuso de poder, incluindo a apropriação de terras tão flagrante quanto a de Acabe, continua até hoje, como é possível notar em quase todos os jornais diários. E, como na época de Acabe, o abuso de poder exige a cumplicidade de outros, que preferem tolerar a injustiça e até o assassinato a arriscar sua própria segurança pelo bem do próximo. Somente Elias, o homem de Deus, ousa se opor a Acabe (1Rs 21.17-24). Embora seus protestos não possam fazer nada para ajudar Nabote, a oposição de Elias reprime o abuso de poder de Acabe, e nenhum outro abuso é registrado em Reis antes da morte de Acabe. Mais frequentemente do que poderíamos esperar, a oposição com princípios por parte de um pequeno grupo ou mesmo de um único indivíduo pode conter o abuso de poder. Caso contrário, por que os líderes se dariam ao trabalho de esconder seus erros? Qual você estima ser a probabilidade de tomar conhecimento de pelo menos um abuso de poder em sua vida profissional? Como você está se preparando para responder, se o fizer?

A atenção do profeta Eliseu ao trabalho comum (2Reis 2—6)

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À medida que os reis do norte mergulham cada vez mais na apostasia e na tirania, Deus levanta profetas para se opor a eles com mais força do que nunca. Os profetas eram figuras de imenso poder dado por Deus, que surgiam do nada para anunciar a verdade de Deus nos corredores do poder humano. Elias e Eliseu são, de longe, os profetas mais proeminentes nos livros de Reis e Crônicas e, dos dois, Eliseu é especialmente notável pela atenção que presta ao trabalho dos israelitas comuns. Eliseu é chamado a enfrentar os reis rebeldes de Israel durante uma longa jornada (2Rs 2.13—13.20). Suas ações mostram que ele considera a vida econômica do povo tão importante quanto as lutas dinásticas do reino, e ele tenta proteger o povo dos desastres causados ​​pelos reis.

Eliseu restaura o sistema de irrigação de uma cidade (2Reis 2.19-22)

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O primeiro grande ato de Eliseu é limpar o poço poluído da cidade de Jericó. A principal preocupação na passagem é a produtividade agrícola. Sem um poço saudável, “a terra é improdutiva” (2Rs 2.19). Ao restaurar o acesso à água potável, Eliseu possibilita que as pessoas da cidade retomem a missão dada por Deus à humanidade de ser frutífera, se multiplicar e produzir alimentos (Gn 1.28-30).

A restauração da solvência financeira de uma família por Eliseu (2Reis 4.1-7)

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Depois que um dos profetas do círculo de Eliseu morreu, sua família fica endividada. O destino de uma família carente no antigo Israel era tipicamente vender alguns ou todos os seus membros como escravos, onde pelo menos seriam alimentados (veja “Escravidão ou contrato de servidão (Êxodo 21.1-11)” em www.teologiadotrabalho.org). A viúva está prestes a vender seus dois filhos como escravos e implora a ajuda de Eliseu (2Rs 4.1). Eliseu apresenta um plano para que a família se torne economicamente produtiva e se sustente. Ele pergunta à viúva o que ela tem para trabalhar. “Nada”, diz ela, exceto “uma vasilha de azeite” (2Rs 4.2). Aparentemente, esse capital é suficiente para que Eliseu possa começar. Ele diz a ela que fale com todas as suas vizinhas para pedir vasilhas vazias emprestadas e as encher com o óleo da sua vasilha. Ela é capaz de encher todas as vasilhas com azeite antes que sua própria vasilha acabe, e o lucro da venda do azeite é suficiente para pagar as dívidas da família (2Rs 4.9). Em essência, Eliseu cria uma comunidade empreendedora, na qual a mulher é capaz de iniciar um pequeno negócio. Isso é exatamente o que alguns dos métodos mais eficazes de combate à pobreza fazem hoje, seja por meio de microfinanciamento, sociedades de crédito, cooperativas agrícolas ou programas de fornecedores para pequenas empresas, por parte de grandes empresas e governos.

As ações de Eliseu em nome dessa família refletem o amor e a preocupação de Deus pelos necessitados. Como nosso trabalho pode criar oportunidades para que as pessoas em situação de pobreza abram caminho em direção à prosperidade? De que maneiras individual e coletivamente minamos a capacidade produtiva de pessoas e economias pobres, e o que podemos fazer, com a ajuda de Deus, para mudar isso?

A restauração da saúde de um comandante militar por Eliseu (2Reis 5.1-14)

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Quando Eliseu cura a lepra de Naamã, comandante do exército sírio e inimigo de Israel, isso tem efeitos importantes na esfera do trabalho. “Não é pouca coisa que uma pessoa doente fique boa, especialmente um leproso”, como observa Jacques Ellul em seu perspicaz ensaio sobre essa passagem, [1] porque a cura restaura a capacidade de trabalhar. Nesse caso, a cura restaura Naamã ao seu trabalho de governo, aconselhando seu rei sobre como lidar com o rei de Israel. Curiosamente, essa cura de um estrangeiro também leva à restauração da cultura ética na própria organização de Eliseu. Naamã se oferece para recompensar Eliseu generosamente pela cura, mas Eliseu não aceita nada, pois ele considerava simplesmente estar fazendo a vontade do Senhor. No entanto, um membro da comitiva de Eliseu, chamado Geazi, vê uma oportunidade para ter um pequeno ganho extra. Geazi corre atrás de Naamã e diz que Eliseu mudou de ideia — enfim, ele aceitará um pagamento muito significativo. Depois de receber o pagamento, Geazi esconde seu ganho ilícito e mente a Eliseu para encobrir suas ações. Eliseu responde anunciando que Geazi seria atingido pela mesma lepra que havia deixado Naamã. Aparentemente, Eliseu reconhece que tolerar a corrupção em sua organização minará rapidamente todo o bem que uma vida inteira de serviço a Deus já fez.

As próprias ações de Naamã demonstram outro ponto dessa história. Naamã tem um problema — lepra. Ele precisa ser curado. Mas sua noção pré-concebida de como deveria ser a solução — aparentemente esperava algum tipo de encontro dramático com um profeta — o leva a recusar a verdadeira solução (banhar-se no rio Jordão) quando lhe é oferecida. Quando ele ouviu esse remédio simples entregue pelo mensageiro de Eliseu — em vez do próprio Eliseu — Naamã “foi embora dali furioso” (2Rs 5.12). Nem a solução nem a fonte parecem grandiosas o suficiente para que Naamã desse atenção.

No mundo de hoje, esse duplo problema se repete com frequência. Primeiro, um líder sênior não vê a solução proposta por um funcionário de nível inferior porque não está disposto a considerar a perspectiva de alguém que considera não qualificado. Jim Collins, em seu livro Bom a ótimo, identifica que o primeiro sinal do que ele chama de líder do “nível cinco” é a humildade, a disposição de ouvir muitas fontes. [2] Em segundo lugar, a solução não é aceita porque não corresponde à abordagem imaginada pelo líder. Graças a Deus, muitos líderes de hoje, como Naamã, têm subordinados dispostos a correr o risco de falar com eles. Não são apenas necessários chefes humildes nas organizações, mas também subordinados corajosos. Curiosamente, a pessoa que põe todo o episódio em movimento é a pessoa de status mais baixo de todas, uma garota estrangeira que Naamã havia capturado em um ataque e dado à sua esposa como escrava (2Rs 5.13). Este é um lembrete maravilhoso de como a arrogância e as expectativas erradas podem bloquear o discernimento, mas a sabedoria de Deus continua tentando avançar de qualquer maneira.

Eliseu restaura o machado de um lenhador (2Reis 6.1-7)

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Cortando lenha ao longo da margem do rio Jordão, um dos profetas companheiros de Eliseu perde a cabeça de um machado de ferro no rio. Ele havia emprestado o machado de um lenhador. O preço de um item de ferro tão substancial na idade do bronze significaria ruína financeira para o proprietário, e o profeta que o tomou emprestado está perturbado. Eliseu encara a perda econômica como uma questão de preocupação imediata e pessoal e faz com que o ferro flutue na superfície da água, onde pode ser recuperado e devolvido ao seu dono. Mais uma vez, Eliseu intervém para permitir que alguém trabalhe para viver.

O dom de um profeta é discernir os objetivos de Deus na vida cotidiana, bem como trabalhar e agir de acordo. Deus chama os profetas para restaurar a boa criação de Deus, em meio a um mundo caído, de maneiras que apontem para o poder e a glória de Deus. O aspecto teológico do trabalho de um profeta — chamar as pessoas para adorar o Deus verdadeiro — é inevitavelmente acompanhado por um aspecto prático, que restaura o bom funcionamento da ordem criada. O Novo Testamento nos diz que alguns cristãos também são chamados a ser profetas (1Co 12.28; Ef 4.11). Eliseu não é apenas uma figura histórica que demonstra a preocupação de Deus com a obra de seu povo, mas um modelo para os cristãos de hoje.

A marcha do reino do sul em direção ao exílio (1Reis 11.41—2Reis 25.26; 2Crônicas 16—36)

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Seguindo os passos do reino do norte, os governantes do reino do sul logo começaram a cair em idolatria e maldade. Sob o governo de Roboão, eles “construíram para si altares idólatras, colunas sagradas e postes sagrados sobre todos os montes e debaixo de todas as árvores frondosas. Havia no país até prostitutos cultuais; o povo se envolvia em todas as práticas detestáveis das nações” (1Rs 14.23-24). Os sucessores de Roboão oscilaram entre fidelidade e pecado diante de Deus. Por um tempo, Judá teve reis bons o suficiente para evitar o desastre, mas, nos anos finais, o reino caiu para o mesmo estado em que o reino do norte estava. A nação foi conquistada e os reis e as elites foram capturados e deportados pelos babilônios (2Rs 24—25). A falta de fé dos reis que o próprio povo havia exigido centenas de anos antes, contrariando o conselho de Deus, culminou em um colapso financeiro, na destruição da força de trabalho, na fome e no assassinato em massa ou na deportação de grande parte da população. O desastre previsto dura setenta anos, até que o rei Ciro, da Pérsia, autoriza o retorno de alguns judeus para reconstruir o templo e os muros de Jerusalém (2Cr 36.22-23).

Responsabilidade financeira no templo (2Reis 12.1-12)

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Um exemplo da degeneração do reino serve, ironicamente, para trazer à luz um modelo de boas práticas financeiras. Como praticamente todos os líderes do reino, os sacerdotes se tornaram corruptos. Em vez de usar as doações dos fiéis para a manutenção do templo, eles desviavam o dinheiro e o dividiam entre si. Sob a direção de Joás, um dos poucos reis que faziam “o que o Senhor aprova” (2Rs 12.2), os sacerdotes elaboraram um sistema contábil eficaz. Uma caixa com um pequeno orifício na tampa foi instalada no templo para receber as doações. Quando ela ficava cheia, o sumo sacerdote e o secretário do rei abriam a caixa juntos, contavam o dinheiro e contratavam carpinteiros, construtores e pedreiros para fazer os reparos. Isso garantia que o dinheiro fosse usado para seus propósitos adequados.

O mesmo sistema ainda está em uso hoje, por exemplo, quando é contado o dinheiro depositado em caixas eletrônicos. O princípio de que mesmo indivíduos confiáveis ​​devem estar sujeitos a verificação e prestação de contas é a base da boa gestão. Sempre que uma pessoa no poder — especialmente no poder de lidar com as finanças — tenta evitar a verificação, a organização está em perigo. Como Reis inclui esse episódio, sabemos que Deus valoriza o trabalho de caixas de banco, contadores, auditores, reguladores bancários, motoristas de carros blindados, trabalhadores de segurança digital e outros que protegem a integridade das finanças. Também exorta todos os tipos de líderes a exercerem a liderança sendo um exemplo pessoal de responsabilidade pública, convidando outras pessoas a verificar seu trabalho.

Arrogância e o fim dos reinos (2Crônicas 26)

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Como é que rei após rei puderam cair tão facilmente no mal? A história de Uzias pode nos dar algumas dicas. Ele assume o trono aos dezesseis anos e, a princípio, “fez o que o Senhor aprova” (2Cr 26.4). Sua pouca idade prova ser uma vantagem, pois ele reconhece sua necessidade da orientação de Deus. Ele “buscou a Deus durante a vida de Zacarias, que o instruiu no temor de Deus. Enquanto buscou o Senhor, Deus o fez prosperar” (2Cr 26.5).

Curiosamente, muito do sucesso que o Senhor concede a Uzias está relacionado ao trabalho comum. “Construiu torres no deserto e cavou muitas cisternas, pois ele possuía muitos rebanhos na Sefelá e na planície. Ele mantinha trabalhadores em seus campos e em suas vinhas, nas colinas e nas terras férteis, pois gostava da agricultura” (2Cr 26.10). “Em Jerusalém construiu máquinas projetadas por peritos” (2Cr 26.15a).

“Ele foi extraordinariamente ajudado”, diz-nos a Escritura, “e assim tornou-se muito poderoso” (2Cr 26.15b). Então, sua força se torna sua ruína, porque ele passa a servir a si mesmo em vez de servir ao Senhor. “Depois que Uzias se tornou poderoso, o seu orgulho provocou a sua queda. Ele foi infiel ao Senhor, o seu Deus” (2Cr 26.16). Ele tenta usurpar a autoridade religiosa dos sacerdotes, levando a uma revolta no palácio que lhe custa o trono e o transforma num excluído pelo resto de sua vida.

A história de Uzias é preocupante para as pessoas que ocupam posições de liderança hoje. O caráter que leva ao sucesso — especialmente nossa confiança em Deus — é facilmente corroído pelos poderes e privilégios que o sucesso traz. Quantos líderes empresariais, militares e políticos passaram a acreditar que são invencíveis e, assim, perdem a humildade, a disciplina e a atitude de serviço necessárias para permanecerem bem-sucedidos? Quantos de nós, em qualquer nível de sucesso, prestamos mais atenção a nós mesmos e menos a Deus, à medida que nosso poder aumenta, mesmo que modestamente? Uzias até teve o benefício de subordinados que se opunham a ele quando ele errava, embora os ignorasse (2Cr 26.18). O que ou quem você precisa para impedir que se afaste do orgulho e se afaste de Deus, caso seu sucesso aumente?

O desprezo de Ezequias pela próxima geração (2Reis 20)

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O rei Ezequias, de Judá, apresenta outro exemplo da arrogância dos reis. A passagem começa com Ezequias com uma doença mortal. Ele implora a Deus que se recupere, e Deus, pela palavra do profeta Isaías, concede a ele mais quinze anos de vida. Enquanto isso, o vizinho rei da Babilônia ouve falar da doença de Ezequias e envia mensageiros para espionar se a situação em Israel é propícia para a conquista. Quando eles chegam, Ezequias está totalmente recuperado. Talvez a recuperação milagrosa tenha feito que ele se sentisse invencível, porque, em vez de provar sua saúde e despachar rapidamente os espiões, ele decide mostrar a eles as riquezas de seu tesouro. Isso torna Israel um alvo mais tentador do que nunca.

Deus responde a essa ação tola enviando Isaías para profetizar um pouco mais.

Então Isaías disse a Ezequias: “Ouça a palavra do Senhor: ‘Um dia, tudo o que se encontra em seu palácio, bem como tudo o que os seus antepassados acumularam até hoje, será levado para a Babilônia. Nada restará’, diz o Senhor. ‘Alguns dos seus próprios descendentes serão levados, e eles se tornarão eunucos no palácio do rei da Babilônia’”. (2Rs 20.16-18)

Essa passagem pode nos lembrar sobre nosso próprio trabalho. Em tempos de grande sucesso, é fácil ficar orgulhoso e imprudente. Isso pode levar a uma grande destruição, se esquecermos que dependemos da graça de Deus para nosso sucesso.

Ezequias combina seu primeiro erro com um segundo. Isaías acaba de profetizar que, depois que Ezequias se for, seus filhos serão capturados e mutilados, e o reino será destruído. Em vez de se arrepender e implorar a Deus novamente para salvar seu povo, ele não faz nada.

Respondeu Ezequias ao profeta: “Boa é a palavra do Senhor que anunciaste”, pois ele entendeu que durante sua vida haveria paz e segurança. (2Rs 20.19)

Parece que o rei está pensando apenas em si mesmo. Como essa destruição não virá durante sua vida, Ezequias não se importa com isso.

Este episódio nos desafia a pensar em como nossas ações afetam a próxima geração, em vez de pensar apenas em nossa própria vida. Marion Wade, fundador da ServiceMaster, concentrou-se em construir uma empresa duradoura, em vez de garantir seu próprio sucesso. Ele disse,

Eu não estava pedindo sucesso pessoal como indivíduo ou sucesso meramente material como corporação. Não comparo esse tipo de sucesso com o cristianismo. Tudo o que Deus quer é o que eu quero. Mas tentei construir um negócio que durasse mais do que eu no mercado, que testemunhasse sobre Jesus Cristo na maneira como o negócio era conduzido. [1]

Lewis D. Solomon observou que Wade conseguiu estabelecer uma cultura de liderança dirigida por Deus que durou muito depois de seu mandato. Durante esse longo período, a empresa foi altamente bem-sucedida. Com o tempo, no entanto, o controle passou para um CEO que adotou uma abordagem de liderança menos abertamente centrada em Deus, e o desempenho da empresa diminuiu.

A ServiceMaster, uma bem-sucedida corporação de capital aberto, listada entre as 500 maiores pela revista Fortune, cresceu de raízes humildes, liderada primeiro por um líder pregador-administrador e, depois, por uma sucessão de CEOs, que combinaram estilos de liderança pregador-administrador-servo. Mais recentemente, essa empresa em transição, agora liderada por um CEO não evangélico, segue uma abordagem inclusiva e não sectária. Coincidentemente com essa transição, as dificuldades legais da empresa aumentaram e seus resultados financeiros estagnaram. [2]

Autossuficiência no lugar da orientação de Deus (2Crônicas 16—20)

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Mesmo com o declínio da força do reino, os reis continuam convencidos de que estão no controle de sua situação. Confiantes em suas próprias habilidades e confiando em conselheiros humanos, muitas vezes deixam de pedir a orientação de Deus, geralmente com resultados desastrosos.

Em um caso, o rei Acabe, de Israel, está prestes a entrar em batalha. O rei Josafá de Judá o lembra: “Peço-te que busques primeiro o conselho do Senhor” (2Cr 18.4). Acabe consulta os profetas da corte, mas Josafá pergunta se há um profeta genuíno de Deus disponível. Acabe responde: “Ainda há um homem por meio de quem podemos consultar o Senhor, porém eu o odeio, porque nunca profetiza coisas boas a meu respeito, mas sempre coisas ruins. É Micaías, filho de Inlá” (2Cr 18.7). Acabe não quer conselhos do Senhor porque estes não se alinham com suas intenções. Por fim, ele consulta Micaías, que de fato prediz o desastre na batalha; por causa dessa palavra, Acabe o prende e o deixo passar fome (2Cr 18.18-27). Acabe prossegue para a batalha e é morto (2Cr 19.33-34).

Da mesma forma, o rei Asa decide formar uma aliança com o rei da Síria, em vez de confiar na proteção de Deus. Depois disso, ele é desafiado por um vidente que lhe diz: “Por você ter pedido ajuda ao rei da Síria e não ao Senhor, ao seu Deus, o exército do rei da Síria escapou de suas mãos” (2Cr 16.7). Da mesma forma, quando Asa é atingido por uma grave doença nos pés, ele não busca a ajuda do Senhor, mas apenas de médicos (2Cr 16.12), levando à sua morte prematura.

Depois disso, o rei Josafá se lembra de depender da orientação de Deus. Ele instrui seus juízes: “Considerem atentamente aquilo que fazem, pois vocês não estão julgando para o homem, mas para o Senhor, que estará com vocês sempre que derem um veredicto. Agora, que o temor do Senhor esteja sobre vocês. Julguem com cuidado, pois o Senhor, o nosso Deus, não tolera nem injustiça nem parcialidade nem suborno”. (2Cr 19.6-7). Mesmo assim, quando o próprio Josafá enfrenta um vasto exército inimigo em batalha, o profeta Jaaziel precisa lembrá-lo: “Não tenham medo nem fiquem desanimados por causa desse exército enorme. Pois a batalha não é de vocês, mas de Deus” (2Cr 20.15).

Os tipos de trabalho nessas passagens — estratégia militar, medicina e sistema legal — exigem habilidade humana. No entanto, habilidade não é suficiente: a percepção de Deus também é necessária. A maioria dos tipos de trabalho moderno também exige habilidade, e podemos sentir que nossa percepção e treinamento são maiores do que nos tempos antigos. Podemos até pensar que não precisamos — ou não queremos — a orientação de Deus, então confiamos em nossas próprias forças. Deus nos presenteou com sabedoria e discernimento, mas ele quer que busquemos sua face, mesmo que pensemos ter todas as habilidades de que precisamos. Na verdade, as habilidades e o poder modernos tornam maior — não menor — nossa necessidade de confiar em Deus, porque nossa capacidade de causar danos na ausência da orientação de Deus é maior agora do que nunca. Deus nos dá talentos e habilidades por um motivo, e precisamos usá-los em consulta com ele.

A falha de Roboão em distinguir bons conselhos dos maus (2Crônicas 10.1-19)

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Um exemplo do fracasso da liderança de Israel ocorre quando o rei Roboão precisa de conselhos sobre um assunto difícil. Jeroboão e todo o Israel pedem que ele alivie o fardo do trabalho forçado que seu pai, o rei Salomão, havia imposto sobre eles (2Cr 8.8). Em troca, eles prometem a ele que o serviriam (2Cr 10.5). Roboão começa sabiamente ouvindo os anciãos de seu reino, que o aconselham a reduzir o fardo, tal como o povo pede. “Se hoje fores bom para esse povo, se o agradares e lhe deres resposta favorável, eles sempre serão teus servos” (2Cr 10.7). Roboão, aparentemente, não gostou dessa resposta. Então, ele pede a opinião de seus amigos mais jovens. Eles o aconselham a dominar o povo e se gabar: “Meu dedo mínimo é mais grosso do que a cintura do meu pai. Pois bem, meu pai lhes impôs um jugo pesado; eu o tornarei ainda mais pesado. Meu pai os castigou com simples chicotes; eu os castigarei com chicotes pontiagudos” (2Cr 10.10-11). Roboão decide seguir o conselho de seus amigos mais jovens, aparentemente porque isso acaricia seu ego. Ele responde a Jeroboão e ao povo, como sugerem seus jovens amigos, e depois nomeia um novo capataz sobre o trabalho forçado (2Cr 10.18). O povo responde matando o enviado do rei e rebelando-se contra Roboão, que nunca consegue reprimir a rebelião (2Cr 10.19).

Decisões difíceis também fazem parte da liderança hoje, estejamos liderando um reino inteiro ou simplesmente a nós mesmos. Onde você procura conselhos e como faz bom uso dos conselhos? Roboão começou pedindo conselhos a pessoas que ele reconhece como espiritualmente maduras. A idade em si não torna alguém sábio, nem as pessoas devotas são necessariamente mais sábias do que os não crentes. Mas os anciãos que ele consulta demonstraram maturidade espiritual e sabedoria ao longo de muitos anos servindo ao rei Salomão. Um sinal disso é sua capacidade de resposta a novos fatos e situações. Embora tenham sido nomeados por Salomão, eles ouvem Jeroboão com a mente aberta, resultando em seu conselho para derrubar as políticas de Salomão. Em contraste, os amigos mais jovens de Roboão parecem ter apenas uma maneira de chamar sua atenção — eles são seus amigos. É fácil pedir conselhos a pessoas que já pensam como você. Mas você tem acesso a pessoas que são espiritualmente maduras, que podem ouvir com a mente aberta, que não têm medo de lhe dizer algo que você preferiria não ouvir?

Quando nos deparamos com uma decisão difícil, buscar conselho, como Roboão fez, é um grande primeiro passo. O próximo passo é discernir qual conselho aplica a Bíblia corretamente à sua situação e qual conselho apenas confirma suas próprias ideias. Encontrar a diferença requer que você analise cuidadosamente os conselhos, comparando-os com a palavra de Deus e perguntando se eles promoveriam um bem maior. Na situação de Roboão, o bom conselho teria exigido que ele exercesse paciência, bondade, generosidade, mansidão e domínio próprio. Esses são cinco dos nove aspectos do “fruto do Espírito” listados em Gálatas 5.22. Essas não são apenas virtudes que alguém pode obter pela prática e trabalho árduo, mas são dons do Espírito de Deus (Gl 5.25). Se Roboão estivesse disposto a receber o Espírito de Deus, esse bom conselho teria levado à paz para toda a nação (2Cr 10.7). Em contraste, o mau conselho tentou Roboão para que cedesse à própria inveja, à arrogância, à presunção e à maldade, gratificando seu próprio ego. Essas são quatro das coisas que não devem ser praticadas, como se vê em Romanos 1.29-31. Não é coincidência que bons conselhos muitas vezes exijam que você cresça espiritualmente, enquanto maus conselhos levam você a cair em tentação. O melhor conselheiro geralmente é alguém que pode ajudá-lo a entender e aplicar a palavra de Deus e incentivá-lo a tomar sua própria decisão de crescer no Espírito de Deus.