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Trabalhando debaixo do sol (Ec 1.1-11)

Comentário Bíblico / Produzido por Projeto Teologia do Trabalho
Working under the sun eccl 1 1 11

O trabalho é a atividade principal explorada em Eclesiastes. É chamado de “trabalho em que se esforça” (Hebr. amal), indicando as dificuldades do trabalho. O tópico é apresentado no início do livro, em Eclesiastes 1.3: “O que o homem ganha com todo o seu trabalho em que tanto se esforça debaixo do sol?” A avaliação que o Mestre faz de todo esforço é que é “inútil” (Ec 2.1), “sem sentido” (cf. NVT) ou “vaidade” (cf. NAA). Em hebraico, esta palavra é hebel e domina Eclesiastes. A palavra hebel, na verdade, significa “respiração”, mas daí passa a se referir a algo que é insubstancial, passageiro e sem valor permanente. Ela é mais que adequada para ser a palavra-chave deste livro, porque uma respiração é, por natureza, breve, de pouca substância discernível e se dissipa rapidamente. No entanto, nossa sobrevivência depende dessas breves inalações e exalações de sopros de ar. Em breve, porém, a respiração cessará e a vida terminará. A palavra hebel, da mesma forma, descreve algo de valor passageiro que logo chegará ao fim. Em certo sentido, “vaidade” é uma tradução enganosa, pois parece afirmar que tudo é totalmente inútil. Mas o verdadeiro ponto de hebel é algo que tem apenas um valor passageiro e efêmero. Uma única respiração pode não ter valor permanente, mas, em seu único momento, ela nos mantém vivos. Da mesma forma, o que somos e fazemos nesta vida transitória tem um significado real, embora temporário.

Considere o trabalho de construir um navio. Pela boa criação de Deus, a terra contém as matérias-primas de que precisamos para construir navios. A engenhosidade humana e o trabalho árduo — também criados por Deus — podem criar navios seguros, eficazes e até belos. Eles se juntam à frota e transportam alimentos, recursos, produtos manufaturados e pessoas para onde são necessários. Quando um navio é lançado e a garrafa de champanhe é quebrada na proa, todos os envolvidos podem celebrar sua conquista. No entanto, uma vez que sai do pátio, os construtores não têm mais controle sobre ele. O navio pode ser capitaneado por um tolo que o deixa encalhar nos bancos de areia. Pode ser fretado para contrabandear drogas, armas ou até mesmo escravos. Sua tripulação pode ser tratada com severidade. Ele pode servir nobremente por muitos anos, mas mesmo assim se desgastará e se tornará obsoleto. É quase certo que seu destino final será um estaleiro de desmanche de navios, provavelmente localizado em um país onde a segurança dos trabalhadores e a poluição ambiental são tratadas com descaso. Os navios passam, como as rajadas de vento que antes os moviam. Primeiro ele se torna uma carcaça enferrujada, depois uma mistura de metal reciclado e lixo descartado e, finalmente, sai do conhecimento humano. Os navios são bons, mas não duram para sempre. Enquanto vivermos, devemos trabalhar nessa tensão.

Isso nos leva à imagem do sol correndo ao redor da terra, que discutimos na introdução (Ec 1.5). A atividade incessante desse grande objeto no céu traz a luz e o calor dos quais dependemos todos os dias, mas não muda nada com o passar dos tempos. “Não há nada novo debaixo do sol” (Ec 1.9). Essa é uma observação nada sentimental, embora não uma condenação eterna, sobre nosso trabalho.